A Serra está entre as cidades brasileiras beneficiadas com recursos do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), conhecido como Banco dos BRICS. Desde sua criação, em 2014, a instituição já aprovou US$ 6,3 bilhões em financiamentos para 29 projetos no Brasil. Um deles é o crédito de US$ 57,6 milhões — cerca de R$ 320 milhões — destinado a obras no município, incluindo a construção de uma nova estrada que ligará a Serra a Vitória, com o objetivo de reduzir o tempo de deslocamento entre as duas cidades.
O recurso, já aprovado pelo banco, aguarda o cumprimento das etapas finais para ser liberado, como a desapropriação das áreas necessárias e o início do processo licitatório, previsto para ocorrer ainda este ano. Trata-se da primeira aprovação de crédito externo da história administrativa da Serra, resultado de um longo trâmite burocrático.
36 mil viagens por dia entre Serra e Vitória
Do valor total, cerca de R$ 240 milhões serão aplicados na construção da nova estrada entre Serra e Vitória, que contornará o Complexo de Tubarão, saindo de Novo Horizonte e chegando à avenida Dante Michelini, em Vitória. A via será uma terceira alternativa para os motoristas que hoje utilizam a Rodovia das Paneleiras (via BR-101) e a Avenida Norte-Sul.
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O projeto da Prefeitura da Serra — que passou pelo crivo do banco e do Senado Federal — foi embasado em dados da última pesquisa de origem-destino realizada em 2021, a qual identificou que mais de 36 mil viagens diárias ocorrem entre Serra e Vitória, representando 73% de todas as viagens entre a Serra e os municípios vizinhos.
O município argumenta que, além de já ser o mais populoso do Estado, continua a crescer, o que se reflete diretamente no aumento do tráfego de veículos. “Entre 2009 e 2022, a frota de veículos da Serra mais que dobrou, passando de 110.228 para 240.173”, informou.
15 mil veículos devem usar nova via
Uma das variáveis utilizadas para calcular os benefícios econômicos e sociais da nova ligação viária é o Volume Diário Médio (VDM), que estima a quantidade de veículos que circulariam pela região de influência do projeto. Segundo estudo de origem-destino realizado pela Prefeitura em 2021 e projetado para 2023, a expectativa é de que cerca de 14.912 veículos trafeguem diariamente pelo novo trecho, resultando nas 36 mil viagens diárias estimadas.
O levantamento também detalha os tipos de veículos que compõem esse fluxo. Do total, 2.199 são motos; 4.870 são carros de passeio; 1.780 são veículos de entrega; 670 são caminhonetes; 904 são caminhões médios; 1.479 são caminhões pesados; 1.204 são caminhões articulados; 816 são micro-ônibus; e 990 são ônibus. Esses números foram projetados com base em uma taxa de crescimento anual de 0,21% sobre os dados coletados em 2021.
A obra será executada em duas fases:
Fase 1:
- 2,5 km de via simples com três faixas (3,5 m cada);
- 2,5 km de reabilitação de pavimento em via simples com três faixas;
- 100 metros de viaduto de via dupla com cinco faixas;
- 5 km de calçada (2,5 m de largura);
- 2,5 km de ciclovia (3,0 m de largura);
- 5 km de sistema de drenagem.
Fase 2:
- 1,6 km de via dupla com quatro faixas (3,5 m cada);
- 3,2 km de calçada (2,5 m de largura);
- 1,6 km de ciclovia (3,0 m de largura);
- 3,2 km de sistema de drenagem.
Velocidade média deve subir 60%
A expectativa é que os impactos da obra comecem a ser sentidos a partir de 2029, com dois principais resultados esperados: a redução de acidentes em 30% nos trechos da BR-101 e da Avenida Norte-Sul no distrito de Carapina; e o aumento de 60% na velocidade média das viagens entre Serra e Vitória, o que gerará economia de tempo para os passageiros.
É importante explicar que esse aumento de 60% na velocidade média não significa que o tempo de deslocamento será reduzido na mesma proporção. Segundo a Prefeitura, a velocidade média atual no trajeto é de 25 km/h. Com o novo trecho, essa média deve subir para 40 km/h. Em um percurso de 25 km, por exemplo, o tempo de viagem cairia de 1 hora para cerca de 37 minutos — uma redução aproximada de 37,5% no tempo gasto.
Escolha do Banco dos BRICS
A Prefeitura da Serra argumenta que o Novo Banco de Desenvolvimento foi a opção mais vantajosa para financiar a nova ligação viária, considerando que os custos de financiamento junto a bancos multilaterais são menores que os praticados por instituições financeiras brasileiras.
Embora o trâmite com bancos nacionais seja mais ágil, as taxas de juros são significativamente mais altas. Um comparativo entre o NDB e bancos como BRB e Caixa Econômica Federal mostra que o NDB oferece condições mais favoráveis, com carência de 71 meses, amortização em 144 meses e encargos mais baixos — como taxa de administração de 0,25% e comissão de compromisso também de 0,25% ao ano. Já os bancos nacionais apresentam taxas superiores e prazos de pagamento menores.
Além disso, o NDB também se mostrou mais competitivo em comparação a instituições financeiras multilaterais como o Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD) e a Corporação Andina de Fomento (CAF), tanto em termos de encargos quanto de prazos, o que reforçou a decisão da Prefeitura de firmar a parceria com o banco dos BRICS.

