Morte de adolescentes na Serra: facção aproveitou ‘janela de oportunidade’, diz delegado

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Elton dos Santos, 20 anos, e Nicolas Venâncio, 18 anos. (Esq. para direita). Foto: divulgação

Os dois adolescentes de 14 e 15 anos executados no dia 23 de julho, em Laranjeiras, na Serra, foram mortos após serem surpreendidos por criminosos enquanto passavam a tarde em uma área de lazer com as namoradas e duas crianças. O delegado adjunto da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) da Serra, Paulo Ricardo, detalhou a dinâmica do crime e como os autores identificaram “uma oportunidade perfeita” no momento em que as vítimas estavam em um momento de lazer.

Segundo o delegado, os adolescentes tinham envolvimento com o tráfico de drogas no bairro e atuavam em uma área dominada pelo Primeiro Comando de Vitória (PCV) e rival direto do Terceiro Comando Puro (TCP) — facções que ainda travam, uma disputa sangrenta entre a Rua 15 e a Rua São Paulo, no bairro Das Laranjeiras. “Eles foram surpreendidos no momento de descontração. Estavam com as namoradas, de 13 e 14 anos, e com duas crianças, de 10 e 6 anos. Haviam chegado por volta de 12h, comeram algo e se preparavam para entrar na piscina quando foram abordados pelos autores”, afirmou.

Os autores do crime foram identificados como Welton dos Santos, de 20 anos, conhecido como “Riquinho”, e Nicolas Venâncio, de 18, o “Gradinha”. Os dois chegaram ao clube para interrogar as vítimas sobre um homicídio anterior que vitimou um membro da facção deles. “Eles queriam informações sobre um assassinato a mando do PCV ocorrido no ano anterior. As vítimas negaram saber quem seriam os autores, e mesmo que soubessem, também não falariam, porque eram ligadas à facção contrária. Diante da negativa, eles foram levados à força e executados. As vítimas estavam totalmente impossibilitadas de reagir”, explicou Paulo Ricardo.

A frieza dos assassinos ficou evidente na extração de dados do celular de Nicolas. Por meio de mensagens, ele descreve o duplo homicídio e ainda chega a relatar que pensou em matar também as testemunhas, as namoradas dos adolescentes, uma delas grávida. “Ele cogitou matar as adolescentes e até mencionou isso em áudio. Só não fez porque foi desencorajado pelo comparsa, que disse que, se matassem cinco pessoas, o cerco policial seria muito maior, pois se caracterizaria como uma chacina”, disse o delegado.

Os criminosos ainda voltaram ao clube após a execução para tentar se livrar de evidências. O proprietário alegou aos policiais que as câmeras não estavam funcionando, mas a análise do celular revelou que os assassinos ordenaram que o sistema fosse apagado.

Para o delegado, a motivação do crime vai além de qualquer desavença pessoal citada pelos autores. “A alegação de ameaça antiga não se sustenta. A motivação real é a guerra de facções. Ele [Nicolas] viu ali uma janela de oportunidade: as vítimas, desarmadas, vulneráveis, sem chance de defesa. Ele próprio diz isso nas mensagens”, relatou.

Prisões

Segundo a investigação, os criminosos fugiram para Nova Venécia, onde ficaram escondidos por cerca de 20 dias, após isso, os assassinos foram seguiram para cidades diferentes. Enquanto Nicolas foi para Aracruz, Elton continuou na Grande Vitória.

Elton foi preso durante uma blitz em Cariacica, após tentar fugir de uma abordagem policial, pois estava sob posse de uma arma de fogo dentro do veículo, no dia 19 de agosto. Já Nicolas foi localizado e detido em casa, em Aracruz, no dia 29 do mesmo mês, após familiares relatarem que ele chegou a admitir sua participação no crime.

Os homens responderam por homicídio qualificado por motivo torpe e sem possibilidade de defesa das vítimas, além de associação ao tráfico. Ambos permanecem detidos preventivamente.

Foto de Guilherme Marques

Guilherme Marques

Guilherme Marques é jornalista e atua como repórter do Portal Tempo Novo.

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