Por Joana Herkenhoff

Professora da Rede Municipal da Serra
Doutora em Letras pela Ufes
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Escritora residente no Centro Cultural Eliziário Rangel
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Abril é o mês do livro, em que se comemoram o Dia Internacional do Livro Infantil (02/04), o Dia Nacional do Livro Infantil (18/04) e o Dia Mundial do Livro (23/04). Em meio às dificuldades que temos vivenciado com o agravamento da pandemia, o livro — em especial os livros de literatura — tem sido companhia, refúgio e alento para seus leitores. Esse contexto reforça ainda mais a necessidade da defesa do acesso ao livro como um direito para todos e não como privilégio dos ricos, conforme afirmado pelo ministro Paulo Guedes, em justificativa ao encaminhamento ao Congresso de proposta de taxação dos livros, que hoje são imunes a impostos por serem considerados bens essenciais, segundo a Constituição Federal.

CUNHA, Léo. Cantigamente. Ilustrações Marilda Castanha. Rio de janeiro: Ediouro, 1998.
A pesquisa Retratos da Leitura no Brasil (2020) mostra exatamente o contrário do argumento falacioso do ministro ao indicar que a parcela mais pobre da população mantém índices constantes quanto a hábito de leitura de livros, enquanto os números de leitura das classes A e B estão em queda.
Nesse mesmo sentido, o professor e sociólogo Antonio Candido defendeu que, para pensarmos o que são direitos humanos, é preciso partir do pressuposto de que aquilo que é indispensável para mim e, portanto, um direito, também é um direito para o próximo. Para esse autor, a literatura, é um direito fundamental, assim como saúde, alimentação, moradia, pois como “sonho acordado da humanidade”, ela possibilita o exercício da imaginação, a restauração do nosso equilíbrio, inclusive psíquico, nos tornando mais humanos e sensíveis ao outro. Assim, literatura é um direito e livro não é privilégio.
Os livros de literatura infantil são muito importantes na alfabetização e na formação do leitor para a vida toda.
Com a “revolução digital” (Chartier), provocada pelo incremento do uso das tecnologias de informação, radicalizado na atualidade pelo uso massivo dos smartphones, pela proliferação de aplicativos e redes sociais, as práticas de leitura e escrita se tornaram mais presentes na vida das pessoas de um modo geral, podendo gerar certa ilusão de autoria e participação na cultura escrita. Entretanto, sabemos que essas práticas de leitura não substituem os livros, principalmente os livros de literatura infantil e juvenil, pois estes propiciam uma experiência singular de leitura, sendo muito importantes na alfabetização e na formação do leitor para a vida toda. Além disso, há muito que avançar para que todos tenham acesso a esses recursos tecnológicos.

No contexto do isolamento social, por meio da mediação dos professores e pais, os livros de literatura infantil e juvenil, podem promover o vínculo das crianças e adolescentes com a escola, assegurando-lhes o direito de continuar aprendendo, além de lhes despertar a imaginação, faculdade tão necessária para alimentar nossa esperança em dias melhores.
Abril seria um ótimo mês para o anúncio de políticas públicas para o fomento de leitura, mas o que faz o governo federal? Planeja ações para tornar o livro ainda mais caro e inacessível a quem mais precisa dele. Portanto, é importante defender o acesso ao livro como direito humano.
Aqui no estado temos uma produção antenada com as novas tendências do gênero, com livros bem produzidos e ilustrados

Para que todos possam ter assegurado o direito de acesso ao livro, é preciso, políticas para democratizar a produção, circulação e difusão do livro. Para tanto é fundamental valorizar o trabalho dos profissionais da cadeia do livro, especialmente as pequenas editoras, as editoras locais e os autores capixabas. Temos hoje uma produção antenada com as novas tendências do gênero, com livros bem produzidos e ilustrados, com o cuidado estético com a linguagem, abordando temáticas relevantes e significativas para as crianças e adolescentes.
Para concluir nossa conversa de hoje, trago uma paródia (?) do clássico O Reizinho Mandão de Ruth Rocha, em que um garoto mimado e mal-educado é quem governa o lugar.

ROCHA, Ruth. O reizinho mandão. 27. ed. São Paulo: Salamandra, 2013.
Era uma vez um reizinho mandão, que enganou o povo e se elegeu com a promessa de armar as pessoas e assim o fez. Em troca, censurou livros, aumentando seu preço, por considerar que o povo não precisava nem de pão nem de circo, muito menos de livros!
Com o tempo, as pessoas foram ficando cada vez mais intolerantes, pois passaram a acreditar no mito de uma história única e se esqueceram de como era dialogar com pessoas que pensavam diferente e se tornaram violentas.
Como tinham armas e não tinham livros para ler e conhecer outras histórias, as coisas não estavam indo bem. Até que um dia…
O desfecho dessa história está em nossas mãos. Vamos escrever uma história mais bonita para todos nós!
Para Apoiar a causa da leitura e do livro, assine o Abaixo Assinado Defenda o Livro, diga não à Tributação de Livros.
Referências
CANDIDO, Antonio. Vários Escritos. 4. ed. Rio de Janeiro: Ouro sobre Azul. São Paulo: Duas Cidades, 2011.
CHARTIER, Roger. A aventura do livro: do leitor ao navegador. Trad. de Reginaldo Carmello Corrêa de Moraes. São Paulo: Unesp, Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 1999.
Livros de literatura infantil
- ARAÚJO, Gió. Mirandinha, a menina que queria pegar uma estrela. Ilustrações Gió Araújo. Belo Horizonte: Nandyala, 2019.
- CAMPOS, Ítalo. Confetes. Lustrações Lécia Lucas. Vitória: Arte da Cura, 2017.
- FILHO, Ilvan. Uma casinha lá no alto. Ilustrações Ilvan Filho. Vitória/ES: Muqueca editorial.
- MENENGUCI, Lilian. A criança mágica. Ilustrações Rosária Vitória Pequena cousa 2017.
- MIRANDA Marina. Aranã e a cacimba. Ilustrações Cristina Bruno. Vitória, Es: Edição do autor, 2018.
- NUNES, Pedro J. O tapete de Zezé. Ilustrações Frederico Leão. Vitória/ES: Arte da Cura, 2016.
- RIBEIRO, Francisco Aurélio. Clarissa e o beija flor e outras histórias. Ilustrações Thiago Rezende Setúbal. Vitória: Secretaria de Estado de Cultura, 2017.
- SODRÉ, Paulo Roberto. O pássaro de fogo. Reconto. Ilustrações Icléa Santos. Vitória: Cândida, 2020.
- TAETS, Silvana Pinheiro. Amar o amar. Ilustrações Fê. São Paulo: Difusão Cultural do Livro.
Para Ver
Palestra: Tecendo redes de afeto por meio da literatura. (Canal Educa Serra)

