Gosto de amanhecer dia vinte e seis, vendo chegar povo e banda de congo na Igreja matriz. E inevitavelmente viajo nas coisas que sei da história dessa cidade. Igreja, povo e banda de congo são condutores constituintes de todas as transformações testemunhadas pelo majestoso Mestre Álvaro.
A iglésia (como chamavam desde o latim) é âncora da história. Nela estão mentes e mãos, de muitos períodos, manifestações e credos. E que Atravessaram gerações, também geradoras e transmissoras que mantém viva as tradições. E embora não professe fé, dela extraio o ritmo e encadeamento dos fatos que giram ao seu redor, fazendo estabelecer a história da cidade.
No entanto, essa parte da história é mais contempladora da porção branca de nossa miscigenada população.
A outra parte desse enredo é ver entre os veneradores da fé, entre aqueles que peregrinam a santa fé que os confortam: as pessoas do povo, que ocupam os metros quadrados do templo. Ver entre eles os músicos da banda de congo, é deveras encantador. Homens congueiros com seus atabaques, casacas e tambores; e as saias rodadas da porta-estandarte e passistas do passo-do-congo; e seus cânticos de pura exaltação a saudade.
Essa é a outra face dessa mesma cidade. A história negra que ganhou força e expressão sincronizando-se aos feitos europeus nessa terra.
A cidade com suas histórias: a dos primeiros habitantes, de raros registros. A de portugueses que aqui se estabeleceram, organizando a produção, defesa e habitação na vila; e de negros capturados nas aldeias dos confins do continente africano. E que trouxeram junto com o trabalho forçado, sons e ritmos, ainda tão vivos e transcendentes do tempo.
Fazem quatrocentos e sessenta e três anos que Serra é palco e inspiração de seu histórico desenvolvimento dos componentes dessa festa. De fé, religiosidade, arte e da beleza de suas raças.