
A Serra é uma das principais geradoras de mão de obra do Espírito Santo. No entanto, para avançar em termos econômicos e de qualidade de vida, o município precisará atrair mais instituições de ensino superior, ampliando a oferta de profissionais com formação universitária. Essa é uma das constatações do Plano Estratégico de Longo Prazo da Serra, o Plano Serra 44+, elaborado pela consultoria Macroplan.
Segundo o estudo, com base em dados de 2022, apenas 11% dos jovens em idade universitária da Serra estão matriculados em cursos de ensino superior. O índice é considerado baixo, especialmente quando comparado a benchmarks nacionais e de cidades com perfil semelhante, como Joinville (30%), Vila Velha (25%), Espírito Santo (24%) e a Região Metropolitana da Grande Vitória sem Serra (28%).
“Para se manter competitiva, é necessário também haver mais instituições de ensino superior na cidade”, aponta o relatório da Macroplan. A baixa taxa de escolarização superior é vista como um desafio à formação de mão de obra qualificada, o que pode comprometer o desenvolvimento econômico da Serra e dificultar a atração de empresas com maior nível de complexidade tecnológica.
Esse diagnóstico reforça outro ponto estratégico do Plano Serra 44+: a necessidade de diversificação econômica, que passa diretamente pela formação plural e qualificada da força de trabalho. Com a digitalização da economia, o avanço da indústria 4.0 e o crescimento da conectividade, torna-se urgente preparar a cidade para as transformações e demandas do novo cenário produtivo.
O estudo traz ainda o relato de uma das entrevistas qualitativas realizadas: “A cidade de Serra tem mais vagas de emprego do que trabalhadores qualificados para preenchê-las […] Embora haja muitas oportunidades de trabalho e um potencial de crescimento profissional na região, infelizmente a mão de obra ainda precisa de mais qualificação.”
Esse é um tema que deve ser trabalhado internamente pela Prefeitura da Serra, uma vez que integra o Planejamento Estratégico da cidade, que servirá de base para a formulação de políticas públicas e elaboração de peças orçamentárias, como a LOA (Lei Orçamentária Anual), LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias) e PPA (Plano Plurianual).
Na prática o estudo traz dados sobre algo que de maneira geral já é sabido. Historicamente falando a Serra foi uma cidade urbana projetada habitacionbalmente para abrigar trabalhadores de baixa remuneração já que a fartura de terrenos e o baixo preço agregado permitiu com que o grandes projetos habitacionais fossem concretizados, permitindo com que Vitória continuasse mantendo o alto padrão de moradia. Esse cenário passa diretamente pela relação de escolaridade, já que – no geral – a mão de obra barata é também a menos remunerada.
Com o amadurecimento da urbanidade da Serra, a Macroplan alerta para a necessidade de elevar o perfil de escolaridade no município, aproximando-o dos chamados benchmarks — que, na prática, são referências comparativas. A recomendação reforça a importância de um olhar integrado entre educação e o futuro socioeconômico da cidade, especialmente em um mundo cada vez mais digital e automatizado.
A tendência, diante do prognóstico apresentado, é que a Serra desenvolva ações estratégicas e ferramentas para atrair cursos de ensino superior, tanto na esfera privada quanto pública — com articulações em nível municipal, estadual e federal.
Além de atrair instituições de ensino superior, a Serra deve investir em projetos que garantam o acesso da população a cursos alinhados com as vocações econômicas do município. Um bom exemplo de como é possível avançar nesse sentido vem do próprio Espírito Santo, que tem implementado políticas de inclusão educacional, como o Programa Nossa Bolsa, criado pelo Governo do Estado.
A iniciativa visa promover a inclusão por meio da concessão de bolsas de estudo para estudantes que desejam cursar a graduação em instituições privadas, mas que não têm condições financeiras para isso. O programa foi ampliado para beneficiar também alunos da rede pública com bolsas de iniciação científica e de mestrado, e a expectativa é de que continue se expandindo nos próximos anos.
Mão de obra técnica
Se o estudo aponta que a ausência de mão de obra com formação superior é um entrave ao desenvolvimento da Serra, por outro lado, também revela o potencial do município na formação técnica, já que a cidade apresenta a maior taxa de matrículas no Ensino Médio técnico em todo o Estado.
Segundo dados do Censo Escolar, o percentual de matrículas no Ensino Técnico-Profissional subiu de 16% em 2012 para 34% em 2022 — mais que o dobro. Esse desempenho coloca a Serra muito à frente de municípios como Vila Velha (8%), Contagem (5%) e Joinville (9%), destacando o avanço da formação técnica entre os jovens serranos.