
Uma empresa de Minas Gerais, a 2D Real Estate, está sondando a cidade da Serra para desenvolver um projeto imobiliário de grande porte e, em última análise, faraônico. Ainda em fase conceitual, o empreendimento já movimenta os bastidores: a coluna apurou que houve um primeiro contato institucional com a Prefeitura da Serra e com o Governo do Estado para apresentar ideias preliminares, que incluem a construção de um World Trade Center (WTC) e de um espaço inspirado no Central Park, compondo um amplo projeto de urbanização com investimento estimado em cerca de R$ 1 bilhão.
Segundo informações levantadas até o momento, a região que melhor reúne características para abrigar um investimento dessa magnitude seriam as imediações do Alphaville, no extremo sul da Serra. Inclusive, já estariam em andamento negociações com a família Larica, proprietária de milhões de metros quadrados na cidade. Entre essas áreas está a Fazenda Jacuhy, próxima à Rodovia do Contorno de Vitória, onde parte já foi usada, em parceria com a Alphaville Urbanismo, para implantação do atual complexo de condomínios. A área em negociação seria provavelmente o restante da fazenda — uma extensão imensa, que se espalha pelos dois lados da rodovia.
De acordo com setores da Prefeitura, estima-se que a família Larica detenha cerca de 30 milhões de metros quadrados na Serra, embora o número possa ser ainda maior, já que parte das terras estaria registrada em nomes de empresas e terceiros. Durante anos, membros da família tentaram comercializar essas áreas, gerando diversas especulações. Parte expressiva desses terrenos está em áreas de proteção ambiental ou regiões alagadiças próximas ao Mestre Álvaro, onde, na época agrícola da Serra, predominavam plantações de arroz.
Na prática, o projeto criaria um novo bairro, formando um centro urbano integrado ao Alphaville, com fácil acesso a Cariacica, Vila Velha e Vitória.
A 2D Real Estate tem experiência no setor e é responsável pelo Bairro Jardins, em Ribeirão das Neves (MG), lançado em 2021 com quase 900 lotes. O bairro foi projetado para transformar a realidade urbanística de uma cidade historicamente marcada pelo crescimento desordenado e pela carência de infraestrutura, cenário que guarda semelhanças com a formação urbana da Serra.
O Bairro Jardins foi planejado para oferecer um espaço urbano organizado, qualidade de vida e valorização imobiliária em uma cidade que tradicionalmente apresentava valorização imobiliária abaixo da capital mineira. O contexto se aproxima da realidade capixaba, já que Vitória enfrenta limitações de expansão e tem o metro quadrado mais caro do Espírito Santo, tornando a Serra estratégica para novos empreendimentos.
O projeto incluiria também um prédio comercial com o selo World Trade Center. A marca pertence à World Trade Centers Association (WTCA), organização fundada em 1970 que licencia o nome para projetos imobiliários no mundo todo. Para utilizar a marca, os desenvolvedores precisam cumprir padrões mínimos de operação, compromisso com o comércio internacional e integração à rede global de mais de 300 WTCs em cerca de 90 países. Além do prestígio, os associados têm acesso a eventos, serviços e uma ampla rede de negócios. No Brasil, há WTCs em São Paulo, Curitiba, Joinville, Belo Horizonte, Recife e Fortaleza.
Outra proposta em análise é a retomada do antigo projeto de uma marina. Nos fundos da região do Alphaville passa o rio Santa Maria da Vitória, que se conecta ao estuário do Lameirão e desemboca no canal da Passagem, em Vitória, ou na Baía de Vitória, próximo à Vila Velha. Isso permitiria uma ligação fluvial entre a Serra, a capital e Vila Velha, criando um novo modal de transporte.
Vale lembrar que esse projeto de marina é antigo e, no passado, não avançou devido a questões ambientais. Além disso, o rio Santa Maria da Vitória é usado para abastecimento humano, exigindo maior cuidado e fiscalização. Outro ponto que precisará ser avaliado é a capacidade do rio para suportar embarcações de médio porte. No século 19, há registros de embarcações de até 9 toneladas navegando rumo ao Porto de Vitória, mas hoje a situação é crítica, com o volume de água frequentemente no limite para captação na estação da Cesan, localizada a poucos quilômetros acima. Esse é um ponto importante para entender se a retomada desse projeto de marina seria com olhar em mobilidade urbana ou apenas para uso individual. De qualquer forma são questões que, certamente, precisarão ser analisadas futuramente.
O projeto, ao que tudo indica, está alinhado com o interesse público, já que o equilíbrio do perfil socioeconômico da população da Serra é visto como estratégico. Isso porque tende a promover o aumento da arrecadação pública, impulsionado pelo alto potencial de consumo de um público com maior poder aquisitivo, o que também deve atrair novos negócios e serviços associados à demanda. A Serra já vem passando por mudanças nesse sentido guinado especialmente pelo setor habitacional. Um exemplo é que, após décadas, um bairro fora do circuito das ocupações irregulares passou a ser o mais populoso do município, segundo o Censo Demográfico de 2022: Colina de Laranjeiras. Até então, essa posição era ocupada por Feu Rosa, um loteamento que se expandiu por meio de ocupações irregulares – fenômeno urbano que historicamente impõe desafios extras para a administração pública.
A coluna apurou que houve sondagens junto à Prefeitura da Serra e ao Governo do Estado, e um projeto formal foi apresentado, contendo projeções e propostas de como ficaria. Evidentemente seria lançado em etapas, embora outras cidades também estejam sendo consideradas para o projeto. A coluna tentou contato com um representante da 2D Real Estate, que apresentou o projeto a autoridades capixabas, mas não obteve retorno.