Em 2024, Serra exportou US$ 1,33 bilhão para os EUA – efeito cascata é preocupante

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Lula
ArcelorMittal é a âncora do desenvolimento da Serra desde 1983.

Ultra dependente do mercado norte-americano, o comércio exterior da Serra é o mais impactado pela guerra tarifária desencadeada pelo presidente Donald Trump. A principal ameaça recai sobre a produção siderúrgica da maior empresa do município, a ArcelorMittal, além do parque de beneficiamento de rochas ornamentais, que exporta blocos e chapas diretamente para os Estados Unidos.

Em 2024, a Serra exportou US$ 2,146 bilhões, sendo que 61,8% desse total tiveram os EUA como destino. Isso significa que, com base nos dados do ano passado, cerca de US$ 1,33 bilhão em exportações estão ameaçados pelas novas tarifas de 50% — o que deve encarecer os produtos da Serra em solo norte-americano e, consequentemente, reduzir sua competitividade no principal mercado externo da cidade.

Para se ter uma ideia da dependência em relação aos EUA, o segundo maior parceiro comercial da Serra em 2024 foi o Canadá, com 11,4% do volume de exportações. Do total exportado pela cidade naquele ano, os produtos siderúrgicos representaram quase 80%, enquanto as rochas ornamentais corresponderam a cerca de 15%.

Sozinha, a Serra foi responsável por 20% de todas as exportações do Espírito Santo em 2024. Trata-se, portanto, de um cenário de muita tensão: no ano passado, o município foi o segundo maior exportador do estado e o 30º do Brasil. No entanto, diferente de Vitória — que liderou o ranking capixaba — a Serra é consideravelmente mais dependente da relação comercial com os Estados Unidos.

Casagrande em Brasília para tratar das tarifas

Sec de Secretário de Desenvolvimento Sérgio Vidigal, prefeito da Serra Weverson Meireles e governador Renato Casagrande: em comum, a preocupação com o futuro do comércio exterior na Serra.
Crédito: Yuri Scardini.

O governador do Espírito Santo, Renato Casagrande, esteve em Brasília nesta segunda-feira (14). Em reunião com o vice-presidente Geraldo Alckmin, expressou a preocupação do estado com o cenário e afirmou que, embora compreenda a soberania do Brasil, defende que não haja um duelo tarifário. Casagrande pediu um caminho negociado para mitigar os impactos, sem revanchismo.

Na semana passada, o prefeito da Serra, Weverson Meireles, também se pronunciou. Ele reconheceu as ameaças que as tarifas impostas por Trump a partir de agosto podem trazer à cidade e defendeu serenidade nas decisões e negociações.

EUA também lideram importações

Caso o Brasil adote a regra da reciprocidade — ou seja, impondo também tarifas sobre produtos norte-americanos — os importadores da Serra precisarão encontrar alternativas para contornar o problema. Isso porque os Estados Unidos não são apenas os principais compradores das exportações da cidade, mas também figuram entre os maiores fornecedores para o parque industrial serrano.

Em 2025, a Serra importou US$ 2,737 bilhões, dos quais 25% vieram dos EUA, 25% da Austrália e 24% da China. O principal produto importado foi o carvão mineral, essencial para a siderurgia, que respondeu por 44% de todo o volume. Parte desse insumo vem dos Estados Unidos. Se a ArcelorMittal não conseguir alternativas de fornecimento, poderá enfrentar dificuldades produtivas, o que pode gerar um efeito cascata na economia local.

Além do carvão, as empresas da Serra também importam dos EUA equipamentos eletroeletrônicos, geradores, transmissores e semicondutores, usados em automação industrial, painéis elétricos e controle de processos. Com tarifas adicionais ou eventuais entraves logísticos, esses projetos de modernização podem ficar mais caros e menos viáveis. 

Foto de Yuri Scardini

Yuri Scardini

Yuri Scardini é diretor de jornalismo do Jornal Tempo Novo e colunista do portal. À frente da coluna Mestre Álvaro, aborda temas relevantes para quem vive na Serra, com análises aprofundadas sobre política, economia e outros assuntos que impactam diretamente a vida da população local. Seu trabalho se destaca pela leitura crítica dos fatos e pelo uso de dados para embasar reflexões sobre o município e o Espírito Santo.

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