O petróleo que devasta praias do Nordeste brasileiro ainda não chegou – e pode até não chegar – ao litoral do Espírito Santo. Mas já está impactando a economia local com a proibição da pesca de lagosta e camarão na região de Abrolhos, no extremo sul da Bahia. O local é o principal pesqueiro dos pescadores serrano e de outras cidades do ES, que fornecem a peixarias, restaurantes supermercados e feiras. Outro indicador de que o impacto já chegou é a mobilização do Governo do Estado e prefeituras em torno de planos de contingência.
Se a contaminação atingir as praias capixabas, o estrago será ainda maior. Como no caso dos rompimentos das barragens da mineração, esse desastre/crime ambiental revela a incapacidade do poder público e do mundo corporativo de debelar crises dessas proporções.
Mais preocupante é saber que o mar do Espírito Santo é salpicado de poços de petróleo, sendo o segundo maior produtor de um dos principais países do setor petrolífero. Tal como as represas de mineração a oeste, os poços a leste do estado são bombas-relógios a ameaçar a economia e o meio ambiente dos capixabas. Que o rompimento da barragem de Mariana, em 2015, e agora o derramamento de petróleo virem oportunidade para o ES adquirir expertise para fazer a gestão dos dois tipos de desastre e reduzir ao máximo seus efeitos.
É uma tarefa ingrata. Se em megavazamentos de petróleo ocorridas em sociedades mais ricas e organizadas a devastação foi ciclópica e se estendeu por anos, difícil esperar algo diferente no Brasil. Ainda mais na gestão Bolsonaro, em que uma das marcas é o desmonte dos órgãos ambientais.
Lamentável também é o disse me disse em torno do tema. Ao invés de agir logo que as primeiras manchas surgiram, as autoridades federais – incluindo o próprio presidente – se apressaram em apontar culpados, e sem provas. Aliás, até ontem (31), dois meses após a detecção do vazamento, ainda não se sabe de onde ele veio e se continua. Isso num planeta cada vez mais monitorado. Inconcebível.
Que os pescadores da Serra e do ES também sejam reconhecidos como atingidos e possam, de imediato, ter acesso ao auxílio-defeso extraordinário. Não só pelo fato de terem seu principal pesqueiro nos arredores de Abrolhos, como também o fato de parte do ES pertencer à Sudene.