Renato Ribeiro
No lugar dos peixes, lixo, esgoto e muito sal. Assim encontra-se hoje a lagoa Juara, a maior da Serra. Situação que inviabilizou a criação de tilápias em tanques-rede, projeto iniciado na década passada pela Associação de Pescadores da Lagoa Juara (APLJ) e que produzia em média 5,5 toneladas de peixe por mês.
A gota d’água para o fim da produção foi a mortandade de peixes na lagoa ocorrida em setembro de 2016. Situação que vinha ocorrendo com alguma frequência a partir de 2014. Pescadores e ambientalistas afirmam que a dragagem e alargamento do rio Jacaraípe, iniciadas justamente em 2014, aumentaram a salinidade da água, ocasionando a mortandade de peixes e até de parte das plantas aquáticas. O rio liga a lagoa ao mar.
Para o presidente do Instituto Brasileiro de Fauna e Flora (Ibraff), Claudiney Rocha, os prejuízos ambientais e econômicos são grandes. “Com as obras do Rio Jacaraípe, grande parte do manguezal, que é um filtro natural, foi destruído, aumentando a salinidade da água da lagoa. Esse fator, aliado à mudança de estrutura física do Rio e a falta de oxigênio na água, fez com que a Lagoa Juara entrasse em colapso, havendo um desastre ambiental sem precedentes”, explica.
Segundo o presidente Federação das Associações de Pescadores do Espírito Santo (Fapaes) Manuel Bueno dos Santos – o Nego da Pesca, o esgoto lançado in natura na lagoa desde a década de 70, é o maior responsável. “A lagoa encontra-se numa região urbana, cercada por bairros que não possuem rede de esgoto. O despejo ao longo dos anos vem matando a lagoa aos poucos e tudo que há nela”, avalia.
Apesar dos restaurantes e peixarias da Juara continuarem funcionando com pescado vindo de outras regiões, o impacto econômico preocupa. Segundo o Presidente da APLJ, Deraldo Balestreiro, com a transferência da produção de peixes para Linhares, os custos de produção aumentaram em 10%, e inevitavelmente esse acréscimo chegou até a mesa do consumidor.
“Desde julho de 2016, toda nossa produção foi transferida para a Lagoa do Aguiar em Linhares. Isso aumentou os nossos custos, sendo inevitável o aumento do preço para o consumidor, que agora paga R$ 11,00 por quilo da tilápia. Em contrapartida, temos a certeza de estarmos vendendo um produto de qualidade e sem riscos de contaminação”, avalia.
Prefeitura diz que apoia pescador e promete revitalizar lagoa
Através da assessoria de imprensa, a Prefeitura da Serra diz que ajuda na divulgação do pólo gastronômico da lagoa Juara, que agora funciona com tilápia vinda de fora. E que planeja um projeto de revitalização da lagoa, com a construção de decks, reforma dos pontos de vendas de pescado, paisagismo, calçamento, entre outros. Atualmente, o projeto está em fase de estudo para captação de recursos.
Disse também que a cidade contará com 100% de esgoto tratado através da Parceria Público Privada (PPP) de saneamento em vigor na cidade desde 2015. No entanto não mencionou o problema da salinização gerado pela dragagem do rio Jacaraípe, motivo apontado por ativistas e pescadores como um dos responsáveis pelo colapso na produção de tilápia.