A partir desta quinta-feira (14), a Igreja de Reis Magos, em Nova Almeida, na Serra, abre suas portas para receber a exposição “Para nadar é preciso vencer o mar”, do artista carioca José Bechara — um dos nomes mais reconhecidos da arte contemporânea brasileira. A mostra será apresentada na Galeria Belchior Paulo, espaço expositivo que integra o complexo histórico e cultural e homenageia o jesuíta português considerado o primeiro artista a exercer o ofício no Brasil, no final do século XVI.
Bechara levará ao local pinturas, com exceção de uma,completamente inéditas,criadas especialmente para o evento, e uma escultura de grandes dimensões que será instalada na área externa da igreja. Nas pinturas, o artista utiliza processos de oxidação de metais sobre lonas de caminhão reaproveitadas, técnica que desenvolve há décadas e que lhe permite criar superfícies vibrantes, marcadas pelo tempo e pelo atrito químico dos materiais. Na escultura, combina mármore e metais, explorando contrastes entre solidez, transformação e instabilidade.
José Bechara: um olhar que investiga a pele do mundo
José Bechara construiu uma trajetória marcada pelo experimentalismo e pela busca de novas formas de interação entre materiais e superfícies. Sua obra transita por pintura, escultura, desenho e instalação, sempre com uma atenção especial ao processo de transformação da matéria.
As oxidações que caracterizam suas pinturas são resultado de reações químicas cuidadosamente controladas, criando composições cromáticas que não são “pintadas” no sentido tradicional, mas emergem da própria ação do tempo, da água, do ar e do metal sobre as lonas desgastadas.
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No campo tridimensional, Bechara explora relações de peso, equilíbrio e tensão, muitas vezes combinando elementos industriais e naturais. Sua produção já integrou acervos e exposições em instituições como o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, o Museu de Arte Moderna de São Paulo, o Museo Nacional de Bellas Artes (Buenos Aires) e a Bienal de Veneza.
A motivação para a mostra na Reis Magos
O convite para expor na Reis Magos trouxe a Bechara uma motivação especial. Para ele, a força do espaço não está apenas na arquitetura, mas na profunda carga histórica e simbólica que ele carrega:
“Me animei em participar desta exposição pelo fato dela acontecer num monumento de longa história. É um equipamento arquitetônico inserido na história da formação do Brasil. Essa relação com a memória foi uma das razões que me motivaram a fazer este trabalho. A galeria pequena, dentro de um mosteiro, guarda peculiaridades. Ela não é um espaço comum no circuito de arte contemporânea, e isso me estimulou a criar esta mostra.”
A curadoria: equilíbrio tenso e efêmero
O texto curatorial da mostra é assinado por Agnaldo Faria, crítico e curador de arte de relevância nacional. Ele descreve o trabalho de Bechara como uma investigação profunda das superfícies e dos materiais, um mergulho no que chama de “pele do mundo”:
“Bechara perscruta a pele do mundo. Grande parte de suas pinturas, desenhos, esculturas e instalações faz uso de matérias oxidadas, elementos instáveis, algumas à beira do colapso. Interessa ao artista o desenvolvimento interno dos materiais, a peculiaridade de seu atrito com os elementos, a troca permanente que há entre as coisas, a começar pelo suor excessivo do nosso corpo sob o sol carioca, encharcando nossas roupas, provas de um equilíbrio tenso e efêmero”, revelou Agnaldo Faria o TN.
Impacto para o cenário artístico capixaba
A presença de José Bechara na Reis Magos insere o Espírito Santo, mais uma vez, no mapa de relevância do circuito nacional de arte contemporânea.
Para artistas e produtores culturais locais, a realização de exposições desse porte funciona como referência de qualidade e inovação, criando oportunidades de diálogo com práticas e discursos consolidados no cenário brasileiro. Ao mesmo tempo, o uso de um espaço de alta carga simbólica, como a Aldeia, reforça o papel do Espírito Santo como território onde memória e contemporaneidade podem coexistir de forma produtiva.
Essa estratégia contribui para consolidar a imagem do estado não apenas como destino turístico, mas como polo cultural em crescimento, capaz de sediar eventos e exposições de padrão internacional sem perder de vista sua identidade e especificidades históricas.
Mostra “Para nadar é preciso vencer o mar”
Artista: José Bechara
Abertura: 14 de agosto de 2025, às 16h
Período de visitação: 14 de agosto de 2025 a 18 de janeiro de 2026
Local: Galeria Belchior Paulo – Igreja de Reis Magos, Nova Almeida, Serra
Visitação: terça a domingo, das 9h30 às 17h30
Entrada: gratuita





