Após anos de sucateamento e abandono por parte do Governo Federal, e mais de uma década de burocracia e letargia da Eco-101, finalmente o que se conhecia como BR-101 agora pertence, de fato, à Serra. Pelo menos no trecho de 30,5 km, compreendido entre o km 247,8 e o km 278,3. Trata-se da porção mais adensada da atual BR-101, que vai das imediações do posto da Polícia Rodoviária Federal, após a Serra Sede, até a entrada do bairro Alphaville Jacuhy, em Carapina.
A cerimônia de municipalização da BR-101 acontecerá nesta sexta-feira (12), no auditório do Hotel Serra Grande. A partir disso, a Prefeitura assume o trecho de 30,5 km, enquanto a Ecovias Capixaba, antiga Eco101, passa a ser responsável pelo Contorno do Mestre Álvaro, inaugurado no ano passado e construído com dinheiro público.
A BR-101 que conhecemos passa, portanto, a integrar a malha viária urbana da Serra sob o novo nome de Avenida Mestre Álvaro. Caberá ao Município gerir o trânsito, executar os serviços urbanos e promover as melhorias de infraestrutura necessárias para o bom funcionamento da via. Trata-se do mais importante corredor viário da cidade, por onde toda a lógica de desenvolvimento urbano do município se consolidou ao longo do século XX.
Com a gestão direta do trecho, a Prefeitura ganha autonomia para responder mais rapidamente às demandas da população, melhorar o fluxo do trânsito, reduzir pontos de conflito e realizar intervenções que acompanhem o crescimento da cidade. Na prática, isso significa mais agilidade e melhorias reais para quem mora, trabalha ou transita pela região.
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A Serra passa a ter, enfim, a oportunidade de repensar integralmente seu principal eixo viário, um corredor que, por anos, sofreu com a má gestão federal e posteriormente com a administração da Eco101, impedindo que a rodovia atingisse o potencial que de fato possui.
Ecovias Capixaba sai, mas deixa milhões em passivos
Já a Concessionária Ecovias Capixaba, que desde 2013 está à frente da BR-101 no Espírito Santo, deixa para trás passivos enormes. Estudos técnicos da Prefeitura da Serra apontam que o trecho que será municipalizado está em condições extremamente precárias e acumula um passivo de problemas que afeta diretamente a segurança e a mobilidade de quem circula por ali.
Laudos técnicos mostraram que a via opera abaixo dos padrões mínimos e apresenta falhas em praticamente todos os seus elementos. O asfalto tem danos estruturais, trincas e desníveis; a irregularidade da pista, medida pelo índice internacional que avalia a rugosidade, causa vibração excessiva, desgaste dos veículos e aumenta o risco de acidentes. Em vários trechos, especialmente nas marginais, as deformações e remendos mal executados já comprometem até mesmo a trafegabilidade básica.
A isso se somam os problemas crônicos de drenagem, responsáveis por alagamentos recorrentes, especialmente nas alturas do KM 267 e do KM 265, registrados há mais de uma década. Em dias de chuva forte, a água toma conta das pistas, provoca aquaplanagem, pane em veículos e perda de visibilidade, além de travar completamente o trânsito em um dos principais corredores do estado.
Outro ponto crítico é o sucateamento do sistema semafórico. De acordo com parecer técnico do Departamento de Trânsito, os equipamentos são ultrapassados, não funcionam de forma sincronizada e falham com frequência. O resultado são congestionamentos constantes, principalmente nos horários de pico, atrasos no transporte coletivo, desvios forçados para vias paralelas e um risco maior de acidentes em travessias e cruzamentos. Esse conjunto de falhas compromete a rotina dos moradores, afeta a economia local e evidencia a urgência de intervenções estruturais.
Benefícios para a Serra, mas também desafio de gestão e caixa
Com a via sob seu controle, a Prefeitura passa a ter autonomia para planejar, autorizar e executar obras e serviços necessários ao bom funcionamento da avenida, sem depender da lentidão dos trâmites federais. Isso permite respostas mais rápidas e ajustadas às demandas da população e ao ritmo de crescimento urbano da Serra.
Politicamente falando, foi uma atitude corajosa do prefeito Weverson Meireles, já que esse passivo estava sob responsabilidade federal e agora cabe à Prefeitura enfrentar o desafio gerencial e financeiro. Ainda assim, a decisão carrega um enorme potencial de desenvolvimento para a Serra. Além disso, a Prefeitura vai precisar do apoio do Governo do Estado para executar as obras necessárias, já que, sozinha, não dispõe de caixa suficiente para arcar com todos os investimentos.
Além de enfrentar o passivo deixado ao longo dos anos, a municipalização do trecho da BR-101 abre uma série de oportunidades estratégicas para o desenvolvimento da Serra. Com a via sob gestão direta da Prefeitura, será possível integrar esse corredor viário aos grandes projetos da cidade e da Região Metropolitana, uma medida importante, já que se trata de um eixo fundamental do transporte público e da ligação com Vitória. Essa integração tende a impulsionar o comércio, a logística e a mobilidade urbana.

