
Uma obra que perdura há 12 anos, que já desperdiçou R$ 14 milhões de dinheiro público e que segue na incerteza de se um dia será concluída. É fato: estamos falando da milionária reconstrução da Escola Estadual Aristóbulo Barbosa Leão (ABL), em Parque Residencial Laranjeiras, na Serra. Iniciada em 2012, a obra foi paralisada em 2014, demolida em 2018 e reiniciada em 2020.
Dois anos após a esperança de que, desta vez, a escola ganharia seu novo prédio, mais um duro golpe contra os milhares de alunos e moradores que esperam a entrega da construção: o Departamento de Edificações e de Rodovias do Espírito Santo (DER-ES) afirmou não ter um prazo exato para a construção e pediu no mínimo 360 dias, ou seja, mais um ano de espera e de mancha à memória do professor Aristóbulo – que dá nome à escola (entenda sua história abaixo).
Chega a ser inacreditável a situação da conclusão da obra. Afinal, é importante ressaltar, que a construção do novo prédio do ABL chegou a passar por quatro governos, mas apenas duas lideranças: Renato Casagrande (PSB) e Paulo Hartung (sem partido).
O projeto inicial, planejado e iniciado pelo governo de Casagrande (2011 – 2014), era de reforma do antigo prédio do Aristóbulo. A obra saiu do papel, foi iniciada em 2012, porém, em 2014, foi paralisada e simplesmente ficou por isso mesmo. O investimento inicial era de R$ 9 milhões.
A justificativa dada pelo extinto IOPES (que agora faz parte do DER-ES) na época era de que a empresa contratada faliu e abandonou os trabalhos. Mas onde foi parar o dinheiro público investido na reforma? O valor foi devolvido pela empresa? Essas duas perguntas, ninguém sabe responder. Ou melhor, o Estado nunca fez questão de dar as justificativas necessárias sobre o assunto.
Desperdício de R$ 14 milhões no ABL: “vamos pensar positivo”

Já no governo de Hartung (2015 – 2018) a obra continuou parada por três anos. Em setembro de 2018, uma desagradável surpresa para os capixabas: o Estado licitou R$ 290 mil para demolir o antigo prédio e começar a obra do zero. Na opinião editorial do Tempo Novo, um crime contra a história da Serra e fundamentalmente de Laranjeiras.
Em meio a tanta informação e valores, não podemos esquecer dos mais de R$ 5 milhões gastos (até 2019) com aluguel do espaço improvisado onde a escola funciona até os dias de hoje, em Jardim Limoeiro.
O então secretário de Educação, Haroldo Rocha, ainda surpreendeu os capixabas quando questionado sobre a perda de praticamente R$ 12 milhões de recursos públicos. Incomodado com a insistência do Jornal Tempo Novo sobre o assunto, Haroldo, em tom de irritação, disparou: “sugiro que a gente olhe para frente e pense positivo. Fizemos o melhor que poderíamos fazer”.
Em 2019, Casagrande reassume o comando do Governo do Estado para mais quatro anos. Logo no início do ano, o governador reascendeu a esperança dos alunos, profissionais da escola e moradores da Serra: prometeu construir um novo prédio, mais moderno e eficiente.
A construção, de fato, saiu do papel, nos últimos meses de 2020, com prazo para ser entregue em janeiro de 2023. Como é visível, o prazo anunciado não foi respeitado e a obra está longe de ser concluída.
Um novo mandato, um velho governo e os mesmos erros

Casagrande, disputou a reeleição em 2022, e conseguiu continuar comandando o Estado. O mandato mudou, mas o governo parece continuar insistindo nos mesmos erros do passado.
Se não bastasse o desrespeito com o prazo de entrega, após longa insistência do Jornal Tempo Novo, a assessoria de imprensa do DER-ES retornou os questionamentos feitos. Sobre o atraso na obra, o órgão de justificou dizendo que o contrato com a empresa responsável pela construção segue vigente até dezembro de 2023.
Ainda afirmou que sofreu com a demora na entrega das estruturas metálicas, necessárias para montagem do prédio principal, que é todo de estrutura metálica.
O DER-ES porém, não especificou o prazo exato para conclusão da obra. Disse somente que serão necessários complementos de serviços não previstos no edital inicial e informou sobre o início de uma nova licitação para climatização e outros serviços complementares. O problema é o prazo para que isso aconteça: 360 dias, contando após o final do processo de licitação e ordem de início.
A incerteza da entrega da obra do ABL e o medo da história se repetir

Não é difícil apontar os principais erros e culpados pela amarga e complexa história dos 12 anos de reforma e reconstrução do ABL. Mais uma vez, não entregando a obra dentro do prazo e deixando vago o prazo para conclusão, o Estado age de forma irresponsável e desrespeitosa com os capixabas, com os serranos e com a memória do saudoso professor.
Afinal, vale repetir: R$ 14 milhões de recursos públicos – dinheiro bancado pelos contribuintes – foram jogados ao chão, literalmente, junto com os 42 anos de história do antigo prédio do ABL.
O descaso também fica escancarado quando falamos da história da instituição escolar Aristóbulo Barbosa Leão. A escola foi fundada em 1977, possui 46 anos de existência. Fez parte da vida de milhares de moradores da Serra e de outras cidades. Atualmente, apesar de estar em um prédio provisório e improvisado no bairro Jardim Limoeiro, segue sendo uma das maiores e mais importantes unidade de ensino da cidade.
Garantia de que a obra será concluída? Não existe. Possibilidade de mais perda de investimentos? Talvez. Vemos uma Associação de Moradores apática, representantes mandatários sem respostas e órgãos de controle que ainda não deram sinal de que farão algo a respeito. Resta ao serrano as boas memórias vividas em uma geração inteira de alunos do ABL e a certeza de que o professor Aristóbulo Barbosa Leão, merecia mais.
Aristóbulo Barbosa se revirando no túmulo

Em seis de junho de 1887, na Serra, nascia Aristóbulo Barbosa Leão, que se tornaria um dos mais notáveis professores do século XX no Espírito Santo. O serrano foi professor de Francês e Matemática; jornalista profissional, publicou artigos e ensaios nos jornais “A Tarde” e “Folha do Povo”; é autor de diversos hinos escolares, entre eles “O Livro e a Pena”; publicou os livros “Não choreis, amigos” (1920), “Alocução pedagógica” (1921) e “Do país da sombra para o país da luz: Padre Carlos Calleri” (1927).
É patrono da Cadeira n° 10 da Aleas (Academia de Letras e Artes da Serra) foi membro do Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo (IHGES) e 1º ocupante da Cadeira n° 8 da Academia Espírito-Santense de Letras (AESL). Aristóbulo foi um dos poucos que se levantou contra a hegemonia do então governador Jerônimo Monteiro. Em 1913, Aristóbulo, e seus irmão, Miguel e Kosciuszko, criaram o Ginásio São Vicente de Paula, no centro de Vitória, que viria a ser uma das mais conceituadas escolas do estado, que foi responsável pela educação de uma geração de capixabas que colocaria o Espírito Santo no mapa do desenvolvimento.
Por isso, e por tantas outras realizações e feitos, Aristóbulo recebeu várias honrarias póstumas; entre elas, deu nome à escola que foi fundada junto com o bairro Parque Residencial Laranjeiras, quando ainda se chamava Carapinão. O ABL, tanto o professor quanto o colégio são partes significativas da história da Serra. Infelizmente, essa memória tem sido maculada pela vergonhosa obra que acarretou a demolição do prédio original e no descaso com o que restou.