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Violência, indisciplina e pobreza: desafios dos professores na Serra

Gabriela atua na rede pública e privada da Serra e diz que é preciso bom senso e paciência do professor em sala de aula para resolver conflitos envolvendo estudantes. Foto: Divulgação

Na última segunda –feira (15) foi comemorado o Dia dos Professores. Se antigamente a profissão era valorizada e símbolo de status, atualmente é um desafio para quem está nela. Os profissionais que atuam nas salas de aula, tanto das escolas públicas quanto particulares, tem que ter jogo de cintura para lidar com situações que vão muito além do ensino, como violência, indisciplina, desestrutura familiar e pobreza.

Jerusa Amélia, da aula há cinco anos na rede municipal de ensino da Serra, e conta que já viu diversas cenas de abuso na sala de aula. “Hoje, na escola onde dou aula em Enseada de Jacaraípe é bem tranquilo. Mas já lecionei em Vila Nova de Colares e os alunos eram bem sofridos devido a algumas negativas da vida. Havia muita indisciplina entre os alunos e era difícil dar aula. Infelizmente muitos acabaram assassinados. Trabalhamos com valores humanos para tentar quebrar esse tabu da violência. Alguns momentos de desespero passei ali dentro, por não ver amor dentro de uma criança. Tive que ter um olhar clínico e ‘ganhar’ a criança levando amor e resgatando o intelectual dela”, frisa.

Gabriela Felix, que é especialista em Educação de Jovens e Adultos, licenciada e bacharel em Química, trabalha na rede pública, particular, ensino técnico e ensino superior, na Serra, nos bairros de Jacaraípe e Barcelona e em Vitória, nas localidade de Goiabeiras e Bento Ferreira.

Ela conta que atende um público bem diversificado e que no atual cenário, ensinar é um grande desafio. “Não só pela questão da violência, que não é apenas o ato em si, mas é caracterizada também por palavras, gestos. Mas também pelo fato de muitos pais não entenderem que precisam ser parceiros da escola. Ensinar não é apenas repassar conhecimento. Ensinar envolve valores que vem de casa. É o que chamamos de conhecimento já adquirido, dos saberes que o aluno tem”, explica.

Gabriela ressalta que atua com alunos de baixa renda, de classe média e classe média alta. “Dentro de sala aula, nunca fui alvo de nenhum tipo de agressão por parte de alunos. Conflito em sala de aula se resolve com muito bom senso e paciência. Não fomos treinados para isso, mas como professores, sabemos da importância do diálogo, do respeito e da tolerância”.

Já Marciele Tellarolli é professora há 22 anos e disse que a cada dia está ficando mais difícil. ” Com os avanços tecnológicos os professores que não se modernizam ficam para trás. As crianças e os adolescentes querem mais agilidade, pois o mundo está assim.  Mas, o aprendizado normativo é gradativo. Requer paciência. Temos que ensinar, também,  como viver. Os valores “familiares” estão diferentes e egoístas. Os educandos nos chegam com esses costumes imediatistas e egoístas num ambiente onde há centenas de outros indivíduos com suas personalidades. O aprendizado é constante tanto para nós professores quanto para nossos alunos, e tudo começa na convivência. A sociedade está violenta e as escolas também. É neste ambiente escolar que nossas crianças e adolescentes se expressam, então,  a violência é uma constante. As leis, principalmente, as que tangem no patamar escolar limitam as ações dos educadores”, destaca.

Sindicato pede apoio da família e comunidade

Diretor do Sindicato dos Professores – Sindiupes, Jean Carlos Nunes, disse que a escola é o reflexo da sociedade. “Vivenciamos uma violência de nível extremo e isso acaba refletindo na sala de aula, nas relações do dia a dia na escola. Precisamos do apoio dos pais e da sociedade de uma forma geral. A maioria do magistério capixaba é formado por pessoas gabaritadas, que tem total competência para lidar com os diversos temas que a educação demanda. Mas algumas coisas são de responsabilidade da família, precisamos delas perto da escola. O professor dá orientações, chama a atenção, mas não substitui o papel dos pais”.

Ana Paula Bonelli

Moradora da Serra, Ana Paula Bonelli é repórter do Tempo Novo há 25 anos. Atualmente, a jornalista escreve para diversas editorias do portal.

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