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Um ano dos dias de terror

Por Bruno Lyra

Neste domingo (04) fará um ano que a paralisação da Polícia Militar instalou a barbárie no território capixaba. Mais de 200 pessoas foram assassinadas, pelo menos 300 lojas foram saqueadas, sendo que várias delas fecharam as portas definitivamente.

O medo tomou conta. Notícias da atuação de grupos de extermínio – uma chaga forte do ES – se espalharam. Empresas não puderam abrir as portas porque não havia segurança para que os funcionários saíssem de casa. Indústrias interromperam a produção. Escolas ficaram sem aulas. Ônibus não rodaram.

Na saúde médicos, enfermeiros e outros profissionais não puderam trabalhar, fragilizando o atendimento de urgência e emergência. Não há números, mas é plausível supor que pessoas morreram porque não tiveram o atendimento necessário por falta de pessoal.

Foram dias de puro terror, em que um dos direitos fundamentais, o de ir e vir, foram cerceados.  Até pessoas que não estão no rol de criminosos costumazes participaram de saques, espetáculos tristes capturados por câmeras e viralizados na internet.

A postura dos PM´s foi muita questionada, com seus familiares obstruindo as portas do quartel, batalhões e companhias. A população não entendeu porque a polícia não usou o mesmo rigor que dispensa a outros atos de protesto.

Do governo ao estado de guerra

Nos dias que antecederam a greve, o governador Paulo Hartung (PMDB) se afastou do cargo para tratamento de saúde e estava fora do estado quando a ‘bomba’ estourou. Coube ao vice, César Colnago (PSDB) segurar a batata quente. No dia 06 o governo trocou o comando da PM, saiu Laércio Oliveira, que havia ficado pouco mais de 15 dias na função, e entrou o coronel Nylton Rodrigues, até hoje no cargo.

Aquela altura a Justiça já tinha decretado a ilegalidade do movimento e o governo do ES já havia pedido ao presidente Michel Temer (PMDB) apoio das Forças Armadas no estado. Enquanto esta não chegava, coube às Polícias Civil e Rodoviária Federal, além das Guardas Municipais (em cidades onde elas existem), o esforço de tentar atenuar o caos.

No dia 07 o Exército e a Força Nacional de Segurança começaram a atuar nas ruas do estado e ficariam aqui até o final de fevereiro, quando terminou a greve. Após o fim do movimento e com Hartung de volta à cadeira de governador, o Estado fez uma série de mudanças na PM: alterou critérios para promoções, deu novas diretrizes para concursos e formação de soldados, extinguiu a Rotam e o BME, criou novas companhias independentes nos municípios.

Entre a insegurança e o drama militar

Para o governo as mudanças servem para dar mais eficiência à PM. Para os críticos elas aconteceram só para retirar poder de policiais que apoiaram o movimento. O fato é que até hoje há insatisfação de pelo menos parte da tropa com o governo. E que o governo Paulo Hartung ficou com o ônus de não ter conseguido impedir que a paralisação acontecesse, o que deve ser explorado por seus adversários nas eleições deste ano.

Coincidência ou não, desde 03 de fevereiro de 2017 Hartung não movimenta mais sua até então ativa conta no Facebook, rede social que,  quase sempre, é a menina dos olhos de qualquer político. Embora se considere que a paralisação tenha começado no dia 04, foi na noite daquela sexta-feira de 03 de fevereiro que os familiares dos PM bloquearam a saída de viaturas do então Destacamento de Polícia Militar em Feu Rosa, aqui na Serra, iniciando o movimento no estado.

Para os policiais o resultado não foi bom. Além da imagem arranhada, não conseguiram o que queriam: reajuste salarial de 10% mais reposição das perdas inflacionárias dos últimos sete anos; adicionais noturnos, por periculosidade e insalubridade; plano de saúde; fim do revezamento de coletes à prova de bala; fim da obrigação de pagarem reparos nas viaturas em caso de acidente.

Policiais que participaram do movimento foram presos; alguns expulsos da PM. A Associação de Cabos e Soldados (ACS) diz que após o fim da greve aumentou a pressão sobre a tropa, o que teria ocasionado mais casos de depressão e suicídio entre servidores da corporação.

O fato é que desde o início da greve da PM a segurança não é mais a mesma no ES. O crescimento dos assassinatos e crimes contra o patrimônio atesta isso.

 

Ana Paula Bonelli

Moradora da Serra, Ana Paula Bonelli é repórter do Tempo Novo há 25 anos. Atualmente, a jornalista escreve para diversas editorias do portal.

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