
É de conhecimento público há décadas o mal estar gerado pelo pó preto lançado no ar pelas gigantes Vale e ArcelorMittal na Grande Vitória. A novidade é que agora o capixaba tem acesso a uma obra científica abrangente e gratuita sobre os efeitos nocivos da poluição siderúrgica à saúde da população que vive no entorno do Complexo Industrial de Tubarão.
Trata-se do livro digital “Material Particulado na Atmosfera Urbana e Suas Interações com a Saúde Humana”, lançado na última semana, cujo download pode ser feito de graça clicando aqui.
Apesar da obra tratar também de outros poluentes não siderúrgicos que, como aqui na Grande Vitória, existem em praticamente todas as aglomerações urbanas de porte no planeta, a ênfase do trabalho passa pela presença do material particulado siderúrgico, o famoso pó preto.
O estudo engloba desde métodos de análise da poeira, para identificação de sua composição química e origem, à casos de internações e óbitos em unidades de saúde na Grande Vitória cuja causa foi problema respiratório. De crianças inclusive, que são especialmente afetadas. Passeia também pelo monitoramento público dos índices locais de poluição do ar, parâmetros legais federais, estaduais e municipais, comparando-os com o que é preconizado pelo Organização Mundial de Saúde (OMS).
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É um livro escrito a muitas mãos, pois abrange estudos de diversos departamentos e cientistas que atuam na UFES ou em parceria com a mesma. Há também participação de pesquisadores da Emescam (Escola de Medicina da Santa Casa de Misericórdia). A organização da obra é assinada pelos pesquisadores Jane Meri Santos, Neyval Costa Reis Junior e Elson Silva Galvão. A coordenação do projeto é do Núcleo de Estudos da Qualidade do Ar da UFES.
Articulação em prol da ciência
A obra vem sendo engendrada há anos, através dos variados estudos e pesquisas que a compõe. E teve ajuda do ativista Eraylton Moreschi, diretor da ONG Juntos SOS ES Ambiental, entidade sediada em Vitória que se notabilizou nos últimos anos por lutar pela melhoria da qualidade do ar na região metropolitana, dentre outras frentes de atuação.
Foi Eraylton que articulou junto ao então deputado federal Max Filho, em 2015, uma emenda parlamentar de R$ 600 mil que foi direcionada ao Núcleo de Estudos da Qualidade do Ar da UFES para coordenar os estudos e produzir o livro.
Vale ressaltar ainda que recursos da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Espírito Santo (Fapes), do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) também foram empregados na remuneração dos pesquisadores, através das bolsas de mestrado, doutorado e pós-doutorado.
Isso nos leva à motivação para a realização do projeto de pesquisa apresentado neste livro. Intitulado “Identificação de marcadores específicos para o material particulado rico em ferro em áreas urbanas e industrializadas”, foi organizado em três subprojetos: (i) “Caracterização química do material particulado para determinação da contribuição das fontes existentes na Região Urbana da Grande Vitória na deterioração da qualidade do ar”; (ii) Internalização de nanopartículas metálicas presentes no material particulado atmosférico em células de pulmão humano, in vitro; e (iii) Estudo longitudinal sobre os efeitos da poluição do ar no sistema respiratório de crianças do município de Vitória, ES.
O foco principal do projeto foi o poluente atmosférico denominado material particulado nas suas diversas granulometrias que, em conjunto com o dióxido de enxofre, são os principais poluentes presentes na atmosfera da RGV.
Esses subprojetos objetivaram aprofundar o conhecimento científico e fornecer informações auxiliares para a análise da responsabilidade das diferentes fontes existentes na região relativamente às concentrações de material particulado na região e do impacto do poluente na saúde humana. Realizaram esses subprojetos uma equipe multidisciplinar de pesquisadores da UFES atuantes no Programa
De Pós-graduação em Ciências Fisiológicas da UFES e no Programa de Pós-graduação em Ciências Biológicas e da Emescam, além dos pesquisadores do Programa de Pós-graduação em Engenharia Ambiental valor de R$ 600.000,00 para a equipe do Núcleo de Qualidade do Ar da Universidade Federal do Espírito Santo – UFES.

