Tempo Novo vai lançar livro inédito sobre a história da Serra

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Livro "Serra: a história de uma cidade", do jornalista Yuri Scardini, será lançado em janeiro de 2024. Crédito: Gabriel Almeida.
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Livro “Serra: a história de uma cidade”, do jornalista Yuri Scardini, será lançado em janeiro de 2024. Crédito: Gabriel Almeida.

Em janeiro do próximo ano, em uma data ainda a ser anunciada, o Jornal Tempo Novo lançará o livro “Serra: a história de uma cidade”. Escrito pelo jornalista Yuri Scardini, o livro é o resultado de um meticuloso trabalho de pesquisa realizado ao longo de três anos. A obra apresenta uma narrativa contínua que percorre a história desde os primeiros momentos da colonização no século XVI até os dias atuais. Este trabalho literário traz novas informações e construções históricas que nunca foram publicadas antes, além de propor uma releitura de diversas informações e análises já conhecidas, enriquecendo-as com novos dados ou oferecendo novas perspectivas de interpretação.

A publicação inclui um texto introdutório do governador Renato Casagrande, e um prefácio do desembargador Pedro Valls Feu Rosa. Embora o livro se concentre em fornecer uma abordagem histórica da cidade da Serra, ele também celebra os 40 anos do Jornal Tempo Novo, comemorados na virada de 2023 para 2024. O projeto foi viabilizado graças ao patrocínio da Companhia Espírito Santense de Saneamento (CESAN), que apoiou a iniciativa e contribuiu para a sua realização. A decisão de comercializar a obra faz parte de uma estratégia que visa valorizar o projeto e destacar a importância da cultura como um vetor de geração de renda.

Em que esse livro difere dos já existentes sobre a história da Serra, considerando que outros projetos literários já foram publicados?

Os projetos mais robustos sobre a história da Serra datam dos anos 1990. Com o avanço do acesso a informações, especialmente as fontes primárias, conseguimos produzir um material que se diferencia dos demais. Esse foi, aliás, um dos focos do livro: a busca por informações primárias, que compõem a base de quase 80% do seu conteúdo. Outro aspecto importante é a narrativa contínua do livro, onde tudo o que é narrado se conecta e se entrelaça. Buscamos mais do que apenas inserir informações; também prestamos uma análise crítica dos processos que resultaram na Serra que conhecemos hoje. Além disso, com muito respeito a todos aqueles que produziram conhecimento sobre a Serra, oferecemos também uma releitura de várias passagens históricas, já institucionalizadas, inclusive.

Quando você fala em ‘releitura’, isso significa que o livro apresenta uma ‘nova’ história da Serra?

Mais ou menos por aí; não chega a ser outra história daquela convencional adotada pela institucionalidade da Serra, mas é um projeto de caráter revisionista, e por isso sugere outras perspectivas em diversos momentos, todos devidamente sustentados em fontes primárias. Aliás, o livro conta com mais de 500 fontes e notas referenciais e uma vasta bibliografia, todas orientadas e descritas. O livro conta com 6 partes, subdivididas em 23 capítulos. Questionamos os principais marcos convencionais de fundação da Serra e para isso percorremos um longo caminho para sustentar diversos pontos, talvez considerados polêmicos, pois se distancia do que já foi publicado. O método empregado foi o historiográfico, mas a linguagem e o olhar são fundamentalmente jornalísticas, e não tinha como ser diferente, já que é um livro nascido dentro de um jornal de 40 anos.

Quais são essas ‘novas’ informações mencionadas por você? O que o livro trará de diferente?

O livro aborda não só a história de uma, mas de duas cidades. Consideramos Nova Almeida [Reis Magos], uma das Missões Jesuíticas mais importantes do Espírito Santo que, em certo momento, foi uma cidade independente, mas que está intimamente ligada à história da Serra. Portanto, o livro traz muitas informações novas sobre Nova Almeida, assim como sobre a própria Serra. Optamos por uma abordagem politizada, analisando como eventos significativos no Brasil e no mundo influenciaram a Serra e como os atores locais reagiram a esses acontecimentos. O livro tem momentos de densidade analítica, mas também passagens narradas de forma mais leve. Uma das novidades é que também abordamos os fatos relativamente recentes, como na ultra-conturbada década de 1990. Foi particularmente desafiador, até porque muitas coisas se referem as pessoas e personagens que ainda estão aí.

E posteriormente a esse recorte temporal?

O último grande marco econômico que alterou significativamente o ecossistema da Serra foi a implantação da Companhia Siderúrgica de Tubarão (CST – hoje ArcelorMittal). De lá prá cá existem abordagens de caráter político que potencialmente mudaram a realidade local. Ao analisar o período atual, que se iniciou em 1997 com a ascensão de Sergio Vidigal ao poder municipal, escolhemos adotar um epílogo. Essa escolha se deu porque este momento sinalizou o início de uma nova era política, econômica e social, que continua influenciando a cidade até hoje, com protagonistas ainda ativos no cenário político e com consequências que seguem se desdobrando. Abordar períodos ainda em andamento requer uma certa prudência, e foi com essa cautela que procedemos. No futuro, quando esse ciclo político e social chegar ao fim, teremos uma perspectiva mais clara e aprofundada, o que pode nos permitir atualizar este trabalho ou até mesmo desenvolver um novo projeto.

Além de processos históricos, o livro aborda também a trajetória de pessoas importantes na história da Serra?

Sim, definitivamente. O livro não apenas detalha os processos históricos, mas também incorpora as histórias individuais das pessoas que foram fundamentais na condução da Serra ao longo do tempo. Entendemos que não é possível dissociar os eventos históricos das figuras que os protagonizaram. Inicialmente, o manuscrito do livro chegou a quase 600 páginas. No entanto, buscando uma leitura mais didática e acessível, decidimos reformular o livro, reduzindo-o para aproximadamente a metade do tamanho original. Apesar dessa redução, ainda mantivemos uma parte significativa das histórias pessoais daqueles que desempenharam papéis importantes na formação da Serra. O livro é estruturado com um início, meio e fim claros, e apresenta diversos momentos de ‘clímax’, especialmente nos pontos mais relevantes da história. É nesses momentos que as vidas e histórias dessas pessoas ganham destaque dentro do contexto histórico.

Pode nos adiantar mais detalhes sobre o livro?

É importante destacar que este livro não busca romantizar a história. Nele, abordamos uma variedade de temas e personagens que moldaram a Serra, como os indígenas, portugueses, jesuítas, a influência dos colonos de Vitória, as pessoas escravizadas, latifundiários, coronéis, famílias políticas, industriais, além dos vários governos e movimentos migratórios, entre outros. Optamos por uma representação sem retratar figuras como heróis ou vilões, pois acreditamos que fornecer uma crítica equilibrada e bem fundamentada dos acontecimentos históricos é mais importante, por isso, não há romantização. Como exemplo, posso citar as análises baseadas em documentos, correspondências e atos oficiais sobre a atuação dos jesuítas na Serra. Essa parte destoa muito do que já foi publicado na Serra.

O livro será comercializado?

Sim, essa é a nossa intenção. Valorizamos projetos culturais e, na busca por parceiros, escolhemos um modelo em que nosso parceiro subsidia o projeto, permitindo sua realização. O livro será vendido a um preço acessível, visando alcançar a maior parte da população da Serra. Acreditamos que quando as pessoas pagam, mesmo que um valor simbólico, por um projeto cultural, ele ganha um significado individual mais valoroso. A Serra, com seus 520 mil habitantes, tem grande potencial para que a cultura seja reconhecida como um meio de geração de renda e incentivo aos que se dedicam a esta área.

Poderia nos dar algumas considerações finais sobre o projeto do livro?

O título do livro é ‘Serra: a história de uma cidade’, que inicialmente era nossa terceira opção. No entanto, ele acabou sendo escolhido justamente por sua simplicidade e clareza, com a expectativa de que o livro seja adotado no meio escolar da Serra. Será publicado pelo Tempo Novo, que além de jornal também é editora. Com 241 páginas, o livro está agora na fase final de acabamento. Já recebemos a aprovação do Conselho Deliberativo da CESAN para a parceria, e estamos nos preparando para a impressão ainda este ano. Planejamos realizar um evento de lançamento nos primeiros dias de janeiro. O livro conta com um texto de apresentação do governador Renato Casagrande e um prefácio do desembargador Pedro Valls Feu Rosa, duas figuras que possuem uma longa história de envolvimento com a cidade da Serra, tanto profissionalmente quanto pessoalmente. Estamos animados e confiantes de que esse projeto contribuirá para a produção de conhecimento sobre a Serra, além de fortalecer a identidade e a percepção da comunidade sobre sua própria história.

Foto de Ana Paula Bonelli

Ana Paula Bonelli

Ana Paula Bonelli é repórter e chefe de redação do Jornal Tempo Novo, com 25 anos de atuação na equipe. Ao longo de sua trajetória, já contribuiu com diversas editorias do portal e hoje se destaca também à frente da coluna Divirta-se.

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