A Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes) divulgou um informe estratégico com orientações formais para que empresas capixabas adotem medidas como redução de jornada, suspensão de contratos, férias coletivas, banco de horas e até demissões, em resposta à nova tarifa de 50% imposta pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros.
A medida tarifária entra em vigor no dia 1º de agosto e já acendeu um alerta vermelho em diversos setores da economia nacional, especialmente nos que mantêm forte relação com o mercado norte-americano — como siderurgia e rochas ornamentais, no caso da Serra.
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Embora o documento apresente um conjunto de alternativas previstas na legislação trabalhista, o fato de a Findes orientar abertamente medidas duras como redução salarial e extinção contratual evidencia a percepção de que os impactos econômicos podem ser profundos e imediatos.
Entre os pontos destacados no informe estão:
- Férias coletivas por setores ou estabelecimentos;
- Banco de horas com compensação futura de jornada;
- Redução de jornada e salário, mediante negociação sindical;
- Suspensão de contrato de trabalho para qualificação profissional;
- Acordos de demissão consensual e rescisão com apoio de Comissão de Conciliação Prévia;
- Revisão estrutural de equipes e realocação de trabalhadores;
- Incentivo à automação e produtividade como forma de compensar a perda de competitividade;
- Negociação direta com sindicatos e diálogo interno com trabalhadores.
Segundo o informe, todas essas medidas devem ser adotadas com suporte jurídico e com atenção às exigências legais, sempre que possível acompanhadas por acordos ou convenções coletivas.
Reflexo no Espírito Santo e na Serra
A preocupação é especialmente válida no Espírito Santo, em particular na Serra, onde grande parte das exportações depende da demanda dos Estados Unidos. É o caso da ArcelorMittal Tubarão — a maior empresa do município — e do arranjo produtivo de rochas ornamentais, que faz da Serra o maior exportador do Brasil nesse segmento, com foco no mercado norte-americano. O documento da Findes não cita empresas específicas, mas alerta que o cenário exige ações preventivas e planejamento estratégico, sob o risco de paralisações e perdas em cadeia.
Na semana passada a possibilidade de corte de produção e demissões já tinha sido divulgada em nota pela Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes), assinada por seu presidente, Paulo Baraona. O comunicado destacou que os setores industriais capixabas já estavam avaliando medidas emergenciais diante da iminente taxação americana. Entre as providências em análise estavam “a redução do ritmo de produção e, de forma ainda mais preocupante, o fechamento de postos de trabalho”.
Tarifas = incertezas
Com o novo informe divulgado pela Findes — que não apenas prevê cortes, desaceleração e demissões, mas orienta tecnicamente como colocá-los em prática — o cenário vai se afunilando para impactos que tendem a atingir diretamente a ponta da cadeia: a população. Num primeiro momento, os mais afetados devem ser aqueles diretamente inseridos na economia voltada para exportação aos Estados Unidos. No entanto, em um cenário mais crítico, os efeitos podem se espalhar e afetar outros setores, a partir de uma desaceleração econômica mais ampla.
É importante destacar que esse é o retrato de um cenário pessimista. Há projeções mais otimistas que consideram, por exemplo, a possibilidade de queda da inflação e até o barateamento de alguns produtos no mercado interno brasileiro, como consequência do redirecionamento da produção. Esse contraste ilustra o nível de incerteza que as medidas adotadas pelo governo de Donald Trump estão gerando no Brasil — especialmente no Espírito Santo, segundo estado mais dependente do comércio com os Estados Unidos, com destaque para a Serra, município que lidera as exportações capixabas para o mercado norte-americano.

