A tarifa de 50% sobre produtos brasileiros exportados aos Estados Unidos, anunciada por Donald Trump, representa um duríssimo golpe para a economia da Serra. O município tem forte atuação nos setores de siderurgia e de mármore e granito, sendo o mercado americano o principal destino dessas exportações. São atividades com alto grau de empregabilidade e expressivos investimentos privados.
O cenário é conturbado, e os efeitos práticos das novas tarifas só poderão ser avaliados com o tempo. Por ora, o momento exige cautela e preocupação. O aço é produzido pela maior empresa instalada na cidade, a ArcelorMittal, enquanto as rochas ornamentais — transformadas em placas de mármore e granito — são beneficiadas na Serra e exportadas para diversos países, com destaque para os Estados Unidos.
Representantes dos dois segmentos já manifestaram profunda preocupação com as medidas de Trump, que enviou uma carta ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nesta quarta-feira (9/7), alegando que a decisão é uma resposta à “perseguição” que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) estaria sofrendo no Brasil.
Aço – crítica a prática protecionistas
O Instituto Aço Brasil, que representa o setor siderúrgico nacional, afirmou ter recebido com grande preocupação a elevação da tarifa de importação de aço para 50%. A entidade destacou que a medida agrava o “já delicado cenário global do setor”, marcado por um excesso de capacidade produtiva da ordem de 620 milhões de toneladas.
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Na nota, o Instituto critica a intensificação de “práticas protecionistas” que, segundo a entidade, comprometem a estabilidade do comércio internacional de aço. O texto defende que a demanda americana pelo produto não será suprida internamente de forma imediata, tornando a imposição de tarifas adicionais prejudicial tanto para os exportadores brasileiros quanto para os setores industriais norte-americanos.
O Instituto Aço Brasil cobrou a atuação do governo brasileiro para restabelecer o acordo bilateral firmado em 2018, que permitia a exportação de aço brasileiro aos EUA dentro de cotas, sem a aplicação de tarifas adicionais.
No caso do aço produzido na Serra, a ArcelorMittal enfrenta ainda a concorrência desleal dentro do próprio Brasil, com a entrada em massa de aço subsidiado pelo governo chinês. A imposição das tarifas pelos Estados Unidos torna o cenário ainda mais preocupante para essa cadeia produtiva, que, na prática, é o principal motor econômico do município da Serra.
Rochas – concorrentes estrangeiros em vantagem
Outro setor diretamente afetado pela tarifa de 50% imposta pelos Estados Unidos é o de rochas ornamentais, especialmente relevante para a Serra. A Associação Brasileira de Rochas Naturais (Centrorochas) manifestou preocupação com a medida anunciada por Donald Trump, classificando-a como um alerta ao equilíbrio das relações comerciais entre os dois países.
Em 2024, os Estados Unidos foram responsáveis por 56,3% de todas as exportações brasileiras do setor, o que representa US$ 711,1 milhões em negócios. Desse total, o Espírito Santo respondeu por 82,3%, com US$ 672,4 milhões enviados ao mercado americano — a maior parte a partir de empresas com sede na Serra.
A nova alíquota coloca o Brasil em desvantagem frente a concorrentes como Itália, Turquia, Índia e China, que continuarão enfrentando tarifas mais baixas. A Centrorochas alerta que a medida pode afetar o desempenho de mais de 200 empresas exportadoras e comprometer uma cadeia produtiva que gera aproximadamente 480 mil empregos diretos e indiretos no país.
A entidade informou que está monitorando a situação e mantém diálogo com autoridades brasileiras e parceiros institucionais na tentativa de mitigar os impactos da decisão, garantir previsibilidade nas relações comerciais e preservar a presença do Brasil no mercado norte-americano.
Números na Serra
Segundo o relatório de exportações de rochas do Sindirochas, as exportações capixabas do setor totalizaram US$ 1,037 bilhão em 2024, com um volume de 1,54 milhão de toneladas — representando expressivos 82,11% das exportações brasileiras em valor. A Serra respondeu por 30,73% dessa receita e por 19,09% do volume exportado. No cenário nacional, a participação serrana é igualmente relevante: 25,23% do valor total das exportações brasileiras e 14,32% do volume, consolidando a cidade como o principal polo exportador do Brasil. Na prática, um em cada quatro dólares gerados pelas exportações de rochas ornamentais no Brasil vem da Serra.
Os Estados Unidos seguem como o principal destino das rochas ornamentais capixabas, respondendo por 68,7% das exportações do setor em 2024 (dados de dezembro). Na sequência estão China (11,7%) e Itália (5,1%). Diferentemente do Espírito Santo, estados como Minas Gerais, Ceará e Bahia têm uma participação maior do mercado chinês, reduzindo sua vulnerabilidade em relação aos EUA.
Os produtos de aço têm ainda mais peso econômico. O Espírito Santo exportou US$ 1,8 bilhão em aço em 2024, sendo que 63% desse total — cerca de US$ 1,14 bilhão — teve como destino os Estados Unidos. A esmagadora parte desse volume é atribuída à produção da ArcelorMittal, localizada na Serra.
Ainda é incerto como os mercados irão se comportar e quais alternativas serão adotadas. Mas é, sim, um período de preocupação, especialmente diante da expectativa de mudanças bruscas nas relações comerciais, o que tende a gerar incertezas — ingrediente clássico para a retração de investidores.
Incerteza sobre investimentos
A Serra vive um bom momento tanto no setor de rochas, que segue em expansão e aumenta sua importância nacional, quanto no setor de aço. Em 2024, foi feito um dos anúncios mais expressivos das últimas décadas: a implantação de um Laminador de Tiras a Frio (LTF), tecnologia que agregará valor ao aço produzido pela ArcelorMittal em Tubarão, voltado para indústrias de eletrodomésticos, setor automotivo e energia solar. O valor do investimento é estimado em R$ 4 bilhões.
Vale acrescentar que, além desses produtos, o Espírito Santo também exporta café não torrado, celulose e óleos brutos de petróleo para diversos países, incluindo os Estados Unidos — embora esses mercados tenham pouca ou nenhuma ligação direta com a cidade da Serra.

