Racha na Câmara da Serra se oficializa para ver quem será o vereador mais poderoso do ES

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Foto: Divulgação
Por Mari Nascimento
e Yuri Scardini
Rodrigo Caldeira e Fabrício Alves de Oliveira. Foto: Divulgação

A Câmara da Serra é o maior Poder Legislativo Municipal do Espírito Santo; isso se justifica pelos números e pela expressividade do município: com orçamento de quase R$ 40 milhões/ano, centenas de cargos comissionados à disposição e o poder constitucional de fiscalizar e criar Leis na cidade que detém a maior econômica capixaba, o vereador que está sentando à frente da Câmara da Serra só perde em poder político legislativo para o presidente da Assembleia Legislativa, que hoje é o deputado estadual Erick Musso.

Mas se tratando de vereadores, quem comanda a Câmara da Serra é de longe o parlamentar da esfera municipal mais graúdo do Espírito Santo. Ainda mais após a aprovação de alguns regras internas, ocorridas nos últimos anos, que dá ao presidente da Câmara um poder quase que monárquico sobre as finanças e o rito legislativo.

É exatamente essa posição que está em jogo este ano, e a pré-eleição interna nos bastidores já começou há muito tempo, entretanto, nesta terça-feira (07) o racha interno tomou contornos de oficialização da guerra que está por vir: o superintendente-geral da Câmara da Serra, Fabrício Alves de Oliveira, conhecido como Fabricinho, foi exonerado pelo presidente Rodrigo Caldeira.

Uma conversa entre os dois teria acontecido na sexta-feira (03), e a exoneração, embora publicada hoje, é retroativa ao dia 6 de junho.

Mas quem é Fabricinho? Apesar de não aparecer publicamente, já que não exerce mandato eletivo, é uma das pessoas mais influentes da Câmara da Serra desde 2018; ele foi um dos grandes apoiadores da reeleição a vereador (2020) e reeleição a presidência da Câmara (2018 e 2021) de Rodrigo Caldeira.

Entretanto, Rodrigo e Fabricinho se distanciaram por razões que passam necessariamente pela disputa de poder interna e pela eleição de outubro; após o transbordo desse racha via bastidor, passaram a surgir especulações no meio político de que cria-e-criador começaram um processo de conspiração política um com o outro.

O até então superintendente passou a se reunir com vereadores e ex-parlamentares, em encontros do grupo de oposição ao presidente, que têm como meta eleger um novo escolhido e manter a influência no Legislativo. Fabricinho quer o que ele teve 2018-2020 e passou a ter menos entre 2021 e 2022: a influência e o poder participativo das decisões internas, tanto administrativas quanto políticas.

O movimento capitaneado por Fabricinho consiste em arrebanhar vereadores e ex-vereadores que ainda possuem trânsito na Câmara, para aglutinar um grupo estruturado e majoritário contra Caldeira. Este grupo é partidariamente miscigenado, e tem sustentação direta do prefeito Sergio Vidigal, que é um personagem absolutamente decisivo neste processo.

É importante conjurar também os fatos de que Rodrigo Caldeira é pré-candidato a deputado federal; e por isso, tem tudo para ser um dos principais adversários da 1ª dama, Sueli Vidigal, que é pré-candidata ao mesmo cargo. Portanto, o processo de pré-eleição interna da Câmara também está diretamente relacionada as eleições gerais marcadas para outubro.

Na outra ponta, Rodrigo Caldeira, como já foi dito acima, é pré-candidato a deputado federal e quer dar um salto para a Câmara Federal; esse é o ‘Plano A’; e com chances de sucesso, já que a chapa do PSDB, partido pelo qual Caldeira é filiado, é tida como forte, podendo fazer dois e quem sabe, na sobra, três.

No entanto, caso tenha seus planos frustrados, já que política é uma relação de risco, ele trabalha para emplacar um sucessor na Presidência (ou ele mesmo, talvez…) que permita a ele a manutenção de parte de seu poder atual dentro de uma modelagem política mais independente ao Poder Executivo.

Apesar dos movimentos oposicionistas fortes; o grupo de Caldeira tem vereadores aliados a ele mesmo, por assim dizer, e também provenientes do grupo político do ex-prefeito Audifax Barcelos e do deputado estadual Vandinho Leite, o que, em tese, lhe confere uma base de apoio para se sustentar e ir atrás de outros parlamentares ainda ‘indecisos’ ou egressos do outro grupo. Vale ressaltar: a eleição interna da Câmara está marcada para novembro, portanto, depois das eleições gerais, e dependendo do resultado desta última, pode alterar todo o xadrez político.

Fabricinho diz que não quer “guerra” com Vidigal e aponta Audifax como pivô 

Fabricinho conversou com a redação e confirmou o racha. Ele deu a versão dele, sustentado na justificativa de que ele defendia uma relação saudável entre Câmara e o prefeito Sergio Vidigal.

“Nossa relação começou a esfriar há seis meses”, confirmou. E completou: “Quando ele [Caldeira] ganhou a eleição [de presidente] eu falei que não queria mais participar de guerra com o prefeito, falei que tínhamos que nos alinhar ao prefeito Vidigal, que estava com a gente na briga da Câmara [referindo-se a reeleição para presidência em 2021]”, começou.

“Se elegeu, colocou seu nome para deputado e começou a se aliar a pessoas ligadas a Audifax. Eu não quero mais participar de guerra contra a gestão. Isso colocou revolta entre alguns aliados da gestão, os 3 [vereadores: Serrinha, Paulinho do Churrasquinho e William da Elétrica] do PDT [partido de Vidigal], Galinhão, Fred, Saulinho, Alemão, Peixoto, Raposão, Jefinho e outros; o grupo que o reelegeu”, elencou Fabricinho.

E continuou: “eles passaram a me colocar na berlinda e questionar com quem eu ficaria, se com eles ou com Caldeira em uma nova guerra. Passei a traçar o meu relacionamento com o pessoal que estava chateado com o presidente. Passei a conversar com o prefeito e aliados e explicar que eu não queria mais esse tipo de relacionamento ruim com a CMS e que conversaria com Caldeira para tentar uma aproximação. Foi quando ele recebeu Audifax na Câmara, o que para mim foi a gota d’água. Uma pessoa que nos acusou de crime organizado. Eu não o recebi. Na política tudo é normal, mas tudo tem um limite”, acrescentou o ex-superintendente.

Vale lembrar que na época da visita de Audifax na Câmara da Serra, o Jornal Tempo Novo publicou um longo editorial dimensionando a importância desse movimento e as possíveis repercussões subsequentes a ele: para ler, clique aqui.

Ele explicou sobre a conversa que teve com o presidente Rodrigo Caldeira, antes da exoneração. “Na conversa de sexta-feira, ele falou que estava ruim o clima na Câmara e eu falei que tinha um projeto político e que neste projeto político ele não estava mais. Politicamente a gente é adversário. Preferi abrir o jogo porque lá na frente eu não ficaria com Caldeira. Não foi traição, eu não aceitei ele se aproximar do grupo de Audifax, entendi que eu também não era útil no processo mais, entendi como traição, trocávamos ideias e isso não estava mais somando, não tinha mais importância no processo. Não se ganha Câmara com mentiras, tem que ser verdadeiro”, disparou.

Ele ainda conta que chegou a dialogar com Audifax, antes da eleição de presidente em 2019. “Mas eu não confiava [no Audifax], conversava com ambos os grupos, mas não confiava em Audifax”, finalizou.

Caldeira diz que Fabricinho está “arranjando desculpa para sair” com objetivo de se juntar com prefeito e 1ª dama

O presidente Rodrigo Caldeira foi procurado para comentar o assunto, detalhar seus pontos de vista e rebater argumentos. Em uma curta mensagem de WhatsApp ele disse que a saída de Fabricinho “foi tranquila” e que ele está buscando desculpa para sair:

“Houve um acordo e ele quis sair. Não teve nenhuma citação a Audifax, e se ele disse isso eu entendo que é porque está em outro projeto, do prefeito [referência direta ao prefeito Sérgio Vidigal e a pré-candidatura da 1ª dama, Sueli Vidigal]. Ele tá arranjando desculpa para sair; porque não brigamos e foi tranquilo. Ele está em um novo projeto, que não é o meu”, completou.

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Gabriel Almeida

Jornalista há 11 anos, Gabriel Almeida é editor-chefe do Portal Tempo Novo. Atua diretamente na produção e curadoria do conteúdo, além de assinar reportagens sobre os principais acontecimentos da cidade da Serra e temas de interesse público estadual.

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