Racha de Arnaldinho parece ser só uma questão de tempo

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Ferraço, Arnaldinho e Casagrande: racha é questão de tempo? Crédito: Divulgação.

Parece ser apenas uma questão de tempo para o azedamento do clima entre a dupla Renato Casagrande e Ricardo Ferraço [governador e vice, PSB e MDB respectivamente] e o prefeito de Vila Velha, Arnaldinho Borgo. O recente episódio envolvendo a ‘pernada’ no PSDB capixaba, tomado de assalto por Arnaldinho, explicita que o prefeito não está para brincadeira e que vai passar o trator, se necessário, para atingir seu objetivo: ser o próximo governador do Espírito Santo.

Nesta semana, Arnaldinho anunciou sua filiação ao PSDB em uma costura feita em Brasília, articulada junto ao deputado federal Aécio Neves. E não apenas isso: ele ainda assumirá o comando da sigla no Espírito Santo, dando uma rasteira no deputado estadual Vandinho Leite, que até então presidia o partido.

Vandinho não é qualquer personagem nesse contexto. Líder do governo Casagrande na Assembleia Legislativa, ele é um dos aliados mais entusiastas de Ricardo Ferraço na disputa pela sucessão. Além disso, é sabido no meio político que Aécio Neves e Ricardo Ferraço nutrem certa dificuldade pessoal um com o outro, oriunda do período em que foram senadores juntos.

Arnaldinho segue simulando certo nível de alinhamento, como demonstra a citação em seu texto de anúncio da filiação, publicado nas redes sociais, de que o PSDB integra a base do governo Casagrande. Mas, diante desse novo cenário, isso passa a ser somente meia verdade, até porque aquilo que se entendia por PSDB capixaba até o início desta semana simplesmente não existe mais.

Na política, a forma é tão importante quanto o mérito e parece cristalino que Arnaldinho não vai recuar tão facilmente. E tende a recuar menos ainda o vice-governador Ricardo Ferraço, que tem todas as peças na mesa para ser candidato a governador dentro do arco de alianças construído por Casagrande. Ainda mais se as previsões se confirmarem de que Casagrande renunciará em abril para estar apto a concorrer ao Senado, repassando o cargo de governador, de fato, ao próprio Ricardo Ferraço.

Supondo que Arnaldinho tivesse feito um movimento mais polido [o que não ocorreu], ainda assim só faria real sentido em uma articulação casagrandista num cenário em que o governador não deixasse o cargo em abril e Ricardo não assumisse a função. Dessa forma, haveria de fato um processo de sucessão dentro do grupo de Casagrande a qual as forças que o compõe poderia fazer suas articulações numa espécie de corrida interna. Mas, na prática, não há essa ‘disputa interna’, já que tudo leva a crer que o atual governador vai mesmo se descompatibilizar.

Com isso, Ricardo assume e, pela natureza do processo, tentará a reeleição. As últimas pesquisas de intenção de voto mostram que, no cenário atual, Ferraço alterna a liderança junto ao eleitorado com o prefeito de Vitória, Lorenzo Pazolini (Republicanos), e sequer lidera os índices de rejeição, mesmo estando no poder.

Isso o diferencia de Pazolini e de Arnaldinho, que terão de renunciar às suas respectivas prefeituras para serem candidatos e, caso o façam, chegarão à eleição sem nenhum mandato. Diferentemente de Ricardo, que disputará já como governador de fato. Então, caro leitor, onde exatamente existe um processo de disputa interna pela sucessão de Casagrande?

Ferraço só não será candidato se ele mesmo não quiser e nada leva a crer que seja esse o caso. E a forma pela qual Arnaldinho escolheu fazer seu movimento revela muito mais do que o movimento em si. O racha ainda não está posto à mesa, mas parece ser apenas uma questão de afunilamento dos prazos eleitorais. Não se sabe ao certo se Arnaldinho age de maneira calculada, ou movido pela própria vaidade ou guiado por conselhos de terceiros, talvez até do ex-governador Paulo Hartung, quem sabe, mas é fato que o prefeito de Vila Velha vai precisar apertar o cinto, porque ele desenhou um alvo na própria testa.

Foto de Yuri Scardini

Yuri Scardini

Yuri Scardini é diretor de jornalismo do Jornal Tempo Novo e colunista do portal. À frente da coluna Mestre Álvaro, aborda temas relevantes para quem vive na Serra, com análises aprofundadas sobre política, economia e outros assuntos que impactam diretamente a vida da população local. Seu trabalho se destaca pela leitura crítica dos fatos e pelo uso de dados para embasar reflexões sobre o município e o Espírito Santo.

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