Bruno Lyra
A vitória do capitão reformado do Exército Jair Bolsonaro (PSL) na eleição para presidente da República põe à prova a jovem democracia brasileira, restabelecida há 35 anos após duas décadas da ditadura militar de 1964 a 1984. E não é só pelo fato da chapa do presidente eleito ser ‘puro sangue’ – seu vice é o general do Exército Hamilton Mourão.
Mas pelas declarações de Bolsonaro e aliados ao longo da campanha e antes do início do período eleitoral. Durante sua longa carreira de deputado federal, o presidente eleito proferiu frases polêmicas contra negros, homossexuais e mulheres. A mais famosa delas, ao discutir com a deputada petista Maria do Rosário, “Não te estupro porque você não merece”, rendeu a Bolsonaro condenação na Justiça. Elogiou várias vezes a tortura, o assassinato de opositores do regime militar, defendeu a “morte de corruptos”, incluindo do então presidente Fernando Henrique.
Já na campanha ao Planalto, Bolsonaro falou em metralhar adversários. Em forçar o exílio ou prender opositores. Meses antes do início do período eleitoral, seu filho Eduardo (eleito deputado federal por SP) ameaçou fechar o Supremo Tribunal Federal usando um cabo e um soldado do Exército. Republicado dias antes do pleito no 1º turno, o vídeo com a declaração gerou indignação entre ministros do STF. Por mais de uma vez, Bolsonaro e aliados lançaram dúvidas sobre a lisura da votação nas urnas, dizendo que se perdessem a eleição não aceitariam o resultado alegando fraude.
Uma vez eleito, Bolsonaro moderou seu discurso. Prometeu respeitar a Constituição, o pluripartidarismo e a liberdade de imprensa, embora continuasse mirando duras críticas a pelo menos parte desta última. Mas o fato de ter corroborado a estranha campanha para denunciar professores com ‘viés ideológico’ em aulas só ajuda a lançar mais incertezas sobre o que será o governo do capitão Jair Messias.
Que com parte das forças armadas e polícias ao seu lado, se submeterá à Constituição? Aceitará a independência do Ministério Público, Polícia Federal, dos outros órgãos de controle, do próprio judiciário, se os malfeitos a serem investigados e julgados estiverem no âmago do governo? Receberá pacificamente críticas e o jogo da oposição no congresso e nas ruas? O Brasil resolveu pagar para ver.
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