Políticos bolsonaristas do ES sofrem  derrotas nos últimos dias do ano

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Os deputados Assunção, Carlos Von e a vereadora Jéssica. Fotos: Divulgação Ales/Reprodução de vídeo
Os deputados Assunção, Carlos Von e a vereadora Jéssica. Fotos: Divulgação Ales/Reprodução de vídeo

Num dos estados mais bolsonaristas do Brasil, o Espírito Santo, políticos identificados com atual presidente sofreram duras derrotas nos últimos dias do ano. Alguns tiveram até problemas com a Justiça, por serem suspeitos de fomentarem protestos antidemocráticos e inconstitucionais no ES que pedem a anulação das eleições de outubro, intervenção militar e manutenção de Jair Bolsonaro (PL) – candidato à reeleição derrotado pelo presidente eleito Lula (PT) – à frente do Palácio do Planalto.

 

É o caso dos deputados estaduais Capitão Assumção (PL) e Carlos Von (DC). Por decisão do juiz do Supremo Tribunal Federal (STF) e presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moares, os políticos foram alvo de ação de busca e apreensão em seus gabinetes no último dia 15. Também passaram a ter que usar tornozeleira eletrônica, foram proibidos de deixar o Espírito Santo e de usarem redes sociais e concederem entrevistas, sob pena de multa de diária de R$ 20 mil em caso de descumprimento.

No início de dezembro, Carlos Von já tinha sofrido outro revés. O Tribunal Regional Eleitoral (TRE) determinou a inelegibilidade do político por oito anos, sob a acusação de abuso do poder econômico no pleito de 2020, quando Carlos Von concorreu – e perdeu – à prefeitura de Guarapari, município de seu reduto eleitoral. Depois de ter sido eleito pela primeira vez à Assembléia Legislativa em 2018 com mais de 14 mil votos, Carlos Von não conseguiu repetir o feito em 2022, obtendo apenas 9 mil votos. Ele deixará o mandato em 1º de janeiro.

Militar com posições de extrema direita, Capitão Assumção já havia sido condenado a cinco anos de prisão por ser um dos principais líderes da greve da PM capixaba em fevereiro de 2017, que resultou na maior crise de segurança da história recente do ES com mais de 200 mortes e centenas de lojas saqueadas em 22 dias.

Assunção acabou cumprindo a pena em regime aberto e sem prejuízo à sua atuação de deputado eleito em 2018. Em 2020 outra polêmica: o deputado virou alvo de investigação após se envolver em acidente com morte de um motociclista no norte do ES. Assumção dirigia o carro da Assembleia Legislativa que bateu com a moto e estava com a carteira de motorista vencida desde 2017.

Mas diferente de Carlos Von, Assumção foi reeleito deputado estadual, obtendo mais de 98 mil votos, a 2ª maior votação para o cargo na eleição de 2022. Já de tornozeleira eletrônica determinada pelo STF por conta do inquérito sobre os atos antidemocráticos, Assumção foi diplomado no último dia 19 de dezembro para o próximo mandato na Assembleia Legislativa.

Ofensa a eleitores e tentativa de atropelamento

Outro caso de derrota de político bolsonarista foi o da vereadora de Domingos Martins, Jéssica Barcelos (PODEMOS). Ela conconcorria à presidência da câmara de vereadores do município das montanhas capixabas na chapa apoiada pela prefeito Wanzete Krugrer (PP), mas foi retirada da posição por conta da repercussão negativa entre a comunidade local.

Tudo porque na noite de 30 de outubro de 2022, ao término da votação do 2º turno das eleições presidenciais e de governador, Jéssica gravou, vestindo a camisa amarela da seleção brasileira de futebol, diversos vídeos ofendendo e xingando eleitores do presidente eleito Lula.

Não obstante, discutiu com pessoas que comemoravam o resultado na rua. E ainda estava no banco do carona de um carro, dirigido por um homem identificado apenas como Vágner – que seria o namorado da vereadora – que foi lançado propositalmente contra as pessoas e por pouco não as atropelou. A tentativa de atropelamento também foi gravada em vídeo.

Lava jatista desconvidado para cargo na PRF

Embora não demonstrasse ser bolsonarista efusivo, o secretário de Estado de Controle e Transparência, Edmar Camata (PSB), protagonizou caso de grande repercussão nacional. É que ele havia sido convidado pelo futuro ministro da Justiça, Flávio Dino, para comandar a Polícia Rodoviária Federal (PRF). E logo depois acabou desconvidado.

Ocorre que logo após o anúncio do nome de Edmar, que também é policial rodoviário de concursado, surgiu a informação de que o capixaba já havia defendido a prisão de Lula; de que Camata seguia o presidente Bolsonaro nas redes sociais (e não seguia Lula até a 21 de dezembro). E de que ainda o secretário do ES foi ferrenho defensor da Operação da Lava Jato, inclusive durante as eleições de 2018, quando concorreu ao cargo de deputado estadual e não foi eleito.

O então promotor Deltan Dalaggnol com Edmar Camata em evento da época da Lava Jato. Foto: Reprodução Facebook

Fatos que tornaram insustentáveis o nome de Camata no futuro governo Lula, sobretudo numa corporação onde o bolsonarismo tem grande penetração. Corporação inclusive que protagonizou dois momentos polêmicos em 2022: as operações que atrasaram viagens de ônibus com eleitores no Nordeste no dia do 2º turno e, já após o resultado, a lentidão para reprimir os bloqueios das estradas federais por bolsonaristas que contestavam o resultado das urnas. Ambas as situações são alvos de inquéritos na Justiça.

 

 

Foto de Gabriel Almeida

Gabriel Almeida

Jornalista há 11 anos, Gabriel Almeida é editor-chefe do Portal Tempo Novo. Atua diretamente na produção e curadoria do conteúdo, além de assinar reportagens sobre os principais acontecimentos da cidade da Serra e temas de interesse público estadual.

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