
Em entrevista exclusiva ao Jornal Tempo Novo, o pai de uma aluna de quatro anos de idade denuncia que foi vítima de homofobia e discriminação durante uma reunião na última semana com a pedagoga do Centro Municipal de Educação Infantil (CMEI) Leandro Ferreira, localizado no bairro Taquara II, na Serra. A prefeitura já está investigando as denúncias.
A filha dele teria sido acusada de possuir uma “maldição hereditária” e orientada a “procurar uma igreja”, além disso, foi apontada como “dependente de drogas”. Uma das causas do seu comportamento, inclusive, seria o fato dela ser filha adotiva de um casal homoafetivo.
O gerente de vendas, Danilo Lobão, conta que a filha chegou em casa na semana anterior falando que não queria mais ir para a escola e com um recado na agenda da professora solicitando uma reunião com o responsável pela menina.
Ao chegar na unidade no dia marcado, o pai foi recebido pela pedagoga que, ainda no portão, informou que também participaria da conversa. “Ela me perguntou tudo sobre como foi o processo de adoção da minha filha e como era a família biológica dela que, segundo ela, ajudaria a entender o comportamento da minha filha”.
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“Maldição hereditária”
O pai relata que passou todas as informações para a pedagoga a fim de buscar um possível entendimento para a situação da menina. “Achei que ela ia ter ética profissional para conduzir aquela situação, mas depois que falei todos os fatos, ela simplesmente falou na minha cara que minha filha tem uma maldição hereditária e precisa ser levada para uma igreja e psicólogo”.
Segundo Danilo, a profissional prosseguiu afirmando que a criança “não é normal como as outras” e que a situação dela decorre do vício da mãe biológica. “Ela (pedagoga) falou, inclusive, que pode ser abstinência das drogas que a mãe da minha filha usava quando estava grávida. Ainda virou e falou para a professora que agora entendia a razão da minha pequena ser tão elétrica”.
Denúncia de homofobia
“Ela disse que o comportamento da minha filha estava relacionado ao fato de ser muito difícil para uma criança ser criada por dois pais.”
Danilo detalha que ficou tão extasiado diante da situação que não percebeu no momento que também foi vítima de homofobia. “Não posso permitir que ela fale dessa forma com uma criança de apenas quatro anos de idade, ela está falando do maior amor da minha vida, que é a minha filha. Inclusive, quem me garante que agora ela não vai contar para todos os professores que a minha filha é filha de uma drogada, que ela é uma pobre coitada? O processo de adoção não funciona dessa forma”.
De acordo com o pai, ele buscará a justiça para o caso e já formalizou uma queixa na ouvidoria contra a profissional, abrindo também um boletim de ocorrência.
Má conduta de pedagoga em escola da Serra
O pai conta que a profissional apresenta má conduta não apenas com os alunos, mas também com os pais e profissionais. “Conversei com outros pais e percebi que não é a primeira vez que ela é preconceituosa. Ela é autoritária até com os funcionários da escola e quando cheguei na escola para descobrir o que tinha acontecido com minha filha, ela recomendou investigar a professora, que poderia estar cometendo alguma maldade”.
A menina estuda na unidade há quatro anos e, segundo o pai, não é a primeira vez que vê a pedagoga destratando professores. “A pedagoga virou para a professora na minha frente e falou que quem manda aqui era ela e a mandou voltar para a sala porque as crianças estavam sozinhas, mas na verdade tinha duas outras professoras na sala. Isso apenas porque a professora discordava dela”.
E prossegue: “Ela é totalmente despreparada para o cargo e não entende que não é psicóloga ou neuropsiquiatra para sair diagnosticando alguém, ainda mais uma criança”.
Prefeitura da Serra abre investigação para apurar denúncias
Em nota enviada ao Jornal Tempo Novo, a Prefeitura da Serra informou que não compactua com nenhum tipo de preconceito, discriminação ou atitudes que promovam desigualdade.
Ressaltou ainda que uma educação de qualidade é feita numa parceria entre família e escola, com a atuação de profissionais que levem em conta a diversidade presente na comunidade escolar.
Diante dos fatos narrados, será enviada equipe disciplinar pedagógica ao CMEI Leandro Ferreira a fim de que seja investigada a atuação da pedagoga e tomadas as medidas cabíveis.
Declarou também que a Secretaria Municipal de Educação está à disposição da criança e de sua família.

