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Para viver num mundo mais árido

Por Bruno Lyra

Os moradores da Serra, das outras cidades da Grande Vitória e do restante do ES terão que se acostumar a viver com pouca água. A superseca – a pior já registrada na história do estado – é passageira, uma hora volta a chover. Isso pode resolver o problema da escassez por umas semanas, mas a escassez de água logo voltará.

O motivo é simples. Enquanto o volume de água das atuais fontes fornecedoras – rios e lençóis subterrâneos está caindo por conta das mudanças climáticas e má gestão, o consumo aumenta. Seja pelo crescimento da população, seja porque o consumo per capta é cada vez maior. 

O caminho para não ficar sem água em casa é ser criativo (a) e se adaptar a nova realidade. Na semana passada Tempo Novo mostrou exemplos de moradores da Serra que já estão fazendo isso. Gente que cria reservatórios para guardar a água da máquina de lavar roupa; que capta água de chuva; que recupera a água do ar condicionado; que reaproveita água usada para lavar alimentos e usa para molhar plantas.

E mais: utiliza o líquido descartado das piscinas para limpar chão; usa balde para lavar carro e reduz a freqüência desse ato. Nem precisa dizer que banhos mais curtos com torneiras fechadas ao ensaboar e também ao lavar louça e escovar dentes é dever de casa inadiável.

Com o tempo novas regras devem impor as novas construções, comerciais e residenciais, um layout visando à recirculação de água. Também devem surgir mecanismos de punição efetiva a quem desperdiça.

Como o restante dos brasileiros – exceto os dos sertões mais secos – os capixabas se acostumaram com a abundância de água. Em grande parte do planeta já não é assim há décadas. A nossa vez chegou. E como estamos numa economia de mercado, água rara, água cara. Comida cara, bens caros. Tudo precisa de água para ser feito.

Além da criatividade, cabe ao cidadão cobrar dos políticos mais ações efetivas para aumentar a quantidade e qualidade das águas. É também tarefa deste eleitor – que é consumidor de bens e serviços – ver como as empresas estão tratando esse recurso, deixando de consumir produtos daquelas que são relaxadas com o precioso líquido. E cobrar que as autoridades exerçam o papel para o qual foram pagas e inibam as más práticas. 

Novas promessas do governador

É tradição dos últimos governos de Paulo Hartung (PMDB) e também do seu antecessor Renato Casagrande (PSB). Na semana internacional das águas, chama-se a imprensa, representantes das grandes empresas e lideranças políticas para uma pomposa solenidade no Palácio Anchieta, onde o governo anuncia ações em prol da conservação dos rios e garantia da segurança hídrica.

Nesta edição, Hartung foi bem ao admitir com ênfase que a superseca no ES não é um evento sazonal, mas fruto de mudanças climáticas profundas e que não atinge só o estado. Augusto Ruschi já alertava para isto na década de 1960. Seu filho André Ruschi, morto em abril de 2016, seguiu alertando para o perigo nos anos posteriores.

Em 2007 o Painel Intergovernamental para Mudanças Climáticas (IPCC, sigla em inglês) da ONU já avisava que o ES e parte do Brasil central, sul da Amazônia e a região Nordeste ficariam ainda mais quentes e a seca aumentaria ao longo no século XXI. 

Na época, pouco foi feito para reverter o quadro no ES. Muito dinheiro do Banco Mundial já entrava para obras de saneamento, mas rios, lagoas e praias da Grande Vitória não melhoraram. Já se falava na hipótese da planta siderúrgica de Tubarão (Vale e ArcelorMittal) usar esgoto tratado ao invés da água limpa do cada vez mais frágil rio Santa Maria. Hartung liberou a expansão das gigantes, a despeito das reclamações sobre a poluição do ar. E não as obrigou a usar esgoto tratado.

Agora o governador promete que isto vai acontecer. Essa promessa já tinha sido feita em 2015 em entrevista ao Tempo Novo. Hartung anunciou também a inauguração do sistema Reis Magos em maio para reforço no abastecimento da Serra. Tomara que a água do mar que invade o rio – cerca de 13km até o ponto de captação  e a pequena vazão em períodos de estiagem –  não inviabilizem o sistema.

Ana Paula Bonelli

Moradora da Serra, Ana Paula Bonelli é repórter do Tempo Novo há 25 anos. Atualmente, a jornalista escreve para diversas editorias do portal.

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