Por Bruno Lyra
O anúncio da Eco 101 de que não irá mais duplicar os mais de 400 km da BR 101 no estado é mais um duro golpe para os capixabas. O fato é mais um elemento que aumenta a insegurança política e econômica que assombra o estado nos últimos anos. A Eco 101 já não vinha cumprindo o contrato assinado junto a Agência Nacional de Transporte Terrestres (ANTT), responsável pela concessão das vias federais.
A duplicação de trechos que já deveriam estar prontos em maio – entre eles a parte entre Chapada Grande na Serra e a sede de Fundão – sequer tiveram obras iniciadas. Há pendências também em passarelas de pedestres e a vergonhosa situação da Rodovia do Contorno de Vitória, que está cheia de buracos e sem iluminação adequada. Detalhe que esse trecho foi duplicado antes da concessão. Obra totalmente paga com dinheiro público.
A Rodovia do Contorno fica entre o viaduto da Ceasa em Cariacica e o viaduto de Carapina na Serra. São pouco mais de 25 km onde está o principal parque logístico do estado. Inclusive o local está para receber a filial da Zona Franca de Manaus na área da Terca em Cariacica, já encostada na divisa com a Serra. A não duplicação da BR e o abandono de trechos nevrálgicos como o do Contorno, podem jogar um balde de água fria neste e noutros investimentos importantes previstos para virem para o estado.
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A notícia da não duplicação da 101 vem num momento que a economia capixaba vive uma crise ainda mais aguda do que a da economia nacional. O Espírito Santo perdeu parte dos Royalties com a nova regra que passou a distribuir esses benefícios do petróleo para estados não produtores; perdeu o Fundap e investimentos na área de comércio exterior. Mas o golpe mais duro foi à paralisação da Samarco (Vale + BHP), que além de tudo lançou resíduos da mineração na principal fonte de água capixaba – o Rio Doce – e ainda segue contaminando esse manancial e o mar sabe-se lá por quanto tempo.
Sem contar a dependência local das comodities como minério de ferro e celulose, itens que vêm dando sinais de declínio no cenário mundial em função das mudanças estruturais da economia.
E o esculacho é a vista e em dinheiro
O pedágio cobrado pela Eco 101 nas sete praças entre a divisa com o Rio de Janeiro e o extremo sul da Bahia, desde maio de 2014, é a vista e em dinheiro. Diferente da maioria dos estabelecimentos comerciais, onde o consumidor pode usar cartões de débito e crédito. A tarifa da Eco 101 já aumentou cerca de 40% de lá para cá. Inclusive, o último reajuste aconteceu em maio. E mesmo depois do anúncio da Eco de que não terá como duplicar a via, o pedágio segue sendo cobrado como se nada tivesse acontecido.
Só neste ano, até à tarde da última quinta-feira (27), 102 pessoas haviam morrido em acidentes no trecho de 460 km da BR 101 no ES. A concessão com a consequente cobrança do pedágio veio justamente para suprir a demanda da duplicação e reduzir essa carnificina.
A Eco 101 argumenta que não fez as obras e nem as fará porque a crise econômica reduziu o fluxo de veículos. Diante da cobrança por obras atrasadas anteriormente, o consórcio alegou dificuldade nas desapropriações e lentidão nas licenças ambientais. Argumentos que não convencem e que, pelo menos em parte, já foram desmascarados.
R$ 550 milhões é o que a empresa diz ter arrecadado em pedágio até agora. E afirma que investiu cerca de 880 milhões. É preciso uma auditoria independente para apontar de fato o quanto foi arrecadado e investido até hoje. O que não é admissível é que continue a cobrança de pedágio nas condições em que a BR 101 está.

