Outubro Rosa e saúde bucal: tratamento do câncer de mama pode levar à osteonecrose; saiba o que é e como prevenir

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osteonecrose
A osteonecrose se caracteriza como a morte do tecido ósseo na mandíbula ou no maxilar, que pode causar a exposição óssea, fortes dores. Crédito: Divulgação

Os desafios do tratamento do câncer de mama podem não se limitar à recuperação de cirurgias e dos efeitos colaterais da quimioterapia. Algumas modalidades de tratamento, especialmente os que utilizam o bloqueio hormonal, podem levar a fragilidades ósseas que comprometem os dentes, chegando a um quadro conhecido como osteonecrose dental.

Essa condição se caracteriza como a morte do tecido ósseo na mandíbula ou no maxilar, que pode causar a exposição óssea, fortes dores, risco aumentado de infecção e até mesmo de perda de parte da mandíbula, causando importantes mutilações.

“Para além de todas as preocupações e cuidados que o tratamento já exige, é importante também que médicos e pacientes tenham um plano de ação para lidar com eventuais efeitos colaterais dos quimioterápicos. Um deles, a menopausa precoce, pode trazer desafios para a saúde bucal das pacientes e está relacionado aos quadros de osteonecrose”, explica a dentista oncológica Beatriz Coutens ao TN.

Para entender o mecanismo da osteonecrose em pacientes que tratam tumores mamários, é necessário compreender que, em determinados tipos de cânceres de mama, as células tumorais “se alimentam” do hormônio estrogênio. Por isso, além de cirurgias e quimioterapia, o tratamento oncológico pode incluir também o bloqueio hormonal, que pode levar a uma menopausa precoce nessas pacientes, pela falta do hormônio.

“A chegada precoce da menopausa, por sua vez, está relacionada ao surgimento de casos de osteoporose. Uma classe de medicamentos utilizados para o tratamento dessa doença, chamada de bisfosfonatos, pode aumentar a chance do desenvolvimento da osteonecrose mandibular, uma condição potencialmente grave para a saúde bucal”, explica Coutens.

Os bisfosfonatos utilizados no tratamento da osteoporose podem inibir a reabsorção óssea na região da mandíbula, reduzindo a formação de novas células ósseas, o que pode levar à morte do tecido ósseo. É nesse ponto que se caracteriza a osteonecrose.

A prevenção é a melhor forma de abordar esse tipo lesão, portanto, os especialistas reforçam a necessidade de um plano de acompanhamento da paciente durante e após o tratamento do câncer de mama.

“Não se pode esquecer que, muitos efeitos colaterais podem continuar impactando a rotina de uma paciente pós câncer de mama por meses ou anos. Por isso, o ideal é que, após a conclusão de um tratamento, a paciente siga com acompanhamentos, que devem incluir visitas a um dentista oncológico, para monitoramento da situação dentária”, defende Coutens.

O bloqueio hormonal pode causar a menopausa precoce mesmo em pacientes jovens, com idade abaixo dos 35 anos de idade. Por isso, após o tratamento do câncer de mama, as pacientes devem ficar atentas a sintomas sugestivos da osteonecrose mandibular, como:

  • Dor na mandíbula;
  • Dentes soltos ou sensação de movimentação dentária;
  • Osso exposto na boca;
  • Secreção purulenta na boca;
  • Inchaço nas gengivas.

O tratamento da lesão vai depender do estadiamento da osteonecrose. “Nos estágios menos avançados, a raspagem do tecido morto, associada ao uso de antibiótico e analgésicos pode ajudar a contornar o quadro, no entanto, em casos mais graves, pode ser necessário um compilado de ações”, inicia.

“Primeiramente, é feita a remoção cirúrgica do osso morto e, em seguida, a bioestimulação do osso adjacente, com laser e outros medicamentos, para evitar a necrose do tecido ao redor. Diante de casos mais graves, pode até ser necessária a interrupção do tratamento oncológico, com a suspensão do uso dos bisfosfonatos, em coordenação com o oncologista que realiza o tratamento”, complementa.

Foto de Ana Paula Bonelli

Ana Paula Bonelli

Ana Paula Bonelli é repórter e chefe de redação do Jornal Tempo Novo, com 25 anos de atuação na equipe. Ao longo de sua trajetória, já contribuiu com diversas editorias do portal e hoje se destaca também à frente da coluna Divirta-se.

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