Por Bruno Lyra
Os capixabas e serranos precisam ficar de olho bem aberto com o que está acontecendo na Vale. É que a titã da mineração está promovendo mudanças na sua composição acionária, que deve refletir na governança. Qualquer alteração de rumo nesta empresa tem potencial para fazer o Espírito Santo e até parte do país tremer.
A Vale é uma das principais responsáveis pelo crescimento urbano acelerado da Grande Vitória a partir da década de 1960. Da Serra em especial, com a formação do Complexo de Tubarão, que atraiu a planta de produção de aço da CST (hoje ArcelorMittal) e as empresas satélites para os Civit’s.
Crescimento que trouxe, indubitavelmente, seus bônus. Mas também muitos ônus, dentre eles a favelização e a poluição. Basta lembrar que a cidade mais impactada pela industrialização calcada no megaprojeto siderúrgico da Vale, a Serra, se mantém no topo do ranking da violência no ES há mais de duas décadas. Em 2004 chegou a ser o lugar que proporcionalmente mais se matou no mundo dentre as cidades com mais de 100 mil habitantes.
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Da poluição, que morador da Grande Vitória não sofre com o pó preto? Seja pela depreciação de seu patrimônio e aumento de custo com limpeza de carros, quintais, casas e apartamentos; seja pelas doenças respiratórias causadas pela poluição do ar, que também contém os gases emanados do processo siderúrgico.
É inegável a influência da Vale sobre os poderes constituídos da república. Superdoadora das campanhas eleitorais quando as regras permitiam, a empresa acumula dezenas de multas ambientais na Grande Vitória, não paga nenhuma, mas continua operando normalmente. A licença do complexo de Tubarão é renovada automaticamente desde 2006. O processo criminal do desastre da lama da Samarco (Vale + BHP) foi suspenso. Menos de 1% das multas aplicadas neste caso foram pagas.
Nesta semana, o ex-prefeito da Serra e atual deputado federal Sérgio Vidigal apresentou proposta de alteração legal para que estados exportadores de minério também recebam royalties da mineração, benefício exclusivo aos produtores. Nada mais justo. O ES, por exemplo, distribui com estados não produtores os royalties do petróleo. Por que Minas não pode dividir os da exploração do minério de ferro conosco? Afinal, parcela importante dos impactos negativos está aqui. O rio Doce que o diga.

