No Espírito Santo, co-existe uma incompreensão de que estaria em curso uma espécie de “corrida” para ser o escolhido pelo governador Renato Casagrande (PSB) como seu sucessor no comando do Estado. Seria uma disputa velada entre diferentes grupos que compõem a base política liderada por Casagrande.
Embora existam outros, mas o principal expoente dessa percepção é o prefeito de Vila Velha, Arnaldinho Borgo, que atua de forma individual em uma verdadeira cruzada pré-eleitoral para se tornar o “escolhido” do governador. Ocorre que essa sucessão, na prática, não existe. Não há absolutamente nada que indique outro cenário que não seja a renúncia de Casagrande ao cargo de governador, prevista para abril do próximo ano, a fim de se tornar legalmente apto a disputar uma vaga no Senado Federal.
Nesse contexto, o governador em exercício durante, no mínimo, oito meses — incluindo o período eleitoral — será o atual vice, Ricardo Ferraço (MDB). E é exatamente nesse sentido que, atualmente, só há um pré-candidato realmente viabilizado: o próprio Ricardo Ferraço, que terá a prerrogativa constitucional de disputar a reeleição, caso queira, sem precisar se afastar do cargo.
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Mesmo que houvesse uma suposta sucessão, essa recairia sobre Ricardo. É claro que Casagrande exerce uma macroliderança muito forte nesse processo — sendo um dos governadores mais populares do Brasil em sua base eleitoral e vivendo o auge de sua longeva carreira política. Ainda assim, entre abril e dezembro de 2026, o governador será Ricardo Ferraço, que terá toda a visibilidade e as ferramentas políticas para ampliar sua influência: capacidade de aglutinar prefeitos, deputados, vereadores e lideranças de diversos segmentos, espalhando sua campanha por todo o Espírito Santo, além de contar com as inúmeras variáveis que compõem uma complexa disputa pelo governo.
Ricardo ainda possui um fator que joga muito a seu favor: caso seja reeleito em 2026, não poderá disputar novamente em 2030. Ou seja, será um governador de um ciclo de quatro anos, enquanto outro candidato poderia governar por até oito anos consecutivos (eleição + reeleição). Isso cria a perspectiva de um “reset” político no Estado, abrindo espaço para novas lideranças, como o próprio Arnaldinho e outros nomes emergentes.
São pelo menos três variáveis que Arnaldinho parece ignorar:
- Não existe sucessão de Casagrande;
- Ricardo é o único pré-candidato viabilizado;
- Se vencer, Ricardo não poderá disputar reeleição.
Lideranças experientes como Sergio Vidigal e Euclério Sampaio poderiam, em tese, embarcar numa corrida pré-eleitoral para ser “o escolhido”, mas compreenderam claramente esse contexto e não se colocaram nessa posição.
Resta a dúvida: por que Arnaldinho se comporta como pré-candidato dessa pseudo-sucessão, correndo o risco de implodir o grupo que governa o Estado? Muito provavelmente, ele pode estar envaidecido pelo poder e/ou sendo influenciado por conselheiros que desejam instrumentalizá-lo para confundir o cenário eleitoral. No entanto, não é crível supor ingenuidade, já que a política é darwiniana e, se fosse ingênuo, ele não teria chegado até aqui.
Portanto, por que continuar nessa corrida insana por uma sucessão que não existe, contra um futuro candidato no exercício funcional do cargo de governador e que se reeleito, teria somente um mandato completo? Estaria Arnaldinho tentando criar uma narrativa vitimista para justificar um eventual racha político e se eximir de compromissos firmados? Teria receio de ficar sem mandato a partir de 2029 e, por isso, estaria assumindo o risco agora numa disputa maior? Seja qual for a resposta, nada disso parece fazer sentido do ponto de vista pragmático.
Existem outras forças nesse processo que também buscam se viabilizar, como os deputados Da Vitória e Gilson Daniel. No entanto, tratam-se de personalidades mais distantes do núcleo político de Casagrande/Ferraço e que, nem de longe, receberam o mesmo apoio que Arnaldinho conquistou em razão da parceria estabelecida entre a Prefeitura de Vila Velha e o Governo do Estado.
Vila Velha não dispõe de orçamento público capaz de sustentar uma disputa política com o Governo. No Espírito Santo, a única cidade que tem essa capacidade é Vitória e, mesmo assim, é uma clara demonstração de falta de habilidade romper uma boa relação com o governo em nome de diferenças fundamentalmente políticas.

