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Município garante que ruína restaurada do Queimado terá vigilância e visitação

A entrega da obra está prevista para o dia 19 – data em que ocorreu a revolta dos escravos. Foto: Ana Paula Bonelli

Será entregue no próximo dia 19 de março, às 9h, a primeira etapa do restauro das ruínas da Igreja de São José do Queimado, palco da maior revolta de escravos do Espírito Santo – conhecida como a Insurreição do Queimado – que este ano irá comemorar 171 anos de história. E a Prefeitura da Serra garante que após a entrega das obras haverá vigilância para evitar vandalismo e depredação do local e visitas programadas ao que o município está chamando de Museu a Céu Aberto.

A visitação estará liberada após a inauguração da obra – e a prefeitura da Serra divulgará um telefone e um link no site da prefeitura para agendamento de escolas, faculdades e grupos que será organizado pela Secretaria de Turismo, Cultura, Esporte e Lazer (Setur).

Além do restauro, foi realizada pesquisa arqueológica, em que foram encontrados pedaços de prato, jarras, azulejos e outros itens, que podem ser visitados no Museu Histórico da Serra, na Serra Sede.

Existe, também, o projeto de incluir a história do Queimado num circuito turístico para fomentar o turismo histórico, além de incluir ações educativas envolvendo o ensino fundamental, tanto municipal quanto particular.

As ruínas ficaram abandonadas por anos e receberam via convênio com o Sindicato do Comércio Atacadista e Distribuidor do Espírito Santo (Sincades) e Instituto Modus Vivendi uma nova cara. O custo da obra foi de R$ 1.3 milhão e foi bancada pelo setor atacadista.

Projeto de restauro teve início há dez anos

O programa de restauro começou há dez anos com o projeto arquitetônico realizado pela Prefeitura da Serra. As obras, foram realizadas pelo Instituto Modus Vivendi que ao fazer a limpeza encontrou vestígios de elementos originais da igreja como o arco cruzeiro, a pedra do átrio, o piso antigo e a escada. Seguindo as normas internacionais de restauro, o projeto ganhou novo contorno e buscou evidenciar os marcos históricos. Na última quarta (11) funcionários faziam os últimos ajustes da obra.

O prefeito Audifax Barcelos, disse que Queimado tem uma importância histórica para o movimento negro local e nacional e que preservar esta história é fundamental e que sempre foi sua prioridade.

Audifax afirmou também que o município gastou R$ 1.5 milhão para fazer a iluminação da via que dá acesso Queimado. “Colocamos postes novos e fiação para facilitar a visitação de estudantes, turistas e moradores da Serra. Toda a obra, desde o início, há 10 anos é fruto de muito cuidado e sensibilidade. É uma grande emoção ver tudo isso pronto”, disse Audifax enfatizando que a obra é muito mais do que um restauro é uma vitória para uma cidade, que tem a maioria de sua população negra.

O prefeito também garantiu que irá alocar funcionários da Prefeitura para fazer a vigilância do local para evitar depredações e vandalismo após a entrega da obra, mas não passou detalhes de como irá funcionar.

Audifax também anunciou o início da segunda etapa do restauro que deverá começar nos próximos meses e contemplará o cemitério de escravos, que fica no fundo da igreja, paisagismo, calçamento, banheiro, sala de apoio para visitação e iluminação cênica do local. O plano para tornar o Queimado como Patrimônio Histórico Nacional também está em andamento e sendo realizado pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional).

Secretária de Direitos Humanos da Serra, Lourência Riani, comemorou a conclusão da obra. “O restauro é fruto de muito trabalho, muita luta. Agora podemos levar a história da maior revolta de escravos do ES para toda a sociedade serrana e capixaba. O Queimado antes esquecido agora poderá ser lembrado como símbolo de luta”.

Confira algumas imagens da obra da restauração – Fotos: Instituto Modus Vivendi

Programação na Semana do Queimado

A programação da Semana do Queimado vai começar na sexta-feira (13) quando começa o 2º Seminário do Queimado “Devolutivas e novas perspectivas”, às 18h, no CRAS de Laranjeiras. Vai ter homenagem aos guerreiros e guerreiras do Queimado. O seminário continua às 9h no sábado (14).

Na quarta (18), será a abertura  da exposição sobre o Queimado, com artefatos e encontrados durante escavação arqueológica no sítio histórico, às 19h, no Museu Histórico da Serra, na Serra Sede.

Na quinta-feira (19), acontece uma Sessão Solene na Câmara de Vereadores, às 18h e terá show com artista homenageado pelo movimento negro, às 20h30, na praça Chico Prego. Dia 25 de março, na Assembleia Legislativa acontece ou Sessão Solene, às 18h, em alusão a Insurreição do Queimado.

Caminhada noturna no sábado (21)

No dia 21 de março – um sábado – vai acontecer a 10ª Caminhada Noturna dos Zumbis Contemporâneas de Queimado. O evento é realizado pelo Fórum Chico Prego e este ano terá o tema ‘Kizomba: Construindo Ninhos e Voltando para Casa’.

A caminhada, tem um percurso de quase 18km, e ajuda a relembrar a luta do povo negro. O trajeto tem lindas paisagens pelo caminho até chegar ao sítio histórico. As inscrições para quem quiser participar estão abertas e são gratuitas e podem ser feitas por meio do endereço eletrônico https://forms.gle/4EcfeqQm8gPWCyJ88.

A chegada a Igreja de São José do Queimado está prevista para às 9h, do domingo (22). Durante o trajeto também serão preparados diversos momentos para que os caminhantes vivenciem a cultura Afro.

A saída está prevista para à meia noite da praça Chico Prego. A concentração acontece um pouco antes na praça da Igreja Matriz, também na Sede, às 21h. Lá vão acontecer apresentações de culturais, como declamação de poesias e capoeira, além de Feira de Afroempreendedorismo.

A chegada no Queimado está prevista para às 9h do domingo (22) quando acontecerá a celebração afro-popular-inter-religiosa. 

Negros assassinados são heróis na luta contra escravidão

De acordo com a Fundação Palmares, ligada ao Governo Federal, a Insurreição do Queimado foi o principal movimento contra a escravidão ocorrido no Espírito Santo. A revolta nasceu de uma promessa não concretizada de liberdade, feita pelo frei italiano Gregório José Maria de Bene aos escravos da vila.

O missionário teria garantido a negociação da alforria com os donos de fazendas, em troca da construção do templo pelos escravos. Porém há outra versão que o frei teria apenas prometido interceder junto aos fazendeiros para obter a concessão da alforria.

O fato é que a não concessão da liberdade deflagrou a rebelião. Relatos de descendentes dos sobreviventes apontam que mais de 300 pessoas entre homens, mulheres e até crianças participaram da Insurreição. A repressão violenta culminou na maioria dos revoltosos assinada pela polícia provinciana. Dentre eles, dois dos líderes do movimento: Chico Prego e João da Viúva. Outra liderança, Eliziário Rangel, conseguiu fugir da prisão antes de ser executado. Esses três personagens e outros anônimos revoltosos, hoje são considerados heróis da luta pelo fim da escravidão no Brasil, que só iria ocorrer oficialmente em 13 de maio de 1888.

A vila de Queimado era próspera por ser entreposto para a navegação fluvial entre Vitória e Santa Leopoldina no século XIX. Com o declínio da navegação no rio Santa Maria no século XX, a vila foi paulatinamente perdendo moradores até ficar abandonada. A mata Atlântica então foi se recuperando e envolvendo o local onde hoje estão as ruínas da igreja e cemitério.

Ana Paula Bonelli

Moradora da Serra, Ana Paula Bonelli é repórter do Tempo Novo há 25 anos. Atualmente, a jornalista escreve para diversas editorias do portal.

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