Moradores protestam contra obra de engordamento na Praia da Curva da Baleia

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Crédito: Bernardo Martinazzi

A Praia da Curva da Baleia, que fica entre Manguinhos e Jacaraípe, na Serra, foi palco de um protesto na manhã deste sábado (15), quando moradores, ambientalistas e frequentadores se reuniram para manifestar preocupação com as obras de engordamento realizadas pelo Governo do Estado. O ato, marcado para as 8h, reuniu pessoas que afirmam que a intervenção estaria provocando impactos ambientais significativos na região.

Segundo um dos organizadores, Bernardo Martinazzi, a obra inclui a colocação de grandes blocos de concreto e pedras diretamente no mar, em uma área considerada sensível por abrigar vegetação nativa e ecossistemas costeiros importantes. Os manifestantes alegam que o processo estaria alterando o equilíbrio natural da praia e ameaçando espécies que dependem daquele ambiente para sobreviver.

Um dos principais pontos levantados durante o protesto foi a preocupação com o ciclo de desova das tartarugas marinhas, que utilizam a faixa de areia da Curva da Baleia como área de reprodução. Para o grupo, a movimentação de máquinas pesadas e a presença de estruturas artificiais podem interferir nas rotas das tartarugas e comprometer a continuidade do processo reprodutivo.

Os participantes também criticam o que classificam como falta de diálogo e transparência na condução do projeto. De acordo com os manifestantes, decisões sobre obras de grande impacto ambiental deveriam envolver consultas públicas e estudos amplamente divulgados para a população.

O ato buscou chamar a atenção das autoridades para que os impactos sejam reavaliados e para que a comunidade seja ouvida. “A natureza precisa de todos nós”, diz Martinazzi, um dos organizadores, reforçando que o objetivo do protesto é garantir a preservação da praia e do ecossistema local.

O Jornal Tempo Novo procurou o Governo do Estado para obter esclarecimentos sobre a obra e seus estudos de impacto, e aguarda retorno.

Impacto ambiental

O oceanógrafo Felipe Lacerda, que também é morador da região, desaprova a obra apontando que não houve diálogo com os moradores locais. “Eles estão tentando enfiar pedra nas nossas praias, essa é a verdade. Querem urbanizar as praias de um jeito que não condiz com o que deveria ser. Todo projeto, toda legislação do gerenciamento costeiro do Brasil e do Estado prevê a participação popular em qualquer intervenção na orla, e aqui não tem nenhuma participação popular. Não há debate nenhum, estão botando pedra, já começaram as obras. O Capuba já foi aterrado, e a famosa onda de surf do Capuba não vai existir mais porque agora tem pedra. E estão fazendo a mesma coisa na Curva da Baleia”.

De acordo com o especialista, a obra não é um projeto de conteção de erosão e destacou outros tipos de intervenções que poderiam ser aplicadas no local. “Existem outros tipos de intervenções que poderiam ser feitas, como engorda de praia, revitalização da restinga, remoção de espécies exóticas. Mas não, eles optaram pelo caminho mais fácil, que é pegar pedra e jogar em cima da praia, ainda dizendo que isso é tecnologia avançada. Tecnologia avançada é tecnologia verde: restaurar a restinga, reintroduzir espécies nativas como a arueira e a pitangueira, fazer a contenção nas épocas certas. No inverno, a onda vem, tira a areia; no verão, a areia volta. Daqui a pouco a praia vai estar toda tomada por pedra e não terá faixa de areia, porque não estão respeitando o ciclo natural”.

Felipe Lacerda destacou diversos impactos ambientais que a obra provocará. “Estão interferindo diretamente em uma área de coral e em uma biodiversidade costeira importante. Não estão respeitando os ecossistemas, e isso pode comprometer desde o ciclo natural da areia até a fauna local, incluindo espécies marinhas que utilizam a praia para reprodução”.

O ambientalista reforça que é necessária maior transparência e participação da população antes de qualquer intervenção na orla e que projetos de contenção de erosão devem respeitar o equilíbrio natural e priorizar soluções ambientalmente sustentáveis.

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Jady Oliveira

Jady Oliveira é repórter do Portal Tempo Novo, onde cobre temas variados com foco em notícias policiais e acontecimentos do dia a dia na cidade da Serra.

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