A Associação de Moradores de Praia de Carapebus realizará, nesta terça-feira (18), uma reunião decisiva com representantes da ArcelorMittal para tratar dos constantes odores que vêm afetando a rotina e a saúde da população local. O encontro acontecerá no Cerimonial Estância, ao lado do CMEI Maria Amélia, e deve reunir mais de 100 moradores, segundo estimativas da organização.
Os relatos da comunidade apontam que, há pelo menos três anos, fortes odores, frequentemente descritos como um “cheiro de enxofre”, atingem o bairro principalmente durante a noite, entre 22h e 3h da manhã. Segundo os moradores, o problema provoca náuseas, dores de cabeça e grande desconforto, variando conforme a direção dos ventos.
Cansados da situação e sem soluções efetivas, os moradores procuraram o Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema), que elaborou um relatório técnico sobre a questão. E segundo a organização, o documento abriu caminho para a criação de uma linha de diálogo direto entre a comunidade e a ArcelorMittal.
Em uma primeira reunião, realizada recentemente, a empresa — pela primeira vez, segundo participantes — não negou a existência do problema. Representantes reconheceram falhas e se comprometeram a abrir um processo mais transparente de escuta e resposta. Como desdobramento, a ArcelorMittal aceitou comparecer presencialmente à comunidade para apresentar um relatório técnico contendo possíveis soluções e, ao mesmo tempo, ouvir diretamente os relatos dos moradores.
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A empresa já havia implementado ações de longo prazo, com a criação da “Rede de Percepções de Odores” em parceria coma UFES, mas a comunidade afirma que isso não é suficiente. “Não queremos apenas uma rede de percepção, queremos uma rede de solução”, reforça Anderson Muniz, presidente da associação, ao Tempo Novo.
Durante a reunião desta terça, a expectativa é ampliar o debate, registrar novas ocorrências e pressionar por medidas imediatas que reduzam o impacto dos odores na qualidade de vida local. A Associação de Moradores planeja ainda abrir um canal permanente para a população poder relatar novos episódios organizadamente, fortalecendo o registro coletivo do problema.
A participação da comunidade é considerada fundamental para o avanço das negociações. “Queremos que todos estejam presentes. É um momento importante para mostrarmos a força da nossa união e garantirmos que o problema seja tratado com seriedade”, destaca a liderança do grupo.
A reunião está marcada para as 19h, no Cerimonial Estância. A associação reforça o convite a todos os moradores afetados.
Relatório do Iema apontou padrão de emissões
Entre os dias 10 e 11 de julho de 2025, o Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema) realizou investigações no bairro Praia de Carapebus após uma série de denúncias feitas por moradores sobre fortes odores que surgiam durante a noite e madrugada. A mobilização ocorreu após um pico de 32 reclamações em apenas um dia, totalizando 54 registros desde o fim de maio.
Segundo o documento, durante as vistorias, a equipe identificou seis pontos críticos com forte odor, todos localizados nas proximidades da unidade da ArcelorMittal. Os servidores descreveram os cheiros como semelhantes a gasolina, querosene, solventes, plástico queimado e enxofre, relatos que coincidem com as queixas dos moradores.
O relatório afirmou que as plumas se apresentavam “visíveis, densas e com odor característico”, formando uma espécie de névoa conforme se dispersavam pelo bairro durante a noite e madrugada. Embora o estudo não tenha confirmado toxicidade, por falta de análises laboratoriais que definam a composição química das emissões, o documento reforçou que os efeitos sentidos (irritação nos olhos, náusea, mal-estar e irritação na garganta) foram observados tanto por moradores quanto pelos próprios servidores.
O relatório também indicou que, embora ainda não seja possível identificar com precisão as fontes específicas das emissões, a dinâmica observada sugere forte correlação com as atividades da ArcelorMittal. Além disso, redes de esgoto, comércios e residências foram descartados como possíveis fontes naquele momento.

