
Um clima de instabilidade foi instaurado, mais uma vez, na Associação de Moradores de Parque Residencial Laranjeiras (AMPRL), na Serra. Um grupo de cerca de 200 moradores do bairro se uniu e fez um abaixo assinado com o intuito de destituir a atual diretoria – encabeçada por Lusmar Furtado. A reivindicação é contra o suposto fechamento da biblioteca mais antiga da Serra, situada nas dependências da instituição.
Conforme informado anteriormente pelo Jornal TEMPO NOVO, a atual diretoria da Associação de Laranjeiras classificou a biblioteca comunitária como “um problema”, “espaço subutilizado” e “lan house”. No dia 21 de setembro, a Associação confirmou, ao Jornal, que está estudando o fechamento da biblioteca, ou, ao menos, uma readequação do espaço.
Após a publicação da matéria e com o assunto ganhando repercussão, um grupo de populares se uniu e conseguiu mais de 200 assinaturas em apenas dois dias. O abaixo assinado tem como principal objetivo impedir que a biblioteca seja fechada. No entanto, segundo os organizadores, caso a ideia seja colocada em prática pela liderança comunitária, a comunidade vai se unir para pedir a destituição da chapa atual.
A biblioteca comunitária de Laranjeiras é a mais antiga da Serra e uma das primeiras que surgiram na América Latina. A funcionária da biblioteca Rejane Afonso confirmou a ameaça de convocar uma assembleia para destituir a atual diretoria.
“Estamos se unindo contra o fechamento da biblioteca. Não podemos deixar que essa atual diretoria feche esse bem público que já funciona há mais de 41 anos. Por isso fizemos esse abaixo assinado, que está sendo aderido por toda a comunidade, e se eles não pararem com esse projeto, vamos pedir a destituição”, disse.
Rejane Afonso disse ainda que alguns membros da diretoria da AMPRL estariam cometendo assédio moral contra ela e sua colega de trabalho. Rejane acusa Lusmar ainda de perseguição e humilhação e entrou com uma denúncia no Ministério Público, além de registrar Boletim de Ocorrência.
“Todos os dias estamos enfrentando ataques da diretoria. Elas ficam nos perseguindo para que peçamos demissão e larguemos o cargo. Desta forma, a Associação poderia fazer o que quiser com o espaço. Somos nós que lutamos e seguramos esse desmonte, por isso, fui ao MP denunciar o assédio moral e fiz um BO contra a presidente”, disse.
Conforme informado anteriormente, a biblioteca chegou a ficar por semanas completamente fechada em junho deste ano. Na ocasião, uma fonte ouvida pela reportagem que faz parte da chapa eleita para diretoria da Associação e pediu para não ser identificada por medo de represálias também denunciou o suposto desmonte do bem público.
“Já ouvimos que a diretoria possui novos projetos para o espaço, que segundo eles, estaria sendo mal utilizado. O problema é que essa é uma das únicas bibliotecas comunitárias da Serra e possui uma carga histórica com todos nós”, disse.
Vale ressaltar que a Associação de Moradores de Laranjeiras possui mais de R$ 100 milhões de patrimônio e é uma das mais ricas do Espírito Santo.
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Moradores pedem manutenção do espaço
Desde que o assunto ganhou repercussão, moradores que utilizam a biblioteca estão se movimentando para impedir o fechamento. Um deles é Denilson Magalhães.
“A nova administração da Associação de Moradores de Laranjeiras, que está com ideia, de fecha a biblioteca da instituição vai causar um dano muito grande aos moradores do bairro; isso é inadmissível”, afirmou.
Outro usuário da biblioteca praticamente desde que ela existe é Jean Nay. “Se for necessário faremos uma mobilização pública. O acervo de lá é grande, eu faço uso do espaço desde os meus sete anos e com certeza os livros que estão lá, que estão considerando obsoletos, podem auxiliar muito estudante carente a ter acesso a livros de autores renomados”.
Associação recua e diz que biblioteca não será fechada
O Jornal TEMPO NOVO tentou, mais uma vez, contato com a presidente da Associação de Laranjeiras, Lusmar Furtado, mas não obteve sucesso. As ligações não foram atendidas e as mensagens não tiveram retorno. No entanto, a assessora jurídica da AMPRL, Lilian Souto, conversou com a reportagem e afirmou que o abaixo assinado não possui fundamento e, por isso, não é possível destituir a atual chapa.
Lilian também voltou atrás e, desta vez, afirmou que a biblioteca não será fechada. “Nós não vamos fechar a biblioteca, o que nós queremos é modernizar o espaço, oferecer novos computadores, cursos, atividades para que o movimento volte para aquele espaço. O nosso programa de gestão lançado na campanha já previa a manutenção da biblioteca e reformulação do espaço”, destacou.
Lilian ainda disse que as acusações das funcionárias do espaço são infundadas. “O problema é que temos uma pessoa que toma conta da biblioteca, mas está de forma ilegal. Ela se nega a assinar a carteira ou a ter qualquer tipo de vínculo com a associação. Nós queremos apenas que ela se regularize. Infelizmente, essa pessoa está se passando por dona do espaço e nega aceitar qualquer tipo de ordem da associação”, informou.
A assessora jurídica da AMPRL ainda afirmou que os moradores do bairro não possuem base para pedir destituição da chapa. “Podem fazer milhões de abaixo assinado, mas não é assim que retira uma diretoria de associação. Eles não têm provas contra a gente e estão baseados em fake news. Querem atrapalhar o nosso trabalho, mas nós lutamos por sete anos para assumir esse bairro e não é agora que irão nos retirar”, acrescentou Lilian.
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Entenda a polêmica
Conforme noticiado pelo TEMPO NOVO, nos últimos dias, segundo os moradores, a biblioteca estaria completamente fechada e a entrada de usuários estaria sendo impedida. Uma das populares que denunciou a situação foi a Graça Egner. Moradora antiga do bairro, ela relata dificuldades para acessar as dependências do centro comunitário ao todo.
Vale ressaltar que a biblioteca é comunitária e possui administração da Associação de Moradores de Parque Residencial Laranjeiras, que atualmente está sob a gestão da presidente Lusmar Furtado.
“Já faz tempo que a Associação está deixando a nossa biblioteca completamente fechada. Estamos sendo impedidos de acessar o local, que é nosso. A atual gestão do bairro demitiu funcionários e deixou o espaço vazio, sem pessoas que pudessem nos atender. Isso me deixa triste; sempre utilizei a biblioteca e não somente para leitura, mas também para fazer cópias, digitalização e informática”, denunciou Graça.
Uma fonte ouvida pela reportagem que faz parte da chapa eleita para diretoria da Associação e pediu para não ser identificada por medo de represálias também denunciou o suposto desmonte do bem público. “Já ouvimos que a diretoria possui novos projetos para o espaço, que segundo eles, estaria sendo mal utilizado. O problema é que essa é uma das únicas bibliotecas comunitárias da Serra e possui uma carga histórica com todos nós”, disse.
Em setembro de 2017, o Jornal TEMPO NOVO divulgou uma matéria onde demonstrava a importância da biblioteca, que fica dentro das dependências da associação. Naquela época, o local recebia cerca de 43 mil visitantes por ano e possuía um acervo de mais de 20 mil livros. Além disso, tinha um espaço para realização de pesquisas, utilizado por estudantes de escolas públicas e privadas.

