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Mestre ainda mais desprotegido

Bruno Lyra 

É a montanha que inspirou o nome da Serra. Tem um dos pontos culminantes da Grande Vitória com 833 metros de altitude e vista espetacular de 3600. Possui cerca de 800 hectares de mata Atlântica preservada (e ameaçada), quarenta nascentes que distribuem águas paras os manguezais do Lameirão e lagoas Jacuném e Juara.

Tem relevância histórica. Nas crônicas sobre a navegação do tempo da colonização portuguesa aparece como referencial geográfico para os navegadores que vinham à costa capixaba. Um dos líderes da Insurreição do Queimado, Eliziário Rangel, teria fugido para as suas matas para se abrigar da sanha sanguinária da polícia provincial que reprimiu a revolta dos escravos negros nos idos de 1849.

Foi visitado por um dos maiores naturalistas do século XIX, o francês Augusto Saint Hilare, que registrou a estupenda vida animal e vegetal em suas florestas em livro publicado na Europa em 1833 (a visita ocorrera em 1818). Se esses atributos não foram suficientes para garantir uma política efetiva de preservação do Mestre Álvaro até hoje, o que dizer então do projeto de lei do Governo Estadual, em trâmite na Assembleia Legislativa, para reduzir a Área de Proteção Ambiental (APA) de 3.470 hectares para 2.389 hectares?

No Mestre Álvaro há extensas áreas desmatadas. Caça e retirada clandestina de plantas ornamentais, como orquídeas. Trilheiros de motos. Há até pedreira, o mais radical dos impactos. Os alagados do entorno, formados por solo de turfa sujeito a incêndios em secas longas como a ocorrida entre 2014 e 2016, são alvos da expansão imobiliária. O dinheiro pago por Vale e Arcelor a título de compensação ambiental pelas expansões que realizaram a partir de meados da década de 2000, foi usado para fazer uma sede da Apa fora do próprio Mestre Álvaro. A decisão foi da Prefeitura, gestora da obra, com aval do Estado, que aprovou o uso do dinheiro.

O argumento do Governo de que a redução é para adequar a APA à realidade da ocupação do Mestre Álvaro nas últimas décadas é um atestado de incompetência da gestão ambiental. E acontece num momento em que a pedreira que atua no Mestre Álvaro tenta renovar autorização junto ao município; em que a Vale ensaia jogar o minério com areia e sal que vai tirar das praias de Camburi aos pés do morro; e que o mercado imobiliário se assanha com a valorização dos terrenos alagados que o futuro Contorno do Mestre Álvaro (BR 101) vai gerar.    

Gabriel Almeida

Jornalista do Tempo Novo há mais de oito anos, Gabriel Almeida escreve para diversas editorias do jornal. Além disso, assina duas importantes colunas: o Serra Empregos, destinado a divulgação de oportunidades; e o Pronto, Flagrei, que mostra o cotidiano da Serra através das lentes do morador.

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