O cenário mais pessimista em torno do tarifaço de 50% anunciado pelo presidente norte-americano, felizmente, não se concretizou — ao menos no que diz respeito à economia exportadora da Serra. Na verdade, com a divulgação da lista de produtos excluídos do aumento das tarifas, confirmou-se a expectativa mais otimista, já que os principais itens vendidos pela cidade ao mercado dos Estados Unidos foram preservados.
A medida entra em vigor no dia 6 de agosto. Nesse novo contexto, os efeitos sobre a economia serrana tendem a ser muito mais brandos do que se previa. Mais de 80% de tudo que a Serra exporta tem origem na ArcelorMittal e nas empresas de rochas naturais, sendo que o maior volume é destinado aos Estados Unidos.
Felizmente, o setor siderúrgico foi beneficiado com a exclusão da incidência das tarifas, assim como alguns produtos do segmento de rochas, especialmente os de quartzo, voltados à exportação.
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O resultado final das tarifas representa, em certa medida, um alívio para a Serra, considerando que o Espírito Santo é o segundo estado brasileiro mais dependente do comércio com os norte-americanos — e a Serra é a cidade capixaba que mais exporta para lá. No fim das contas, o tarifaço de Trump está mais para uma “tarifinha”.
Se os efeitos imediatos devem ser bem menores do que o esperado, fica também o alerta: a dependência de um único mercado pode representar uma ameaça real à economia da cidade.
Para se ter uma ideia, em 2024 a Serra exportou US$ 2,146 bilhões, sendo que 61,8% desse total tiveram os Estados Unidos como destino. Isso significa que, com base nos dados do ano passado, cerca de US$ 1,33 bilhão em exportações estariam ameaçados pelas novas tarifas de 50% — o que encareceria os produtos da Serra em solo norte-americano e, consequentemente, reduziria sua competitividade no principal mercado externo da cidade.
De janeiro a junho deste ano, o percentual de exportações da Serra para os EUA foi ainda maior em relação aos 12 meses de 2024: expressivos 74,6% das vendas externas foram direcionadas aos norte-americanos — um total de US$ 633 milhões.
De maneira geral, a lista de produtos poupados por Trump revela que matérias-primas minerais foram protegidas, enquanto produtos de maior valor agregado enfrentarão sobretaxas.
O ferro gusa é a primeira forma metálica obtida a partir do minério de ferro e representa a base de toda a indústria siderúrgica. Na Serra, esse processo ganha escala e importância por meio da atuação da ArcelorMittal Tubarão, uma das maiores siderúrgicas do país e responsável pela maior parcela das exportações do município.
Em 2020, a ArcelorMittal Tubarão religou o alto-forno 2 após alguns meses de paralisação. Na época, a empresa informou que a capacidade de produção era de 1,2 milhão de toneladas de ferro gusa por ano e que toda a produção desse alto-forno seria destinada à exportação. Esse é o principal produto que sai da Serra em direção aos EUA — e que, felizmente, não sofreu a sobretaxa imposta por Trump.
No cenário pessimista, em que a cadeia do aço fosse incluída na taxação, a Serra teria enfrentado graves problemas de ordem econômica, já que a ArcelorMittal é a âncora da economia da cidade.
Guerra comercial não beneficia a Serra
Um ponto importante para a Serra nos próximos dias será a forma como o governo brasileiro responderá à taxação imposta pelos Estados Unidos. Embora a lista de produtos poupados tenha, de certa forma, “beneficiado” o município, há receio de que uma resposta retaliatória do presidente Lula possa, hipoteticamente, gerar dificuldades para as importações.
Assim como ocorre nas exportações, os Estados Unidos são também o maior parceiro comercial da Serra. E no centro dessa relação está novamente a ArcelorMittal, já que cerca de 50% do carvão utilizado como fonte energética na produção siderúrgica é importado do mercado norte-americano — o que pode prejudicar a operação da empresa caso haja alguma retaliação comercial.
Apesar de alívio, Ferraço faz alertas sobre economia capixaba

Segundo o vice-governador Ricardo Ferraço, que lidera o Comitê de Enfrentamento das Consequências do Aumento das Tarifas de Importação (CETAX), apesar de haver boas notícias, os impactos sobre a economia capixaba ainda serão sentidos de forma geral.
“Algumas coisas são positivas para nossa economia, como, por exemplo, a celulose e alguns produtos dos segmentos de rochas naturais e de siderurgia, que foram isentos. Ganhamos também mais uma semana antes de as taxas entrarem em vigor. Nesse prazo, vamos seguir em diálogo permanente com o setor produtivo. Nos antecipamos ao problema para organizar medidas de apoio e mitigação, com a garantia das empresas exportadoras de manter os postos de trabalho”, afirmou Ferraço.
Ele prosseguiu: “A taxação não causa problemas apenas na nossa economia. Vai causar também lá, e as empresas clientes dos produtos capixabas já estão se movimentando. A orientação do governador Renato Casagrande é para seguirmos próximos ao setor produtivo, e estamos organizados para oferecer apoio sob medida para cada necessidade.”
A presença de alguns itens estratégicos na lista de isenções foi recebida com certo alívio pelo setor exportador capixaba. No entanto, outras cadeias importantes, como a do café, ainda não foram contempladas. Representantes do setor cafeeiro reforçaram a preocupação com a ausência do grão entre os produtos isentos das tarifas.

