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João Miguel: o coronel libanês que segurou a Serra no punho de ferro para não virar cidade fantasma

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João Miguel e Anna Borges,juntos com os cinco primeiros filhos do casal: Flodoaldo, Abel, Antonio, Leonor e Anna. Entre 1905 e 1906. Fotografia consta no livro ‘Pelos Caminhos do Amor’, de Lia Feu Rosa Vecci.

Um imigrante libanês exerceu profunda influência na política e na economia da Serra no início do século XX. Conhecido como coronel João Miguel, este comerciante e político é muito pouco citado na historiografia serrana, mas sua memória ficou eternamente registrada ao dar seu nome para a Praça João Miguel em Serra Sede. Ali, localizava-se o casarão da Família Miguel, que por anos foi o local em que o destino da Serra foi traçado, em especial devido a uma violenta batalha política com a Família Castelo.

João Miguel é o patriarca de um agrupamento familiar que se ramificou para quase todas as famílias mais importantes da época, incluindo troncos familiares adversários. No período brasileiro da ‘República Velha’ (1889 – 1930), ele foi uma das pessoas mais influentes da Serra e chegou a exercer o cargo de presidente da Câmara que na época era equivalente ao de prefeito. Quando não esteve diretamente no poder, foi partícipe direto dele, seja na eleição de um aliado ou na oposição a algum adversário. Os últimos descendentes de João Miguel a exercerem cargos eletivos de grande expressão política foram os netos José Maria Miguel Feu Rosa, prefeito da Serra por duas vezes (assassinado em 1990 no exercício funcional do cargo) e João Miguel Feu Rosa, que deixou o mandato de deputado federal em 2007.

João Miguel Neffa Reine tem origem humilde e veio para o Brasil em busca de oportunidade; aqui ele teve 16 filhos, dos quais 2 não conseguiram sobreviver. Ele era natural da cidade costeira de Jounieh, no Líbano, que se localiza a 16 km da capital Beirute, e integra a chamada Grande Beirute. Em quase 40 anos vivendo na Serra, João Miguel se transformaria no homem mais rico e poderoso da cidade.

O memorialista, escritor e ex-prefeito da Serra, Naly Miranda, prestou enorme contribuição ao deixar registrado em seu livro, ‘Reminiscências da Serra’ (1983), um parágrafo inteiro dedicado a João Miguel. O texto deixa várias lacunas em aberto, porém, serve como base de compreensão da expressividade deste imigrante para a história da Serra. Nele, Naly Miranda diz que por volta do “último quartel do século passado” apareceu na cidade um estrangeiro. Naly se refere ao recorte de 1875. Este estrangeiro é João Miguel. Essa informação bate com dados informados pela filha de João Miguel, Dona Leonor Miguel Feu Rosa (já falecida) que fez um breve, porém importante registro sobre a vida de seu pai.

Para uma reportagem sobre a guerra no Líbano no Jornal ‘A Gazeta’ de 1984, ela deu algumas informações sobre o pai, das quais a de que João Miguel chegou ao Brasil ainda no século passado, com 14 anos. Essa mesma informação foi dada pelo escritor e ex-prefeito da Serra, Eryx Guimarães na coluna Terra Serrana na edição 232, de 1992 do Jornal Tempo Novo. Leonor também informou que o pai faleceu aos 52 anos.

Essas duas informações são fundamentais para datação desse personagem da vida real. Ao cruzá-las com a informação passada por Naly tem-se uma linha do tempo. Naly registrou que a missa de sétimo dia do falecimento de João Miguel ocorreu em 6 de agosto de 1927. Portanto ele morreu no final de julho daquele ano. Logo o libanês nasceu em 1875 e veio para a Serra em 1889, ano da Proclamação da República.

No Espírito Santo, o destina natural seria Vitória, porém, ele escolheu se abrigar na Serra para fugir de um surto de febre amarela que atingia a capital. No livro ‘Pelos Caminhos do Amor’ de Lia Feu Rosa Vecci, a autora (que é neta de João Miguel) afirma categoricamente que o avô foi o primeiro imigrante do Líbano a chegar ao Espírito Santo – que é absolutamente digno de nota, já que os libaneses foram um importante povo que ajudou a construir o Espírito Santo atual, tendo muitos de seus descendentes até hoje figurando na elite econômica de Vitória.

Vale destacar que nos anos de 1880 houve de fato um ensaio de imigração libanesa ao Brasil. Isso porque 4 anos antes o imperador Dom Pedro II fez uma incursão no país árabe que serviu para abrir as portas nas relações entre libaneses e brasileiros. Esse pioneirismo de João Miguel acabou caindo em esquecimento, talvez pela decisão de ter vindo para a Serra, até então um lugar vazio e economicamente pouco importante. Na base de dados da imigração estrangeira no Espírito Santo nos séculos XIX e XX, organizado por Cilmar Franceshetto, foram localizados 453 imigrantes libaneses em 45 municípios capixabas, com predominância para a região sul do Estado. Não há registro de imigrantes vindos para a Serra. Para se ter ainda mais dimensão do precursionismo de João Miguel, a maioria dos libaneses e sírios que entrou no Espírito Santo o fizeram entre os anos de 1910 e 1940, conforme assinala a historiadora Mintaha Alcuri Campos.

Ela explica em um artigo publicado na Revista do Instituto Jones dos Santos Neves, de 1985, que o processo de imigração libanesa se acelerou com a eclosão da Primeira Guerra Mundial, em 1914, com o envolvimento direto do Império Otomano, que, então, dominava o Líbano e a Síria. Ou seja, João Miguel veio para a Serra pelo menos 25 anos antes do primeiro grande movimento migratório libanês.

Freguesia de São José do Queimado em 1875, época em que o comércio estava em alto e a Serra prosperava. Foto: Albert Richard Dietze/Acervo da Fundação Biblioteca Nacional.

Como bom libanês, fez fortuna no comércio

De acordo com a filha, Leonor, o pai João Miguel ouvia falar da América como uma terra de prosperidade e oportunidade, “onde corria dinheiro”. Além disso, ele ficava ouvindo os pais contar histórias a respeito dos maometanos (que professam o islamismo), o que fez com que ele desenvolvesse certo temor por perseguição religiosa. E com base nisso, desde muito jovem ele decidiu juntar dinheiro até conseguir o suficiente para a passagem com destino ao Brasil. Aos 14 anos, sozinho, ele desembarcou no Rio de Janeiro e veio para o Espírito Santo. Nessa época, Vitória estava enfrentando uma epidemia de febre amarela, o que fez com que João Miguel saísse caminhando até a Serra.

O jovem João Miguel se estabeleceu na cidade e no início enfrentou certa resistência da população interiorana pelo fato de ser estrangeiro. Mas esse retraimento foi sendo quebrado com o tempo por meio de suas habilidades de venda. Muito articulado, ele perambulava pela cidade portando um baú às costas, contendo todo tipo de produtos vendáveis possíveis. Ele utilizava uma matraca que acionava ao se aproximar das residências; este instrumento musical é geralmente feito de madeira e é usado por vendedores para chamar atenção da clientela. Naquele tempo, na Serra, a matraca era usada em substituição aos sinos somente na semana santa para anunciar procissão. Assim, logo o jovem mercador começou a ser uma figura conhecida na cidade.

Outra ação que não era costumeira na Serra, que fez de João Miguel um eficiente comerciante, foi a inserção de negócio para pagamento a prestação. Com uma excelente lábia de vendedor, ele facultava a venda a uma entrada na hora e o restante em parcelas que seriam pagas quando retornasse para novas visitas. Tanto a matraca quanto o pagamento em prestações foram dois diferencias importantes que permitiram com que ele crescesse no comércio da Serra e suplantasse o sistema tradicional de comércio. Logo, João Miguel já era conhecido como ‘turco mascate’.

O termo ‘mascate’ era utilizado para se referir a vendedores que oferecem suas mercadorias à domicílio; já a alcunha de ‘turco’, na época tinha um caráter pejorativo e jocoso (turcos e libaneses são povos com histórico conflituoso). Porém, historicamente houve de fato muita confusão entre turco, sírio e libanês que imigraram para o Brasil, pois os árabes ao aportarem no nosso país traziam documentos do Império Turco-Otomano, de modo que eram chamados indistintamente de ‘turcos’, fossem eles realmente turcos, libaneses ou sírios.

João Miguel auferia lucros acima da média já que vendia os produtos com valores altos pelo fato de ser o único a praticar a modalidade de pagamento em prestações. Ele passou a diversificar suas vendas, comercializando sacas de café e produtos agrícolas. Com o sucesso nas vendas ele passou a adquirir terra e gado, logo se transformando também em pecuarista.

De acordo com Naly Miranda, a história que rondava à época era que em uma dessas andanças, João Miguel teria simpatizado com uma jovem filha de fazendeiro da região, no entanto essa moça já estaria compromissada com um influente político da época: Belmiro Geraldo Castelo – um dos bastiões da conceituada e poderosa família Castelo. Tal informação registrada por Naly aponta que essa seria a primeira rivalidade entre os Castelos e os Miguéis, que no futuro iria piorar e muito. João Miguel, então desistiu da moça e seguiu seu caminho, porém, em um futuro próximo, o destino se encarregaria de entrelaçar novamente essa história.

Já visto como um importante mercador, João Miguel resolveu expandir seu negócio abrindo um comércio fixo no centro da Serra, área nobre da cidade. João Miguel passou a adotar a alcunha de ‘coronel’ por conta própria, termo que pegou entre a população residente da época, fazendo a transição conceitual daquele vendedor de rua conhecido jocosamente por ‘turco mascate’ para o mercador de sucesso, temido e respeitado, ‘Coronel João Miguel’.

Serra Sede em 1908, na altura da atual praça João Miguel. Neste ângulo não dá para ver o casarão do libanês, que está na parte de trás da fotografia. Porém, o sobrado a direita era onde funcionava o governo municipal. Foto de Eutychio D’Oliver/IPHAN

João se casa com Anna, a figura política por trás do coronel

É mais ou menos neste período do final do século XIX que João Miguel vê a oportunidade de cortejar a moça de família abastada que tempos antes estava compromissada com Belmiro Geraldo Castelo. Tal moça citada por Naly chama-se Anna Borges Pereira Miguel, vinda de uma linhagem da nobreza serrana, filha de Ana Borges Pereira e Henrique de Loyola Pereira (2º presidente da Câmara da Serra na era republicana do país 1904 -1905) um importante membro da antiga e respeitada família Loyola. O noivado de Anna e Belmiro não prosperou e João Miguel retomou as incursões junto à moça. Aos 16 anos de idade, Anna se casaria com João Miguel, tendo 16 filhos, dos quais 14 sobreviveriam, alguns deles, assim como o pai, sendo absolutamente fundamentais para a história da Serra. Anna é uma importante personalidade na vida de João Miguel, mulher tida como forte, inteligente e articulada, foi ela quem exerceu influência para que o marido entrasse na política nos anos seguintes.

A quarta filha do casal, Leonor (que se casaria com Pedro Feu Rosa) nasceu em 1904; como era de costume a mulher sair de uma gravidez e engatar em outra logo em sequência, é provável que o casamento de Anna e Miguel tenha ocorrido nos últimos anos do século XIX, ela com 16 anos e João Miguel já um homem feito, presumivelmente na casa dos 30.

Libaneses que desbravaram o ES se hospedaram na Serra

Este era o casarão onde João Miguel controlava a política e os negócios. A construção iniciou em 1905 e foi finalizada em 1908, era um símbolo de prosperidade para a Serra em uma época de muita dificuldade. No pavimento abaixo, funcionava o comércio de João Miguel, é possível perceber a grande movimentação de pessoas. Na parte de cima era a moradia. Foto: Elias Allam em 1908/acervo de Lia Feu Rosa Vecci.

O memorialista Naly, ainda narra um importante fato sobre a imigração libanesa no Espírito Santo, ao relatar que João Miguel passou a acolher em seu casarão, na Serra, grande parte dos sírios e libaneses que desembarcavam em Vitória. Naly cita nominalmente, que João Miguel teria hospedado Alexandre Buaiz, o patriarca da família Buaiz, que deu início na formatação dos negócios do Grupo Buaiz na economia do Espírito Santo, que hoje se estende pelo setor alimentícios, shopping center, comunicação, educação, ramo imobiliário e outros.

Não só os Buaiz, bem como uma gama de outros imigrantes sírios e libaneses ajudaram a desbravar o território capixaba e na implantação de negócios que iriam colocar o estado na rota do desenvolvimento, alguns deles iniciando sua trajetória hospedados em Serra Sede, no casarão do coronel João Miguel, o ‘ex-mascate turco’. O atual Líbano é uma nação conhecida há três mil anos antes de Cristo, descendentes dos antigos fenícios é um povo comerciante e de papel relevante no processo civilizatório no mundo. É de importância histórica que no início do século XX, alguns de seus habitantes encontraram na Serra um dos caminhos para que seu povo fugisse da guerra e se espalhasse pelo estado e pelo Brasil.

Esse registro de Naly Miranda é importante também na datação, isso porque o memorialista não costumava detalhar com exatidão as datas dos fatos que narrava, porém ao revelar que Alexandre Buaiz se hospedou no casarão de João Miguel, temos com isso uma estimativa do período se levarmos em consideração que Alexandre Buaiz chegou ao Brasil em 1908, aos 16 anos de idade. Então, tende a confirmar a informação de que no início da primeira década do século XX, o coronel João Miguel já era um mercador de grande envergadura e influência na cidade, já que era tido como referência para a imigração de seus conterrâneos no Espírito Santo.

Negócios de João Miguel começam a incomodar a poderosa Família Castelo

Ao narrar a infância de Pedro Feu Rosa (futuro genro de João Miguel), Lia Feu Rosa Vecci (neta de João Miguel) faz importantes registros da memória do pai sobre a riqueza do mercador libanês entre os primeiros anos de 1900. A fazenda de João Miguel ficava na atual região de Guaranhuns (área rural da Serra), local em que havia “centenas” de cabeças de boi; Lia narra que “era lindo o gado pastando naquele tapete verde, bebendo água no rio que corria manso”. Relato de Pedro Feu Rosa, colhido pela filha, apontam que o movimento de canoas no Rio Santa Maria era intenso, e “as mais bonitas pertenciam ao Coronel João Miguel, da Serra. Suas tropas de burro chegavam carregadas de sacas de café e as despejavam no Porto de Úna”. Lia ainda detalha que Anna Borges Pereira Miguel (esposa de João Miguel), administrava doze empregadas entre cozinheiras, arrumadeiras e ajudantes.

Leonor, filha de João Miguel, contou que com o crescimento das atividades comerciais do pai, vieram também as pressões dos negociantes locais contra o “estrangeiro”. Dentre eles, o mais incomodado era Belmiro Geraldo Castelo, ex-noivo de Anna Borges. De acordo com Leonor, revoltado, ele dizia que os “turcos” tinham vindo atrapalhar as suas vendas. A família Castelo dominava a política local e com endurecimento da rivalidade, passou a haver represálias políticas dos adversários de João Miguel. Leonor narra um caso em específico, que o gado usado nos carros para transportar as mercadorias de João Miguel teria sido apreendido pelas autoridades locais sem nenhuma justificativa.

Nessa época a cidade da Serra vivia um período de esvaziamento populacional, já que a abertura de novas estradas pelo Espírito Santo a fora e posteriormente a construção da Estrada de Ferro Vitória Minas, acarretava em uma perda de importância da Serra como rota de comércio anexa a Vitória. Esse processo de esvaziamento atingiu em especial a região do Queimado, que era na época um importante centro de comercialização para quem utilizava o Rio Santa Maria da Vitória como modal logístico, causando ecos de decadência econômica e social por todo o território da Serra. Devido a esse processo muitos serranos deixaram a cidade e foram se tornar pessoas notáveis em outras regiões do Espírito Santo.

Registra-se que João Miguel não queria deixar a Serra de jeito nenhum, pois já tinha desenvolvido o sentimento de pertença e identidade com o local em que fez fortuna e família. Por isso, para contornar esse contexto de êxodo serrano ele passou a investir em estabelecimentos comerciais em sociedade. Ele entrava com o dinheiro e o sócio, geralmente rapazes sem condições financeiras de se firmarem, entravam com o trabalho; foi assim que ele criou novos negócios em Timbuí, Barra do Triunfo, Santa Rosa (município de Santa Cruz, à época) e João Neiva, por exemplo. João Miguel faturava com um modelo de negócios que hoje conhecemos como ‘filiais’ ou até mesmo ‘franquias’, tendo o casarão dele em Serra Sede como a central controladora dos demais negócios. Outra forma de gerar riqueza utilizada pelo coronel João Miguel era a venda fiado utilizando terra, imóveis e gado como bens a quitação. Com isso, se tornou proprietário de muitas glebas, casas e aumentou consideravelmente seu rebanho.

Anna Borges, esposa de João Miguel, descrita por Naly Miranda como mulher “inteligente, de temperamento forte e decidida” não se conformou em ver seu marido “só comerciante com fama de milionário”, enquanto o ex-noivo além de alto comerciante desfrutava também de influência política e comandava as ações administrativas do município, (eventualmente utilizando desse expediente para fazer frente aos negócios de João Miguel). Naly escreve que Anna passou a fazer forte pressão no marido para que ele entrasse na política, que por sua vez respondia a priori com muita rejeição. Anna manteve-se obstinada na proposta da família entrar na política para fazer oposição ao grupo dominante dos Castelos e com o tempo, João Miguel se rendeu a ideia.

Neste plano é possível ver o casarão de João Miguel em estado de finalização da obra. A praça levou seu nome. Eutychio D’Oliver em 1908.

Coronel João Miguel entra para a política: golpe?

Por volta de 1910 o coronel João Miguel atendeu as pressões da esposa Anna Borges e resolveu entrar para política. Talvez naquela época, ele não tinha sequer a dimensão de que essa decisão iria mudar para sempre a história política da Serra (e de uma forma ou de outra, do Espírito Santo). Isso porque ele foi o primeiro de tantos outros descendentes seus que exerceram cargos dos mais variados, desde prefeitos a vereadores e deputados.

A prole advinda de João Miguel iria se misturar com várias outras famílias de importância no Espírito Santo, levando seu sobrenome para as mais altas escalações de poder do estado, como por exemplo, para citar nominalmente um deles que segue exercendo uma nobre função, Pedro Valls Feu Rosa, bisneto de João Miguel, neto de Pedro Feu Rosa e filho de Antonio José Miguel Feu Rosa, que foi escritor, advogado, deputado e desembargador. Assim como o pai, Pedro Valls Feu Rosa é desembargador desde 1994, sendo presidente do Tribunal de Justiça do Espírito Santo (TJES) no biênio 2012/2013.

Já demonstrando alguma sabedoria política, João Miguel se encarregou de agregar importantes aliados nesse processo, até porque os Castelos exerciam forte influência nos centros de poder do estado; e foi por isso que ele “ingenuamente” ofereceu ao Bispo Diocesano do Estado, Dom Fernando de Souza Monteiro, uma bengala feita de ouro, gesto que marcou o início de uma amizade muito proveitosa para João Miguel. Dom Fernando de Souza Monteiro, assim como o sobrenome sugere, era membro atuante do que ficou conhecido como ‘oligarquia dos Monteiros’.

O bispo era irmão de ninguém menos que os ex-governadores capixabas Jerônimo de Souza Monteiro (que nessa época estava no cargo) e Bernardino de Souza Monteiro (que seria governador poucos anos depois). Naquele início do século XX no ES, a família Monteiro tinha conseguido destituir do posto de principal liderança o ex-presidente Moniz Freire e, paulatinamente, foram se tornando hegemônicos na condução de política estadual. Por isso as principais decisões políticas no Estado passavam necessariamente pelo crivo dos Monteiro.

O bispo Dom Fernando de Souza Monteiro, dirigiu a Igreja Católica no Espírito Santo de 1902 a 1916, portanto, sendo a maior figura religiosa da época. Isso o transformava em um fundamental aliado de João Miguel na disputa com os Castelos na Serra. De acordo com informações de jornais da época como o Diário da Manhã (1908 – 1937) e o Estado do Espírito Santo (1890 – 1911), o governante municipal era o próprio Belmiro Geraldo Castelo e na linha de sucessão com apoio em peso dos Castelos e das outras famílias políticas, estava o coronel Manoel Pereira Madruga, que na época exercia a influente função de tabelião e escrivão judicial. Madruga também era o redator-proprietário do primeiro jornal de cobertura local no município, chamado jornal ‘A Serra’ que funcionou de 1910 a 1911 (uma espécie de antecessor do Tempo Novo, que só seria fundado 72 anos depois).

Naly Miranda registra que a votação transcorreu em algum período do ano de 1910, tendo como vencedor Antônio Madruga com apoio dos Castelos, obtendo trezentos votos e João Miguel saindo como derrotada registrando quarenta votos. A derrota não desceu bem para o coronel libanês e foi formalmente questionada por Deocleciano Aguiar, assessor direto de João Miguel. Deocleciano levantou suspeita na confecção da ata que trazia a contagem de votos. Esse fato gerou inconformismo da chapa vencedora, causando tumulto e confusão.

Por trás da ação do assessor estava o próprio João Miguel e o serrano Monsenhor Luiz Claudio de Freitas Rosa, um político e religioso de envergadura da época, sobrinho de Afonso Cláudio (primeiro governador da era Republicana no ES) e que sucederia João Miguel à frente da Câmara dois anos depois. Diante do ocorrido ficou acertado que a ata não seria registrada antes de consultarem as autoridades de Vitória, que na prática era a palavra final dada pelo governador Jerônimo Monteiro.

No Palácio do Governo, Jerônimo Monteiro alinhado com o Bispo Dom Fernando, amigo profícuo de João Miguel, sugeriu que fosse feita uma composição entre as duas chapas de forma que o coronel João Miguel ficasse como presidente da Câmara. De lá Antônio Madruga saiu para ter com seus aliados uma decisão. É possível que a articulação de João Miguel junto ao bispo irmão do governador tenha pegado os opositores desprevenidos, já que nas páginas dos jornais da época, Antônio Madruga e alguns de seus aliados bajulavam Jerônimo Monteiro em flertes políticos explícitos. Porém, a proposta do governador não foi bem aceita, sendo cordialmente recusada pela chapa vencedora. Entretanto, Jerônimo Monteiro pesou a mão poderosa de um governador hegemônico e no dia seguinte mandou um oficial de polícia, o tenente Amâncio Pereira empossar a força os candidatos derrotados. Por falta de informações e registros oficiais é difícil afirmar com clareza se João Miguel protagonizou um golpe na Serra ou se de fato houve fraude eleitoral (ou os dois). O que é possível dizer com exatidão é que ninguém subia a poder em cargos importantes naquele período sem o beneplácito dos Monteiros, portanto, para dizer o mínimo, João Miguel não entrou para perder.

Filha confirma informações de Naly, mas descreve um João Miguel perseguido

Dona Leonor Miguel Feu Rosa era apenas uma criança nessa época, porém foi uma preciosa fonte de informação. No relato datado de 1984, ela confirmou que efetivamente houve um movimento articulado pelo pai, João Miguel, junto aos Monteiros, visando tornar-se governante da Serra em contraponto aos Castelos. As palavras dela, obviamente são carregadas de sentimento, já que ela não é uma simples observadora e sim parte do processo histórico, entretanto, mantendo um olhar crítico sobre a história é possível extrair informações que embasam e completam aquelas narradas por Naly Miranda.

Leonor afirmou que com a perseguição política sofrida pelo pai, ele decidiu procurar o bispo, Dom Fernando Monteiro, para pedir sua ajuda (mesma informação passada por Naly). “Don Fernando, que era contrário à discriminação (não cita a bengala de ouro, por exemplo), disse ao meu pai: ‘Você volta para a Serra, pois vou fazê-lo chefe político de lá’. Papai explicitou que era estrangeiro e tinha dificuldades até com o idioma, não queria cargos. D. Fernando chamou o seu irmão, o então governador Jerônimo Monteiro, e ele disse a meu pai: ‘Na próxima semana, entregarei as rédeas do Governo da Serra a você, João Miguel’”, disse Leonor ao Jornal A Gazeta em 1984.

A filha de João Miguel ainda confirmou que Jerônimo Monteiro fez uma intervenção direta na Serra: “cerca de sete dias depois, enviou a Serra o tenente Amâncio Pereira, seu ajudante de ordens. Sob aplausos, salva de tiros e toques da banda local, João Miguel, o libanês, recebeu a “chefia” da política local”. Neste ponto, Naly afirma que a tomada de poder ocorreu no dia seguinte à eleição, além disso, diferente do que narra Leonor, Naly afirmou que houve muita resistência por parte da população e um clamor grande para manutenção do grupo dos Castelos no comanda do município. Porém, a prudência teria falado mais alto, em vista da força dominadora da política exercida pelos Monteiros.

Editorial do jornal ‘A Serra’ explicita guerra, tendo Jerônimo Monteiro como peça fundamental

De maneira geral a imprensa do Espírito Santo deu pouca atenção a esse movimento político na Serra, talvez por inexpressividade no município ou por uma ‘operação abafa’ do Governo Estadual, já que tratava-se de uma intervenção direta do líder supremo do estado. Porém no dia 30 de outubro de 1910, o Jornal ‘A Serra’ de propriedade do próprio Antônio Madruga, publicou um editorial na capa, titulado: ‘Pela Verdade’. O texto não deixa explicito que é uma referência a João Miguel, mas também nem precisava dado ao contexto óbvio. Nele, o jornal pesa a mão nos adversários e nas entrelinhas faz uma cobrança ao governador. O editorial diz que na Serra “duas forças contrárias se levantam e ouvem-se dois brados que se confundem em meio à multidão: um diz vida! O outro, morte!”. O texto segue deixando exposto à guerra de dois grupos, dos quais um deles é parte integrante do próprio jornal, o que faz do texto um ato político em si. “O primeiro [grupo] parte certamente dos peitos nobres e mais fortes, que são precisamente, os que terçam as armas do bem e da justiça [referindo-se ao próprio Antônio Madruga e os Castelos]. O segundo [grupo], é apenas um ressoar de vozes roucas, enfraquecidas e arrancadas belo sentimento de despeito [referindo-se a João Miguel]”.

O texto vai evoluindo as qualificações negativas dadas ao adversário, João Miguel: “A Serra cria e abriga em seu seio, serpentes malignas que tentam debalde lhe cravar nos pés os venenosos dentes, deixando-a arquejante para dificultar-lhe o passo na jornada do progresso”. Em outro parágrafo, Antônio Madruga é citado como um paladino da justiça e da moral: “nas justas em que se batem os mais denodados em prol do nosso desenvolvimento, destaca-se simpático o vulto do conterrâneo ilustre que dirige, com reconhecida competência, os destinos dessa folha [referindo-se ao próprio Antônio Madruga, dono do jornal]”.

O texto cita nominalmente Jerônimo Monteiro afirmando que a Serra tem “atenção e simpatia” pelo governador a quem “lança um promissor olhar”, em um sinal claro de que a população estaria de olho nele. Fato é que nada impediu que Jerônimo Monteiro ‘passasse com o trator’ na eleição da Serra, assim como ele e sua família fizeram em outras cidades, em vista do poder político que acumularam. O próprio jornal ‘A Serra’, coincidentemente ou não, deixou de funcionar logo no início de 1911.

Anos de guerra política na Serra, mas também de amores proibidos

A subida de João Miguel ao poder marcava um novo momento no cenário político da Serra com a inclusão de outra família, os Migueis, desbancando a hegemonia dos Castelos e isso não poderia terminar em outra coisa a não ser em violentas guerras políticas que se perpetuaram mesmo depois da morte de Belmiro Castelo e João Miguel. Naly Miranda, que por anos foi ligado à família Miguel, não poupou críticas a essa política de rivalidade exacerbada. Ele afirmou que a eleição de João Miguel foi o começo de uma nova contextura política na Serra, onde o poder econômico, pela primeira vez posto a serviço político, decidiu extra e contra a lei uma eleição. “Daí em diante a política serrana se transformou numa questão de duas famílias”, cravou Naly, que no futuro seria ele o prefeito a quebrar esse ciclo.

A própria Lia Vecci Feu Rosa, neta de João Miguel, narra em vários momentos a tentativa da família Feu Rosa em se desvencilhar dessa guerra, em especial quando o pai, Pedro Feu Rosa entrou para a política, que de uma forma ou de outra, acabou sofrendo retaliações por carregar a alcunha dos Migueis. No livro ‘Pelos Caminhos do Amor’, que narra à vida exemplar de Pedro Feu Rosa, Lia conta que “a luta política-partidária na Serra era tremenda, acirrada era pouco (…) a situação era tão séria que elementos simpatizantes de um lado não cumprimentavam os do outro lado. Uma moça não dançava com um rapaz do outro partido, quanto mais namorar. Uma facção tinha uma banda de música, a outra também tinha de ter. Se um baile era programado pela UDN [Miguel], o PSD [Castelo] imediatamente passava a divulgar o seu arrasta-pé. E assim vivia a população da Serra”. Lia revela que na época os casais apaixonados das duas famílias precisavam se comunicar por cartas sigilosas e encontros às escondidas. Mas que isso não impediu o surgimento de paixões proibidas entre os dois lados (e não impediu de fato, já que filhos dos Castelos e filhos dos Migueis se casaram aos montes).

Naly Miranda tinha uma tese, de que João Miguel era um homem de coração bom, e no que pesava essa bondade fora da política, ele era um cidadão “sem instrução nenhuma, o que talvez, tivesse levado a tomar atitudes violentas”. Naly acreditava que João Miguel deixou se levar e se envolver por intrigas políticas (normais do exercício funcional da política), o que fazia com ele partisse para o desaforo pessoal, sem conseguir separar o que é política e o que é vida pessoal. Naly relata um caso em que marcou até o final da vida a reputação do coronel, do qual ele teria agredido “violentamente” em plena luz do dia em vias públicas um padre da Igreja Matriz de Serra Sede, que em seguida excomungou João Miguel.

As duas famílias, Castelo e Miguel, protagonizaram mais de meio século de grande rixa, durante esse processo, muitas vezes entrelaçaram com votos matrimoniais, sob protestos de ambos os lados, lógico. São duas histórias que se confundem com a existência da própria cidade. Do lado dos Migueis, alguns dos filhos do coronel libanês exerceram intensa atividade política na cidade, como Antônio Borges Miguel (interventor da Serra 1934 – 1936), Edson Juracy Borges Miguel (prefeito eleito 1955 – 1959) e Clóvis Borges Miguel (prefeito eleito em 1929 – deposto pela Revolução de 1930). Antônio se casou com Águeda, filha de Belmiro Geraldo Castelo, inimigo mortal de seu pai. Já Clóvis, se casou com Jandyra Leão Castelo Miguel, sobrinha de Belmiro Geraldo Castelo.

Do lado da família Castelo, alguns dos mais engajados na disputa com os Miguéis estavam os irmãos Rômulo Leão Castelo (um dos prefeitos da Serra mais icônicos) e Judith Leão Castelo (primeira mulher do ES a ser deputada), filhos de João Dalmácio (irmão de Belmiro Geraldo Castelo), um dos protagonistas na rixa com João Miguel.

Uma curiosidade sobre a briga dos Castelos e Migueis é que infelizmente acabou por em alguns momentos terminar em dilapidação de patrimônio histórico. Caso por exemplo do sobrado de três andares em Serra Sede que 1860 hospedou o Imperador Dom Pedro II. Décadas depois, João Miguel iria comprar esse imóvel, que sem justificativa plausível, seria demolido pelo adversário Rômulo Leão Castelo, quando este esteve como prefeito na década de 50, assim como assinala o memorialista Naly Miranda.

Morte de João Miguel e importância para a Serra

Casarão está de pé ainda hoje em Serra Sede, divida as ruas Major Pissarra e Cassiano Castelo, dois outros importantes personagens da cidade. Foto: Google Earth

Provavelmente nascido em 1875, veio para o Brasil em 1889, aos 14 anos, foi vendedor a domicílio até torna-se um mercador, pecuarista e latifundiário rico. Casou-se no final do século XIX, entrou para a política e se tornou presidente da Câmara da Serra em 1910, desbancado a família Castelo; foi patriarca de uma gama de outros seres humanos que traçariam o futuro da Serra; João Miguel morreu em 1927, aos 52 anos. Sem entrar em detalhes, a filha do imigrante, Leonor, disse apenas que o pai morreu em “um desastre”.

Entretanto, em conversa com o ex-deputado federal, João Miguel Feu Rosa, neto de João Miguel, a morte do avô foi melhor detalhada e cabe aqui uma observação: é uma episódio que seria cômico, se não fosse inteiramente trágico. Segundo João Miguel Feu Rosa, seu avô faleceu vítima de um atropelamento pelo primeiro e único veículo motorizado de Vitória. Com a idade, explicou o neto, João Miguel passou a ter problemas auditivos, e naquele dia em julho de 1927, ele caminhava por uma avenida da capital; ao atravessar a rua, o coronel não ouviu a buzina do carro e foi fatalmente atropelado.

Nas palavras de seu neto, o ex-deputado afirma que seu avô foi a primeira vítima de acidente de trânsito com veículo motorizado em Vitória e muito provavelmente no Espírito Santo. Mas não para por aí, a avenida pela qual João Miguel estava atravessando e acabou perdendo a vida, hoje é a Avenida Jerônimo Monteiro, que leva o nome do mesmo ex-governador que deu sustentação política para que João Miguel se tornasse governante da Serra, assim como detalhado nos parágrafos acima.

Naly também deixa outro registro minimamente curioso. De acordo com ele, durante a missa de sétimo dia, ocorrida na igreja Matriz em Serra Sede, uma “baita de uma serpente” apareceu no altar, causando “reboliço” entre os presentes. O caso ganhou conotação de lenda, sendo interpretado pela população da época como resultado da excomunhão do padre agredido por João Miguel anos antes.

Leonor assinala que o pai sentia saudades do Líbano, apesar de ter se tornado uma figura proeminente na Serra. Para disfarçar a distância, sua mulher, Anna Borges preparava diariamente a comida tradicional da terra natal do marido. Com a prosperidade, João Miguel trouxe para o Brasil sua mãe, Ana Miguel, que morreu na Serra, mas o libanês naturalizado na Serra nunca mais retornaria ao seu país de origem.

João Miguel teve importância política, econômica e até mesmo social na Serra. Pois a República Velha é marcada no município pela decadência da cidade como um entreposto no comércio capixaba. Até aquele início do século XX, a Serra era quase que um ponto obrigatório para quem queria fazer comércio em Vitória, em especial os produtos da região norte do Espírito Santo. Na região de São José do Queimado funcionava o Porto de Una, onde grande quantidade de mercadorias e produção agrícola era embarcada em canoas robusta em direção a Vitória. O rio Santa Maria da Vitória servia como principal via de acesso para várias povoações capixabas, tanto para o comércio quanto para integração do interior para a capital. Além dessa característica geográfica e logística, a Serra ainda contava com a economia agrícola, especialmente do café e do açúcar.

A vida prosperava na cidade, havia geração de riqueza, de produção agrícola, de arte, literatura e desenvolvimento; com a construção da Estrada de Ferro Vitória Minas (EFVM) iniciada em 1903, além da abertura de outras estradas de rodagens e rotas de comércio, a Serra passou por uma exclusão do desenvolvimento local, gerando êxodo para diversas outras regiões do Espírito Santo, esvaziando a cidade. Com o município caído na mais franca miséria, João Miguel foi um dos poucos que insistiu que a Serra valia a pena. Ele e sua esposa haviam comprado um sobrado no centro de Vitória. Leonor contou que sua mãe quis deixar a Serra e transferir para Vitória. Irredutível, João Miguel preferiu ficar afirmando, “só saio quando morrer. Fiz minha vida aqui”.

Essa insistência de João Miguel permanecer na Serra foi absolutamente importante para a manutenção da Serra enquanto lugar, já que ele era a principal mola motriz da economia local. E ele tentou por diversas vezes se viabilizar, quando não havia mais condição de manter comércio, partiu para a agricultura. Comprou uma vasta área de terra na localidade de Garanhuns e fez uma grande fazenda. A colheita era distribuída com os plantadores. Quando as famílias decidiam sair da Serra em busca de oportunidades, ele comprava a propriedade dos retirantes e criava ali uma de suas sucursais, oferecendo tais terrenos para quem decidisse ficar, onde plantavam feijão, milho e café.

João Miguel desenvolveu o sentimento de apego pela Serra que impediu que ele fizesse o óbvio: usufruir de sua riqueza na próspera capital. Caso a história fosse outra, o ‘último que apagasse as luzes da Serra’, pois foi este libanês que girou a economia a política da Serra em um tempo de miséria e escassez.

Leonor relatou ainda que seu pai queria que os filhos seguissem os seus passos. Porém, Anna Borges preferia vê-los formados. Quando João Miguel morreu, seus filhos já eram médicos, engenheiro, professoras, odontólogo e líderes políticos. Mas Leonor dizia se lembrar de que ele comentava: “Ana, eu vou a Vitória e encontro uma porção de doutores me pedindo dinheiro emprestado“.

Outra descrição dado por Leonor consta na crônica ‘Personalidades do Espírito Santo’, editado em 1980, produzido por Maria Nilce e escrito por Djalma Juarez Magalhães. Nele Leonor traz um pouco do cotidiano no casarão do pai. “Era freqüentada por pessoas de todas as classes sociais, desde as mais altas autoridades, aos vigilantes pobres, sem recursos para pagar uma refeição. A mesa da casa era extensa, feita para receber todos os que os procuravam, recebidos sempre com muita alegria. Na época das festas de Natal e São Benedito sua mãe [Anna Borges] via-se forçada a contratar cozinheiras para ajudá-la, pois recebia hóspedes de Fundão, Vitória e do Rio de Janeiro, todos ansiosos por participar das grandiosas festividades. Dentre as personalidades assíduas, lembra-se Dona Leonor, do Bispo Diocesano, Dom Benedito Alves de Souza, que, ao contemplar da varanda de sua casa o desfile da puxada do mastro, sorria dizendo: São Benedito lá no Céu estará derramando bênçãos e graças para este povo simples e bom, que reza, cantando e dançando suplicando proteção para seus familiares, para o Brasil e para o mundo”.

O jornalista Mauro Fraga, que foi o responsável pela matéria feita com Leonor em 1984, da qual é uma das fontes fundamentais deste texto, diz que Leonor “é filha de um dos primeiros libaneses estabelecidos no ES e fundador da Serra”. É difícil de saber se o jornalista incorreu em um equívoco histórico, já que a Serra foi fundada em 1556, ou se ele utilizou dessa qualificação para conceituar a importância de João Miguel no contexto do abandono e ressurgimento da Serra no contexto econômico. De qualquer forma, João Miguel foi precursor da imigração libanesa no Espírito Santo e um dos construtores da Serra; sua trajetória está umbilicalmente ligada à existência da Serra como um lugar em seu tempo; levou a política para o lado pessoal e ficou marcado por isso, mas nada diferente do que se fazem hoje em dia no Brasil, 120 anos depois do coronel libanês. O ex-prefeito Eryx Guimarães resumiu assim em 1998 para o Jornal Tempo Novo: “[João Miguel] conseguiu construir patrimônio e família que deu para a Serra filhos ilustres e parcela ponderável no progresso serrano”.-

Este texto é um trabalho de autoria do jornalista Yuri Scardini; apesar de raras e escassas fontes de informação, quando levantadas, interpretadas e somadas, foi possível traçar uma linha de abordagem com razoável profundidade. Por isso, este texto contou com as preciosas fontes de informação: ‘Reminiscências da Serra 1556 – 1983’, do ex-prefeito e memorialista Naly da Encarnação Miranda. Matéria de A Gazeta, Vitória ES, 10/04/1984, p.3, c.1-4, 2 cad. ‘Histórias da Serra’, de Clério José Borges. ‘Pelos Caminhos do Amor’ de Lia Feu Rosa Vecci. Um vasto material do acervo jornalísticos do Jornal Tempo Novo. Patronos Academia de Letras e Artes da Serra – ALEAS. Material jornalístico disponibilizado pela Biblioteca Nacional Digital dos seguintes jornais (todos já extintos): ‘A Serra – Orgam (sic) dedicado aos interesses do município da Serra (ES)’ de 1910 – 1911; Diário da Manhã – Orgão do Partido Constructor (sic), de 1908 – 1937. O Estado do Espírito Santo: Ordem e Progresso, de 1890 – 1911. “Turco pobre, sírio remediado, libanês rico: a trajetória do imigrante libanês no Espírito Santo (1910-1940) por: Mintaha Alcuri Campos. Publicado em 1984”.

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