
Uma revolta de moradores provocou a interrupção dos serviços no pronto-socorro do Hospital Materno Infantil por mais de três horas, situado na Serra. Na ocasião, pais e responsáveis pelos pacientes invadiram a área interna da instituição, perseguiram colaboradores e chegaram a agredir fisicamente um médico que estava em atendimento.
A situação também causou ferimentos em outros colaboradores, incluindo escoriações, contusões, picos hipertensivos e até síndrome de pânico.
Por volta das 22 horas desta segunda-feira (18), as mães e responsáveis dos pacientes que aguardavam atendimento começaram a gritar na recepção do hospital, exigindo que seus filhos fossem atendidos naquele exato momento. A situação foi ficando ainda pior e, poucos minutos depois, os populares invadiram a parte interna, gritando e ameaçando os profissionais.
Os médicos, técnicos de enfermagem e outros profissionais que estavam realizando atendimento correram e se trancaram em salas de descanso. No entanto, de acordo com a Secretaria de Saúde da Serra, um dos médicos foi agredido durante o caminho.
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A Santa Casa de Chavantes – empresa contratada pela Prefeitura da Serra para administrar o pronto-socorro – disse que a invasão dos populares resultou em uma série de transtornos e violências tanto para os pacientes quanto para os profissionais de saúde presentes na unidade.
A empresa também afirmou que, em determinado momento, os profissionais do local precisaram buscar proteção por conta das intimidações.
A situação gerou um clima de medo entre os profissionais, que se mostraram relutantes em retomar suas funções, receosos de novas agressões. Segundo informações da prefeitura, dos seis médicos escalados para o plantão, três apresentaram pedido de demissão imediata e deixaram o hospital.
Atendimento foi interrompido por mais de três horas
Segundo a Secretaria de Saúde da Serra, o funcionamento do hospital foi pausado por mais de três horas. Contudo, após esse período, a situação começou a se estabilizar e os pacientes foram progressivamente chamados de volta, garantindo que todos recebessem atendimento.
Polícia Militar é acionada para o Hospital Materno Infantil

Durante a confusão, os pacientes acionaram o deputado estadual Pablo Muribeca que foi até o local. Na área pública do pronto-socorro, o parlamentar conversou com os manifestantes e acionou a Polícia Militar.
A equipe da Polícia Militar foi acionada e, conforme relatado no boletim de ocorrência, o deputado Muribeca possuía uma ordem judicial que lhe permitia entrar no hospital. No entanto, a direção da unidade hospitalar limitou o acesso do deputado apenas à recepção e ao estacionamento – conforme seria previsto na própria decisão.
O boletim também não cita nenhuma tentativa de invasão por parte de Muribeca, diz ainda, que toda a ação foi controlada e acompanhada pela polícia.
Diante dessa restrição, o acesso do deputado às demais instalações do hospital foi negado. A direção recusou-se a sair para conversar com ele na área externa. Os responsáveis pelo pronto-socorro justificaram aos policiais a sua recusa em dialogar com Muribeca, citando o risco de serem expostos em fotos e vídeos nas redes sociais.
Mães reclamam de demora no atendimento do hospital da Serra
O Jornal Tempo Novo entrevistou várias mães que estiveram na manifestação, incluindo Naiara Araújo, que relatou sua experiência no hospital com sua filha desde as 16h30. Até as 21h30, sua criança ainda não tinha recebido atendimento médico. Inicialmente, a filha de Naiara foi avaliada e classificada com uma pulseira verde, indicando que não tinha prioridade.
Contudo, após horas de espera, houve uma reclassificação, e a criança recebeu uma pulseira amarela, sinalizando uma necessidade de atendimento mais urgente. Apesar disso, Naiara afirmou que, mesmo com a nova classificação, sua filha continuou sem ser atendida.
O que diz a Secretaria de Saúde da Serra?

Fernanda Coimbra, secretária de Saúde da Serra, informou à imprensa que, apesar de o hospital contar com todos os funcionários, enfrenta desafios significativos devido a surtos de doenças sazonais, resultando em superlotação e atrasos nas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) e no pronto-socorro infantil.
Ela destacou a situação crítica decorrente de um aumento nos casos de dengue, Covid-19, e surtos de gastroenterite, que sobrecarregam as UPAs. Para mitigar esses impactos, a secretaria tem ampliado os pontos de atendimento e disponibilizado mais médicos.
Durante um episódio de confusão, Coimbra visitou o pronto-socorro, interagindo com os pacientes, mas criticou a invasão ocorrida, mencionando que o atendimento foi afetado e os profissionais, insultados. Ela explicou que muitas crianças com a pulseira verde poderiam ter sido atendidas em outras unidades de saúde, pois a classificação indica casos menos graves, que acabam sendo ultrapassados por outros mais urgentes.
Quanto à presença do deputado Pablo Muribeca, Coimbra expressou sua relutância em dialogar diretamente com ele devido a preocupações com a exposição nas redes sociais e mencionou experiências anteriores de “linchamento virtual” promovido pelo deputado. Ela enfatizou a importância do respeito como fundamento para o diálogo.
Muribeca diz que tentou acalmar pacientes e nega participação em invasão
O deputado estadual Pablo Muribeca conversou com o Jornal Tempo Novo, esclarecendo sua visita ao Hospital Materno Infantil da Serra. Ele refutou qualquer acusação de envolvimento em distúrbios ou invasões, destacando que sua presença foi constantemente acompanhada pela Polícia Militar.
“Na minha chegada não tinha pessoas fazendo nenhuma invasão; toda minha presença lá foi acompanhada da Polícia Militar para que pudéssemos mostrar a realidade das mães ali exposta a vulnerabilidade de não ter um acesso ao atendimento; elas esperavam por horas”, afirmou.
Muribeca expressou desapontamento com a postura da administração municipal, indicando que a gestão da Prefeitura da Serra o culpava injustamente pelos desafios enfrentados pela população em busca de serviços de saúde adequados. “É uma pena ver a gestão me culpar por problemas e reclamações de um povo que clama por uma saúde melhor”, lamentou.
O parlamentar enfatizou a importância da ação diante do sofrimento das mães aguardando atendimento. “Não dá pra ver as mães sofrendo e não fazer nada. A saúde é um direito de todos”, disse, citando a Constituição Federal.
Santa Casa de Chavantes diz que invasão é “absolutamente inaceitável”
Por meio de nota enviada ao Jornal Tempo Novo, a Santa Casa de Misericórdia de Chavantes repudiou veementemente o ocorrido na noite desta segunda-feira no Pronto Atendimento Infantil, anexo ao Hospital Municipal Materno Infantil.
“É com profunda consternação que relatamos a invasão protagonizada por um grupo de indivíduos que resultou em uma série de transtornos e violências tanto para os pacientes quanto para os profissionais de saúde presentes na unidade. Em determinado momento, os profissionais do local precisaram buscar proteção por conta das intimidações. A situação causou ferimentos nos colaboradores, incluindo escoriações, contusões, picos hipertensivos e até síndrome de pânico”, diz o texto da nota.
A Santa Casa de Chavantes prosseguiu dizendo:
“Repudiamos e classificamos como absolutamente inaceitável que um ambiente dedicado ao cuidado e ao bem-estar da comunidade seja alvo de tamanha violência e desrespeito. Que situações como essa sirvam de alerta para a necessidade de união de esforços em prol da segurança e do respeito nas instalações de saúde, e que sejam prontamente combatidas para que não voltem a ocorrer.
Reiteramos, mais uma vez, nosso compromisso com a segurança e o bem-estar de todos os funcionários e os pacientes que buscam atendimento em nossas instalações, sendo que todos os atendimentos estão normalizados com triagem de classificação de risco e quadro de médicos e profissionais regular atuante.
Tomaremos todas as medidas necessárias para garantir a proteção de pacientes e profissionais de saúde, bem como para colaborar com as autoridades competentes na investigação e responsabilização dos envolvidos neste ato.”

