Sete homens foram presos pela Polícia Civil do Espírito Santo (PCES) acusados de envolvimento no assassinato brutal de Ozenal Honorato Santos, de 36 anos, morto no bairro Feu Rosa, na Serra, no dia 26 de abril de 2025. O homem foi morto após desrespeitar traficantes da região. O corpo da vítima foi encontrado dias depois enterrado em uma área de mata.
Segundo a PCES o crime foi motivado por um suposto desrespeito ao chamado “código do tráfico”, após a vítima cobrar uma dívida de um serviço e, momentos depois, urinar em via pública. “Alguns códigos do tráfico são implacáveis. Eles julgam, sentenciam e executam. Ozenal foi advertido, agredido, mas desobedeceu à ordem de se afastar e voltou. A partir daí, os traficantes decidiram matá-lo”, fala José Darcy Arruda, delegado-geral da PCES.
Segundo o delegado Rodrigo Sandi Mori, chefe da Divisão Especializada de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) da Serra, dias antes do crime, Ozenal havia prestado um serviço de pintura ao lado de Júnio da Cruz Bezerra, um dos indiciados, com quem teve uma desavença por conta de uma dívida pendente. No dia do crime, após ingerir bebidas alcoólicas, Ozenal teria procurado Júnio para cobrar a quantia, iniciando uma discussão.
Minutos depois, a vítima decidiu urinar na rua, próximo a crianças que estavam em uma festa de aniversário, inclusive de um dos filhos de Júnio. A atitude foi considerada uma afronta, já que o local é ponto de tráfico intenso e frequentado pelos chefes do grupo criminoso da região.
“A partir deste momento, se iniciaram as agressões. Foi um crime cometido com extrema violência e em três etapas distintas”, contou Sandi Mori. Primeiro, Ozenal foi espancado por cinco dos acusados com chutes, socos, pedras, pedaços de pau e mangueiras. Após essas agressões, o homem foi arrastado até um beco e, mesmo ferido, recebeu a ordem para deixar o local. Apesar disso, cerca de 30 minutos depois, Ozenal retornou e foi novamente espancado, desta vez com o uso de uma enxada, pedras e mais golpes de madeira.
Inconsciente e bastante machucado, a vítima foi deixado de baixo de uma árvore e permaneceu ali por cerca de uma hora, sem receber qualquer socorro. “Os traficantes ainda voltaram no local para ver se Ozenal havia morrido, mas viram que ele havia conseguido se levantar e tentou voltar para casa. No caminho ele foi interceptado novamente e ali começou a terceira etapa da agressão”, detalhou o delegado ao Tempo Novo. Ozenal foi carregado por parte do grupo até uma área de mata e, mesmo ainda respirando, foi executado com golpes de objeto perfurocortante no tórax e no abdômen.
Segundo a Polícia, o corpo foi enterrado em uma área de manguezal, mas, devido às chuvas, boiou três dias depois. Os criminosos então o desenterraram e o levaram cerca de 200 metros mata adentro, onde foi novamente enterrado.
O corpo da vítima foi encontrado no dia 5 de maio com apoio do Corpo de Bombeiros e da cadela farejadora da equipe K9. Segundo o cabo Alex Rocha, o cadáver estava enterrado em uma cova rasa de cerca de dois metros, amarrado com cordas e com cal espalhado sobre o corpo, uma tentativa frustrada dos criminosos de despistar os cães farejadores. “Apesar das tentativas de camuflagem, como o uso de cal e galhos, os cães são treinados para localizar corpos mesmo em condições extremas”, afirmou o cabo.
As investigações apontam que os sete envolvidos participaram ativamente de todas as fases do crime. Eles foram identificados por meio de denúncias, depoimentos, imagens de câmeras de segurança e extrações de celulares apreendidos durante a operação.
Seis dos acusados foram presos em 5 de agosto, durante operação da DHPP no bairro Feu Rosa: Lucas Raich (30), apontado como chefe do tráfico local, Júnio da Cruz Bezerra (38), Luiz Kaique Siqueira da Silva (31), Paulo Henrique Mattos da Silva (20), Kennedy da Silva Gonçalves (20) e Klemer de Souza Lima Santos (25). O sétimo, Riquelves Alves da Silva (20), foi capturado no dia 15 de setembro.
Todos foram indiciados e são réus por homicídio triplamente qualificado, por motivo torpe, meio cruel e uso de recurso que dificultou a defesa da vítima, além de ocultação de cadáver.
A polícia acredita ainda que o local onde o corpo foi encontrado possa ter sido usado para ocultar outros homicídios cometidos pelo mesmo grupo. Pelo menos três pessoas continuam desaparecidas na região, incluindo uma mulher e um entregador que sumiu há quatro anos.

