“Foi morto por uma caixa de bombom”: Polícia conclui investigação sobre assassinato de professor de jiu-jitsu na Serra

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Da esquerda para a direita: Luiz Fernando Moreira Souza, de 30 anos; Vanda de Oliveira Rosa, de 54 anos; Higor Reis de Jesus, de 30 anos; e William dos Santos Pereira, de 29 anos. Foto: divulgação/PCES

A Polícia Civil do Espírito Santo concluiu as investigações sobre o assassinato do professor de jiu-jítsu e motorista de aplicativo Thiago Louzada Charpinel Goulart, de 43 anos, morto no dia 3 de janeiro de 2025, no bairro Vila Nova de Colares, na Serra. De acordo com a Divisão Especializada de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) da Serra, o crime foi planejado por vingança familiar e executado com apoio do tráfico de drogas local.

Quatro pessoas foram presas, entre elas está a ex-sogra de Thiago, Vanda de Oliveira Rosa, de 54 anos, que usou a própria neta de seis anos como isca para atrair o pai até o local onde foi executado. Além da mulher, Luiz Fernando Moreira (mandante e chefe do tráfico); Higor Reis (executor) e Willian dos Santos (motorista), também foram presos.

O delegado Rodrigo Sandi Mori, titular da DHPP da Serra, explica que Thiago havia perdido a esposa em 2018, logo após o parto da filha do casal. Desde então, a menina vivia com a avó materna, Vanda, mas mantinha uma relação próxima com o pai. Nos meses anteriores ao crime, por descontentamentos sobre a criação da filha, Thiago havia decidido solicitar a guarda definitiva da criança, o que gerou forte resistência por parte da avó. Segundo o delegado, a avó acusou falsamente Thiago de abusar sexualmente da própria filha e levou essa denúncia ao chefe do tráfico da região na tentativa de provocar uma retaliação.

“Em razão disso, quinze dias antes do crime, ela foi até o chefe do tráfico da região do Campinho e da Rádio Paz, no bairro Vila Nova de Colares, e disse para o chefe do tráfico que a criança estava sendo abusada sexualmente pelo pai. E todos sabemos que, no código do tráfico, molestadores e estupradores de crianças são punidos com a morte”, explica Sandi Mori ao Tempo Novo.

O crime

Segundo as investigações, Vanda ligou para Thiago na noite do crime. Ao não conseguir falar com ele, mandou uma mensagem dizendo que a neta queria falar com o pai. A criança, sem saber de nada, atendeu a ligação e pediu que ele fosse até a casa da avó. Thiago, muito apegado à filha, decidiu ir. “Ele não tinha o hábito de sair à noite, ainda mais naquele bairro. Mas o chamado da filha o fez ir até lá. Era um pai presente, amoroso, e foi enganado”, contou o delegado.

Ao chegar ao local, Thiago foi recebido por Vanda, sua filha de seis anos e a cunhada. Enquanto conversavam, Vanda pediu que a criança entrasse em casa para trocar de roupa. Pouco depois, os dois executores, Higor Reis e Willian dos Santos, chegaram em uma motocicleta. Higor desceu do veículo, aproximou-se por trás de Thiago, que estava de costas para a rua, e efetuou quatro disparos à queima-roupa na cabeça da vítima. Após a execução, os criminosos fugiram do local levando o celular de Thiago. A filha, que ainda estava dentro da casa, só descobriu a morte do pai momentos depois.

O ponto mais perturbador do caso veio após o depoimento da criança, que afirmou em atendimento à equipe da Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA) que havia chamado o pai em troca de uma caixa de bombom oferecida pela avó. “Nas palavras dela: ‘minha mãe Vanda disse: ‘se você chamar o seu pai aqui, eu te dou uma caixa de bombom’, eu aceitei. Mas, quando ele foi embora e ele foi morto. Eu não sabia de nada”, afirmou a criança.

Justiça

Armas e dinheiro em espécie apreendidos na casa de Luiz Fernando Moreira, chefe do tráfico de Vila Nova de Colares. Foto: divulgação

Após semanas de investigação, a DHPP prendeu os quatro envolvidos. Durante a prisão de Luiz Fernando, chefe do tráfico, foram apreendidos R$ 14 mil em espécie, uma pistola .380 com mira laser e anotações sobre o comércio ilegal de drogas.

O delegado detalhou ainda a frieza de Vanda. Poucas horas após o crime, ela enviou vídeos do corpo de Thiago morto para diversos contatos. Dias depois, filmou a neta dançando inapropriadamente, comportamento que Thiago reprovava e que gerava constantes conflitos entre os dois.

A filha de Thiago está agora sob a guarda dos avós paternos. A Polícia Civil concluiu o inquérito e indiciou os quatro acusados por homicídio qualificado por motivo torpe e emboscada. Os três homens também foram denunciados por associação ao tráfico com uso de arma de fogo.

“A Vanda jamais aceitaria perder a neta. Foi um crime covarde. Usaram uma criança inocente para atrair o pai, que acabou executado com quatro tiros na cabeça. A motivação principal foi o pedido de guarda da filha, que o Thiago estava prestes a conseguir na Justiça”, declarou o delegado.

Foto de Guilherme Marques

Guilherme Marques

Guilherme Marques é jornalista e atua como repórter do Portal Tempo Novo.

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