“Eurora”: releitura da Bela Adormecida chega à Serra em espetáculo de Isabelle Noronha

Compartilhe:
Eurora
Eurora mistura dança clássica, neoclássica e contemporânea, desconstruindo linguagens técnicas para contar uma história que atravessa diferentes épocas e contextos. Crédito: Divulgçaão Karol Salvatore

Neste sábado (11), o Centro Cultural Eliziário Rangel, em São Diogo, na Serra, recebe o espetáculo “Eurora”, assinado por Isabelle Noronha. A apresentação começa às 19 horas e promete uma profunda reflexão sobre a construção social da mulher ao longo dos séculos, usando como base a personagem Aurora, de A Bela Adormecida. A encenação faz parte do projeto Arte em Todos os Sentidos.

Um conto de fadas reinterpretado

De acordo com apuração do TN, inspirado nos arquétipos femininos presentes nos contos de fadas e nas teorias junguianas, “Eurora” se divide em prólogo e três atos. A narrativa discute os estereótipos femininos, as violências simbólicas e físicas às quais as mulheres estão submetidas e a maternidade como vetor de transformação e autoconhecimento.

A proposta mistura dança clássica, neoclássica e contemporânea, desconstruindo linguagens técnicas para contar uma história que atravessa diferentes épocas e contextos.

O padrão da princesa

No prólogo, o espetáculo relembra como, a partir do século XX, animações da Disney consolidaram um padrão de princesas: belas, dóceis, delicadas e subservientes. Essa estética, marcada pelo olhar masculino, influenciou gerações e reforçou papéis de gênero ligados à aparência, maternidade e casamento.

A maldição de Malévola simboliza a marca social imposta às mulheres desde o nascimento: dons como beleza e graça são valorizados mais do que autonomia e poder de decisão. Como afirma Michelle Perrot em A História das Mulheres no Ocidente, “o discurso não a mostra, inventa-a, define-a, através de um olhar culto (logo masculino) que não consegue subtraí-la a si própria”.

1º Ato: a alienação e o sono profundo

Após a maldição, Aurora é afastada de casa em busca de proteção, mas na juventude acaba cumprindo seu destino ao espetar o dedo na roca e cair em sono profundo. Essa metáfora representa a alienação histórica das mulheres, reforçada por normas sociais e pela mídia. O ato reflete também sobre a violência psicológica e sexual às quais as mulheres são constantemente vulneráveis.

2º Ato: maternidade como despertar

Na narrativa original, Aurora é violentada e engravida durante o sono. Em “Eurora”, essa passagem ganha releitura intimista: o despertar da princesa ocorre a partir da maternidade, não como imposição, mas como processo de autodescoberta e escolha. O nascimento da filha é tratado como um “beijo de amor verdadeiro”, capaz de transformar e reposicionar a mulher diante de si mesma e do Outro.

3º Ato: a mulher contemporânea

O último ato abandona o conto tradicional e traz a mulher para o século XXI. A cena destaca o impacto da revolução feminista e do feminismo interseccional, que amplia o debate para incluir mulheres de diferentes origens étnicas, culturais e sociais.

Aqui, o espetáculo questiona padrões de beleza, discute igualdade de gênero e reconhece a pluralidade das experiências femininas. A história não termina em “felizes para sempre”: o final é construído a partir da liberdade de escolha, onde cada mulher pode escrever o próprio destino.

Espetáculo “Eurora”

Data: Sábado, 11 de outubro

Horário: 19h

Local: Centro Cultural Eliziário Rangel – São Diogo, Serra/ES

Criação: Isabelle Noronha

O projeto Arte em Todos os Sentidos é realizado pelo Centro Cultural Eliziário Rangel (CCER) com recursos do Fundo de Cultura do Estado do Espírito Santo (Funcultura), por meio da Secretaria da Cultura (Secult), Ministério da Cultura e Governo Federal.

Foto de Ana Paula Bonelli

Ana Paula Bonelli

Ana Paula Bonelli é repórter e chefe de redação do Jornal Tempo Novo, com 25 anos de atuação na equipe. Ao longo de sua trajetória, já contribuiu com diversas editorias do portal e hoje se destaca também à frente da coluna Divirta-se.

Leia também