Em menos de seis meses, duas onças-pardas são mortas por atropelamento na Serra

Compartilhe:
onça parda
De acordo com ambientalistas a primeira morte foi registrada em 16 de agosto de 2025. Crédito: Divulgação

Mais uma onça-parda foi atropelada no Contorno do Mestre Álvaro, na Serra, neste domingo (16 de novembro). É a segunda morte do felino em menos de seis meses no mesmo trecho — o primeiro atropelamento ocorreu em 16 de agosto de 2025. As informações são de ambientalistas que atuam na região.

A preocupação não é nova. Antes mesmo da inauguração da via, em 2024, especialistas já alertavam para o alto impacto ambiental da obra, que corta áreas de Mata Atlântica em diferentes estágios de recuperação, pastagens, plantações e terrenos alagados. Os 19 quilômetros da rodovia atravessam o Corredor Ecológico Duas Bocas – Mestre Álvaro, uma das mais importantes rotas de circulação de fauna do Espírito Santo.

Estudo já previa risco para 168 espécies

Quando o Contorno começou a ser construído, o Estudo de Impacto Ambiental (EIA) aprovado pelo Iema já apontava que 168 espécies de animais poderiam ser afetadas pela estrada. Segundo o documento, o impacto incidiria sobre:

  • 68% aves
  • 11% mamíferos
  • 10% anfíbios
  • 6% répteis
  • 5% peixes

Ambientalistas temem que algumas dessas espécies desapareçam da região.

Região registra sucessão de atropelamentos

Desde a entrega da obra, a lista de animais mortos na pista só cresce. Em julho de 2024, uma jaguatirica adulta foi atropelada por um veículo em alta velocidade. Em 30 de agosto deste ano, um cervo também foi encontrado morto no local. Há ainda registros frequentes de outros mamíferos, répteis e até bovinos atingidos pelos veículos.

As imagens são recorrentes: animais silvestres desorientados tentando cruzar a rodovia e acabando vítimas do tráfego intenso.

O primeiro atropelamento de onça-parda ocorreu em 16 de agosto de 2025. Crédito: Divulgação

Ambientalistas pedem urgência em passagens de fauna

A morte da onça-parda deste fim de semana foi denunciada pelo ambientalista Claudiney Rocha, do Instituto Brasileiro de Fauna e Flora (Ibraff). Ele fez um apelo público. “Em menos de seis meses já é a segunda onça-parda atropelada no Contorno do Mestre Álvaro. Já morreram também jaguatirica e vários outros animais.”

Projeto previa 41 passagens — mas parte não foi entregue

O projeto inicial do Contorno previa 41 passagens de fauna — túneis subterrâneos e pontes ecológicas — além de redutores de velocidade em trechos próximos a áreas de grande circulação de animais.

No entanto, segundo o Dnit, até agosto de 2024 haviam sido concluídas:

  • 30 passagens inferiores de fauna
  • previsão de 3 passagens aéreas (ainda não implantadas na época)
  • instalação futura de cercas direcionadoras, para guiar os animais até os túneis e impedir o acesso direto à pista
  • O órgão afirmou que as passagens aéreas estavam em fase final de projeto.

Iema confirma pendências e notifica Dnit

O Instituto Estadual de Meio Ambiente (Iema) informou que a construção dos túneis para fauna e gado é condicionante obrigatória para o licenciamento da via.

Até agosto de 2024, o Iema confirmou:

  • 31 passagens subterrâneas de fauna silvestre
  • 9 passagens de gado
  • 3 travessias suspensas para fauna arborícola pendentes, com o Dnit já notificado

O órgão afirma ainda que foram instaladas 16 placas educativas, incluindo avisos sobre oito espécies ameaçadas, espaçadas a cada 2,5 km no sentido crescente e decrescente da rodovia.

Pressão aumenta por soluções efetivas

Ambientalistas reforçam que, sem a conclusão das estruturas previstas e fiscalização rigorosa da velocidade dos veículos, o Contorno do Mestre Álvaro seguirá sendo um dos trechos mais perigosos para a fauna capixaba. “Precisamos, com urgência, de travessias subterrâneas e aéreas”, cobra Claudiney Rocha.

O que diz o Iema atualmente

O Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema) informa que na licença ambiental da obra do Contorno do Mestre Álvaro constam condicionantes ambientais para minimizar impactos à fauna, como a instalação de passagens subterrâneas para animais e placas educativas sobre espécies ameaçadas de extinção. 

Além disso, o DNIT deve apresentar resultados de monitoramento de fauna atropelada com proposição de outras medidas mitigadoras, como a instalação de novas passagens em locais de maior incidência de atropelamento.

No entanto, o DNIT ainda não comprovou a instalação de todas as passagens previstas, e algumas das passagens já construídas precisam de ajustes para garantir sua eficácia. Além disso, em vistoria, o Iema não encontrou as placas educativas sobre a fauna na rodovia. Os dados de monitoramento dos atropelamentos também não foram apresentados.  

O Iema notificou o DNIT sobre a instalação e adequação das passagens de fauna, bem como a apresentação dos resultados de monitoramento dos atropelamentos e a proposição de novas medidas.

Foto de Ana Paula Bonelli

Ana Paula Bonelli

Ana Paula Bonelli é repórter e chefe de redação do Jornal Tempo Novo, com 25 anos de atuação na equipe. Ao longo de sua trajetória, já contribuiu com diversas editorias do portal e hoje se destaca também à frente da coluna Divirta-se.

Leia também