A Serra é uma das cidades que mais emitem gases de efeito estufa (GEE) na América Latina, superando até países inteiros. Os dados são do Sistema de Estimativa de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (SEEG), atualizados para o ano de 2024. No ranking de emissões líquidas, a Serra ocupa a 8ª posição entre os municípios brasileiros em poluição climática, um dado que chama atenção especialmente em um momento em que o Brasil lidera o debate sobre soluções ambientais na COP 30. A origem esmagadora dessas emissões vem de uma única empresa: a ArcelorMittal Tubarão.
Em 2024, as emissões brutas do município totalizaram 12,05 milhões de toneladas de gases de efeito estufa (CO₂e), sigla que representa o dióxido de carbono equivalente, medida usada para somar diferentes gases como CO₂, metano e óxido nitroso. Desse total, 88,4% (10,65 MtCO₂e) foram emitidos pelo setor de Processos Industriais. Segundo o SEEG, a totalidade dessas emissões é proveniente da produção de metais, atividade totalmente concentrada na ArcelorMittal Tubarão, responsável pela fabricação de aço e ferro-gusa.
Outro dado publicado pelo SEEG chama atenção: o município praticamente não compensa o que emite, já que suas remoções são insignificantes diante do volume de poluição lançado na atmosfera. As remoções representam o quanto o município retira de dióxido de carbono (CO₂) da atmosfera, geralmente por meio de vegetação nativa, florestas ou áreas de reflorestamento, que funcionam como sumidouros de carbono. No caso da Serra, essas remoções foram muito pequenas: dos 12,05 milhões de toneladas de CO₂e lançados em 2024, apenas 30 mil toneladas (0,25%) foram removidas.
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Isso faz da Serra a 12ª colocada no ranking nacional de emissões brutas e a 8ª cidade do país em emissões líquidas, já descontadas as remoções. O desempenho insere o município em um pódio indesejável, chamando atenção dentro e fora do Brasil pelo impacto climático desproporcional em relação ao seu tamanho territorial, econômico e populacional.
Nos últimos 10 anos, a poluição climática na Serra gerada pela produção de ferro-gusa e aço cresceu a uma taxa média de 3,97% ao ano. Para efeito comparativo, em 2014 foram lançadas na atmosfera 7,2 milhões de toneladas de CO₂ equivalente, contra 10,65 milhões de toneladas em 2024, um aumento de 47,9%.
As emissões líquidas da Serra representam aproximadamente 44,1% de todas as emissões do Espírito Santo em 2024, ou seja, quase metade de todo o carbono lançado e não compensado no estado vem de um único município. Sozinha, a Serra emite mais gases de efeito estufa (GEE) do que países inteiros, como o Uruguai, que lançou 8 milhões de toneladas em 2023, e o Paraguai, com 10,2 milhões no mesmo ano.
Para se ter uma ideia da expressividade das emissões da ArcelorMittal, o segundo setor que mais emite gases de efeito estufa na Serra é o de Energia, que em 2024 lançou 0,96 MtCO₂e (8,0% do total). Dentro dessa categoria, a queima de combustíveis para transporte representou 87% (0,84 MtCO₂e) das emissões. Em outras palavras, as emissões da ArcelorMittal sozinha foram cerca de 12,7 vezes maiores do que todas as emissões geradas pela categoria de transportes do município somadas (incluindo carros, caminhões, ônibus e outros veículos movidos a combustíveis fósseis).
Efeitos da poluição climática
A descarbonização é um dos temas centrais nas discussões globais sobre mitigação das mudanças climáticas, atualmente em pauta na 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP 30). Os gases de efeito estufa (GEE) são responsáveis por reter o calor na atmosfera e manter a temperatura da Terra adequada à vida. No entanto, o excesso desses gases, provocado principalmente por atividades humanas, tem intensificado o aquecimento global. Os principais GEE são o dióxido de carbono (CO₂), o metano (CH₄), o óxido nitroso (N₂O) e os gases fluorados industriais. O acúmulo dessas substâncias na atmosfera contribui para as mudanças climáticas, aumentando a frequência de eventos extremos, como secas, enchentes e ondas de calor.
Embora a Serra esteja inserida em um problema de escala planetária, há impactos locais diretos. Os GEE estão frequentemente associados a outras substâncias tóxicas, que podem aumentar os casos de doenças respiratórias (como asma, bronquite e enfisema), cardiovasculares, cânceres e mortalidade precoce. Além disso, contribuem para que a cidade retenha mais calor, intensificando o fenômeno das ilhas de calor urbanas.
No caso da Serra, onde a produção de ferro-gusa e aço responde pela maior parte das emissões, os principais gases liberados são o dióxido de carbono (CO₂), o monóxido de carbono (CO), o metano (CH₄) e os óxidos de nitrogênio (NOₓ). O CO₂ é o mais expressivo, resultado da queima do coque e da redução química do minério de ferro, representando mais de 90% das emissões totais do setor. O CO é gerado como subproduto das reações nos altos-fornos, enquanto o CH₄ e os NOₓ aparecem em menor escala, provenientes da combustão incompleta e das altas temperaturas do processo industrial. Esses gases fazem da siderurgia uma das atividades mais intensivas em carbono do mundo.

