
Maior colégio eleitoral entre as cidades capixabas, a Serra deve ser o principal palco de uma acirrada disputa pelo cargo de deputado estadual em 2026. Trata-se de uma função nobre, responsável por aprovar o orçamento bilionário do Espírito Santo — estimado em R$ 30 bilhões para 2025 — e que funciona como uma excelente vitrine política, especialmente para fortalecer a presença nos redutos eleitorais de origem.
Atualmente, a Serra conta com quatro deputados em exercício e mais um licenciado, todos considerados pré-candidatos à reeleição: Alexandre Xambinho (Podemos), Fábio Duarte (Rede), Pablo Muribeca (Republicanos) e Vandinho Leite (PSDB), além de Bruno Lamas (PSB), que está licenciado para ocupar a Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia, Inovação e Educação Profissional. Em termos quantitativos, essa representatividade está alinhada à importância social e econômica da Serra no contexto estadual.
Além dos parlamentares em mandato, circulam especulações sobre outras figuras políticas que podem disputar uma vaga de deputado estadual. O nome mais emblemático, sem dúvida, é o do ex-prefeito Audifax Barcelos (PP). Também aparecem como potenciais candidatos o presidente da Câmara da Serra, Saulinho da Academia (PDT); o secretário de Serviços, Enivaldo Dias (PDT); a vice-prefeita Gracimeri Gaviorno (MDB); e o diretor-presidente da Detran, Givaldo Vieira (PSB). Entre os vereadores que podem entrar na disputa e se mostrar competitivos estão Agente Dias (Republicanos), Pastor Dinho (PL) e Professor Rurdiney, entre outros que ainda podem surgir. Sem mandato, além de Audifax, outro possível nome é o ex-vereador e candidato a prefeito em 2024, Igor Elson (PL). Além é claro de outros nomes que venham a se colocar nesse contexto plural de lideranças diversificadas que a Serra tem.
É claro que, faltando mais de um ano para a eleição, tudo ainda é bastante especulativo e haverá um funil especialmente porque existem entraves políticos que precisarão ser ajustados para evitar o chamado “canibalismo eleitoral”, como pré-candidatos do mesmo partido ou grupo político disputando entre si. Mas é muito evidente que tem muita gente boa, com entrega, narrativa, eleitoralmente competente, com experiencia e com articulação para serem competitivos nas urnas.
Esse congestionamento tem algumas razões; entre os quais o fato de que a Serra é, logicamente, uma vitrine: estar inserido nesse eleitorado é fundamental na carreira política de qualquer capixaba. Mas há fatores mais específicos. Em uma análise inicial, a chamada “era Audifax e Vidigal” parece ter chegado ao fim, e esse é o pano de fundo da atual política serrana.
Com a queda de desempenho eleitoral de Audifax e a “aposentadoria” de Sérgio e Sueli Vidigal, abriu-se uma brecha para a disputa de deputado federal. No entanto, esse espaço já começa a ser ocupado, ao menos no campo especulativo, pelos próprios Vidigal, com apoio do prefeito Weverson Meireles. O nome cotado é o do médico Serginho Vidigal, filho de Sueli e Sérgio Vidigal — um fator determinante que tende a empurrar o meio político para a disputa por vagas de deputado estadual, já que, após a eleição de Weverson à Prefeitura, poucos arriscariam um confronto direto com Vidigal – um poder tão consolidado, pragmaticamente e historicamente.
Quem poderia fazer frente a esse grupo, no passado, seria Audifax, mas dificilmente o ex-prefeito buscará novas aventuras eleitorais após seus últimos resultados desfavoráveis. Outra figura é Pablo Muribeca, que teve bom desempenho na eleição de 2024 para prefeito. No entanto, ele dificilmente abrirá mão de disputar a reeleição para deputado estadual, já que, sem mandato, ficaria vulnerável diante dos problemas jurídicos que ele arrumou para si próprio — além de não possuir base eleitoral fora da Serra, o que limita ainda mais suas possibilidades.
Dentro do grupo de Vidigal e Weverson, ninguém deve se arriscar a enfrentar Serginho. O último aliado que tentou se desvincular politicamente de Vidigal foi o ex-vice-prefeito Tiago Carreiro (União Brasil), que insistiu em uma candidatura a deputado federal contra a vontade de Sueli Vidigal em 2022 — um caso político que poucos hoje estariam dispostos a repetir.
Ou seja, de um lado há um poder dominante que empurra aliados e políticos simpáticos ao grupo para a disputa de deputado estadual, em função da pré-candidatura de Serginho à Câmara Federal; de outro, há o declínio eleitoral de Audifax e a fragilidade de Muribeca para se colocarem nessa disputa — pelo menos até o momento — tornando-os, portanto, prováveis pré-candidatos a deputado estadual.
Além disso, existe uma geração intermediária de líderes políticos que foi ofuscada pelo domínio de quase três décadas exercido por Audifax e Vidigal. Essa geração aprendeu a se movimentar no Poder Legislativo e naturalmente ocupou espaço, como demonstram os próprios deputados atualmente no cargo: Xambinho, Vandinho, Fábio Duarte e Bruno Lamas.
Paralelamente, o processo de renovação simbolizado por Weverson e, em certa medida, também por Muribeca, trouxe consigo o surgimento de novos nomes na política local, como Saulinho, Gracimeri e Agente Dias, por exemplo. Ou seja, de um lado há uma geração intermediária que consolidou espaço no Legislativo estadual após anos de bloqueio por Audifax e Vidigal; de outro, surgem novos entrantes impulsionados pelo movimento que levou Weverson à prefeitura.
A expectativa é de que esta seja uma das eleições mais disputadas dos últimos tempos — o que é positivo para a população da Serra, já que haverá um repertório diversificado de candidatos ligados à cidade, representando diferentes concepções humanas, espectros políticos, formações e trajetórias. Embora muitas vezes não pareça, a Serra é altamente dependente do Estado, pois concentra uma das maiores demandas públicas do Espírito Santo. Proporcionalmente, continua sendo uma das cidades mais pobres do estado em termos de orçamento per capita.
Não é à toa que a Serra vive o ciclo socioeconômico mais próspero de sua história administrativa justamente em um momento em que o Estado realiza investimentos recordes na cidade. E tudo isso acontece dentro do orçamento público estadual, debatido, votado, emendado e aprovado pelos deputados estaduais.