Eleição de bairro na Serra tem ameaças de morte, degola e até canibalismo

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Forte esquema policial garantiu a integridade da eleição diante das ameaças de violência.

“Eu arranco tua cabeça e como teus dois olhos”. Foi com ameaças de degola e até de canibalismo, entre outras intimidações, que ocorreu a eleição comunitária do bairro Jardim Bela Vista, na Serra. O caso ganhou maior repercussão na última quarta-feira (10), quando chegou à Câmara da Serra. Na ocasião, vereadores denunciaram em plenário áudios que circulam com as ameaças.

A reportagem optou por não divulgar nomes, em razão da sensibilidade do assunto e pelo fato de a ocorrência já estar sob investigação da Polícia Civil. A eleição comunitária do bairro aconteceu no último dia 7 de setembro, em uma escola pública local, e exigiu um robusto esquema de segurança para garantir a integridade dos votantes, em meio a um clima de hostilidade. Apenas uma chapa estava apta a concorrer, e, por isso, o pleito ocorreu por aclamação, elegendo e empossando Edson Reis como presidente e Ademir Gari como vice.

As tensões, no entanto, já vinham escalonando desde o fim de agosto. No dia 28 de agosto, prazo final para inscrição das chapas, pelo menos dois grupos articulavam candidaturas. Uma delas foi a vencedora, eleita por aclamação, enquanto a outra foi desclassificada por estar incompleta, em desacordo com o regimento eleitoral.

A coordenação do processo ficou a cargo de uma comissão eleitoral formada por moradores, com apoio técnico da Federação das Associações de Moradores da Serra (Fams). A partir do encerramento das inscrições, o clima passou a se tornar cada vez mais ameaçador.

Membros da comissão eleitoral e da Fams passaram a receber áudios atribuídos a um homem que se identificava como integrante de uma das maiores facções criminosas da América Latina. Nas gravações, as ameaças de morte também se estendiam aos familiares dos envolvidos e impunham que os membros da comissão eleitoral interrompessem o processo comunitário de eleição.

 Os ameaçados precisaram deixar suas residências e pernoitar em locais diferentes durante vários dias. As tentativas de intimidação também se estenderam à Fams e a moradores do bairro.

A eleição, inicialmente marcada para o dia 29 de setembro, acabou sendo antecipada para o dia 7, já que apenas uma chapa estava legalmente apta a concorrer. Foi nesse período que as ameaças e tentativas de coação se intensificaram ainda mais. Segundo informou uma fonte que não quis se identificar, homens foram até a casa de membros da comissão eleitoral e pressionaram os familiares para que não comparecessem à votação por aclamação.

Houve até mesmo um caso de arrombamento, com tentativa de localizar documentos referentes ao pleito e atear fogo para destruir os registros, numa ação que visava impedir a eleição. Além disso, moradores do bairro também foram ameaçados e coagidos a não participar do processo no dia da votação.

No dia da votação, a Polícia Militar e a Guarda Municipal da Serra precisaram montar um forte esquema de segurança. Membros da comissão eleitoral e da Fams precisaram ser escoltados. A eleição ocorreu na parte da manhã e contou com a presença de pouco mais de 100 pessoas. O caso segue sob investigação da Polícia Civil e, assim que surgirem novas informações, elas serão publicadas pelo Tempo Novo.

Ouça áudios enviados ao Jornal Tempo Novo em caráter de anonimato:

Áudio 01 :

Áudio 02 :

Áudio 03 :

Áudio 04 :

Áudio 05 :

Foto de Mari Nascimento

Mari Nascimento

Mari Nascimento é repórter do Tempo Novo há 21 anos. Atualmente, a jornalista escreve para diversas editorias do portal, principalmente para a de Política.

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