A Polícia Civil concluiu o inquérito que investigou o assassinato do corretor de imóveis Robson Carmo da Conceição, de 38 anos, morto por vingança após vender um terreno que já possuía outro proprietário. O crime ocorreu no dia 5 de setembro, dentro de uma residência no bairro Vila Nova de Colares, na Serra, e teve como principal suspeito o pedreiro Diondreson do Nascimento, que foi despejado do imóvel construído sobre o terreno adquirido na negociação com a vítima.
Além de Diondreson, foram presos Joicilangela Jesus de Oliveira, 37 anos, Maxsuelder Rodrigues de Oliveira, 20 anos, e apreendido um adolescente de 16 anos, ex-enteado do autor principal. Todos são apontados pela polícia como cúmplices no crime e responderão por homicídio qualificado e ocultação de cadáver.
Negócio mal resolvido virou motivo de vingança
De acordo com a Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) da Serra, a motivação foi uma desavença provocada por uma transação imobiliária irregular.
Em 2023, Robson vendeu a Dionderson um terreno em Vila Nova de Colares. O comprador, que trabalhava como pedreiro e já havia prestado serviços ao corretor, construiu uma casa no local e passou a morar ali com as duas filhas.
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No entanto, ao longo de 2023 e 2024, quatro pessoas diferentes se apresentaram como proprietárias do terreno. A situação se agravou no fim de 2024, quando o verdadeiro dono acionou a Justiça e um oficial de Justiça notificou Dionderson de que ele teria 15 dias para deixar o imóvel.
Revoltado, o pedreiro – que havia investido tempo e dinheiro na construção da casa – foi despejado no início de 2025. Segundo a DHPP, Dionderson chegou a procurar Robson várias vezes pedindo ajuda, mas o corretor dizia apenas: “Pode tocar sua obra que vai dar tudo certo”.
Depois da notificação judicial, o corretor parou de responder as mensagens do comprador, o que, segundo a polícia, intensificou o sentimento de raiva e motivou o plano de vingança.
O recrutamento dos comparsas

As investigações revelaram que Diondresoncontou com o auxílio de três pessoas para executar o crime: a ex-namorada Joicilangela, o amigo Maxwelder e um adolescente de 16 anos, que havia sido seu enteado e morou com ele entre 2023 e 2024.
O jovem, que chegou a ajudar Diondreson na construção da casa, sabia que o ex-padrasto ameaçava matar o corretor, mas dizia não querer participar. Um dia antes do assassinato, porém, Diondreson foi até a casa dele e insistiu para que ajudasse. O pedreiro afirmou que o adolescente não precisaria participar diretamente, apenas dar apoio, e ele acabou aceitando.
O plano: armadilha com perfil falso
No dia 4 de setembro, Diondreson criou um perfil falso no WhatsApp, se passando por uma mulher interessada em vender uma casa. Ele sabia, segundo o próprio depoimento, que Robson era “mulherengo”, e acreditava que isso facilitaria atraí-lo à emboscada.
O pedreiro usou fotos e informações de Joicilangela, sua ex-namorada, que também passou a se comunicar com o corretor e gravou áudios fingindo ser a dona do imóvel. O encontro foi combinado para o dia seguinte, 5 de setembro, às 17h, em Vila Nova de Colares.
Na tarde do crime, Dionderson buscou Joyce no Terminal de Carapina, e no caminho pegou o adolescente e Maxwelder em um posto de gasolina. Os quatro seguiram até o bairro onde tudo aconteceria. Joyce desceu nas proximidades da Escola Eulália, local onde esperou Robson.
A emboscada contra o corretor de imóveis na Serra

Ao chegar, Robson encontrou Joicilangela, que entrou em seu carro e o conduziu até a casa do pedreiro. Assim que o corretor entrou no imóvel, foi rendido por Dionderson, Maxwelder e o adolescente, que estavam com simulacros de fuzil e pistola.
O grupo tentou amarrá-lo, mas Robson reagiu ao ouvir a voz da irmã, que havia chegado à frente da casa – ela foi até lá após receber uma mensagem enviada minutos antes pela vítima, dizendo:
“Se eu não responder em 20 minutos, chama a polícia. Estou aqui nesse endereço.”
Do lado de fora, a irmã ouviu gritos abafados de socorro:
“Caroline, chama a polícia! Socorro!”
De acordo com o delegado, Robson foi espancado, teve a cabeça batida contra a parede e morreu por asfixia. Poucos minutos depois, os suspeitos jogaram o corpo em um terreno ao lado da casa, cobriram com folhas e limparam os vestígios de sangue no interior do imóvel.
Tentativa de enganar a polícia
Logo após o crime, Diondreson atendeu ao portão e mentiu à irmã da vítima, dizendo que Robson “não estava ali”. A Polícia Militar foi chamada e chegou a entrar na casa, mas não encontrou o corpo.
Enquanto os agentes ainda deixavam o local, Diondreson voltou ao terreno vizinho, recolheu o corpo e o colocou no porta-malas do próprio carro. Em seguida, buscou o adolescente para ajudá-lo a se livrar do cadáver.
Os dois seguiram até uma lagoa próxima à rodovia ES-010, em Manguinhos, onde amarraram o corpo com cordas no pescoço e na cintura e o jogaram na água. O crime ocorrido em setembro foi noticiado pelo Portal Tempo Novo.
Descoberta das provas e confissão
Durante a madrugada, a família de Robson retornou ao local e encontrou vestígios de sangue na escada e no muro da casa. A Polícia Militar foi novamente acionada. Quando os agentes entraram, perceberam uma máquina de lavar funcionando. Dentro dela estavam roupas de cama ensanguentadas, usadas na limpeza do imóvel.
Confrontado, Diondreson confessou o homicídio. Inicialmente, afirmou que havia agido sozinho, mas, no decorrer das investigações, admitiu o envolvimento dos outros três comparsas.
Prisões e desfecho da investigação na Serra

Após o cruzamento de depoimentos, perícias e diligências, a DHPP da Serra concluiu o inquérito e representou pelas prisões dos envolvidos. Os três adultos foram presos preventivamente e se tornaram réus por homicídio qualificado e ocultação de cadáver.
O adolescente foi encaminhado ao Ministério Público para aplicação das medidas socioeducativas previstas no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
De acordo com a Polícia Civil, o caso é considerado encerrado, com autoria e motivação completamente esclarecidas.

