Como Laranjeiras nasceu: o bairro que transformou a Serra já foi uma fazenda de gado

Como Laranjeiras nasceu: o bairro que transformou a Serra já foi uma fazenda de gado e se chamava Carapinão. Conheça a história.
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História do bairro Parque Residencial Laranjeiras, na Serra. Crédito: Divulgação

Quando Dom Pedro II passou pela região de Carapina, em 1860, talvez não imaginasse que aquele trecho de baixadas e brejais se tornaria, mais de um século depois, o coração pulsante da maior cidade do Espírito Santo. Estamos falando de Parque Residencial Laranjeiras — ou, simplesmente, Laranjeiras. Um bairro que começou como um loteamento para trabalhadores da indústria e virou centro comercial, político e populacional da Serra. Esta é a história de como Laranjeiras nasceu, cresceu e transformou completamente o município.

Dom Pedro II registrou: a região de Laranjeiras era brejo dos jesuítas

Em seu diário de viagem, Dom Pedro II descreveu a área de Carapina como uma baixada com alguns brejais. Às margens da estrada, estava a antiga fazenda dos jesuítas — usada para agricultura. Era exatamente ali, nesse solo fértil e plano, que começaria a nascer o bairro Laranjeiras, mais de 100 anos depois.

Vitória se valorizou e empurrou os trabalhadores para a Serra

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Primeiro traçado do bairro Laranjeiras, quando ainda se chamava Carapinão. Crédito: Divulgação

A partir dos anos 1960, a capital capixaba passou por forte valorização imobiliária. Trabalhadores ligados à indústria já não conseguiam morar em Vitória e precisavam de novas áreas com fácil acesso à região metropolitana. A Serra, então rural, se tornou o destino natural para receber essa população.

Grandes obras, grandes demandas: surge o bairro Carapinão

Com a chegada da Vale, da CST, da Aracruz Celulose e da Samarco, surgiu a necessidade urgente de moradias. A SUPPIN estudou e escolheu a região de Carapina para receber o CIVIT — Centro Industrial de Vitória. Mas para abrigar os operários era preciso construir um bairro.

Foi aí que, em 1974, o Governo do Estado negociou a compra de uma fazenda do deputado Luiz Batista, com apoio do BNH e da INOCOOP-ES. O projeto foi batizado de Carapinão.

Moradores rejeitam o nome: nasce oficialmente Laranjeiras

Primeira Avenida, em Laranjeiras. Na foto dá para ver parte da igreja católica São Francisco de Assis. O ano é entre 1978 e 1979. Crédito: Arquivo Tempo Novo

No início, o bairro se chamava “Carapinão”. Mas os primeiros moradores, envergonhados com o nome nos ônibus, se mobilizaram. Em 1979, uma assembleia popular decidiu: o nome oficial seria Parque Residencial Laranjeiras.

As primeiras casas, escolas e comércios

A entrega das 1.855 casas começou em 1978. Sem ruas asfaltadas ou transporte adequado, os moradores enfrentaram dificuldades, mas também construíram uma comunidade unida.

A escola Aristóbulo Barbosa Leão, a padaria de Vital Fornaciari, a farmácia de José Barbato e a clínica do Dr. Amaro foram os primeiros serviços essenciais do bairro.

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Construção da escola Aristóbulo Barbosa Leão em Laranjeiras no ano de 1979. Ainda dá para ver os tijolos amontados para o término da obra. Crédito: Arquivo Tempo Novo

CIVIT, CST e expansão: Laranjeiras virou modelo

Com a inauguração da CST nos anos 1980 e a expansão do CIVIT II, Laranjeiras se consolidou como experiência bem-sucedida de habitação popular. O bairro inspirou projetos como Serra Dourada, Barcelona e outros conjuntos habitacionais.

Terminal de Laranjeiras mudou tudo

Em 1990, a inauguração do Terminal de Laranjeiras integrou o bairro ao sistema metropolitano. Antes com ônibus precários, o transporte coletivo passou a funcionar com mais eficiência. Isso acelerou o comércio e o crescimento local.

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Construção do Terminal de Laranjeiras em meados de 1988. O transcol como conhecemos ainda não existia. Mas o terminal seria um dos pontapés para o início da integração metropolitana. Crédito: Arquivo Tempo Novo

A construção do hospital começou em 1983, mas só saiu do papel graças à luta da comunidade. Inaugurado em 1988, o Dório Silva foi uma vitória dos moradores e continua sendo referência na saúde pública capixaba.

Política: bairro virou celeiro de lideranças

Desde os anos 1980, Laranjeiras elegeu vereadores, vice-prefeitos e até prefeito. A forte mobilização comunitária deu protagonismo ao bairro na política serrana e estadual.

Futebol uniu os moradores e criou tradição esportiva

Das “peladas” no campo careca ao nascimento do Olympicus Futebol Clube, o esporte ajudou a formar a identidade social de Laranjeiras. O futebol era mais que lazer — era integração e pertencimento.

Polêmicas e vitórias: da Avenida Central à CIVIT

Foto da Avenida Eldes Scherrer de Souza – também conhecida como Avenida Civit. Registro feito em setembro de 1996. Crédito: Arquivo Tempo Novo

A tentativa de mudar o nome da Avenida Central causou o maior protesto da história do bairro. Já a Avenida CIVIT virou oficialmente Eldes Scherrer de Souza, embora o nome cause confusão até hoje.

Laranjeiras hoje: mais que um bairro, um símbolo da Serra

Mais do que um loteamento, Laranjeiras se tornou símbolo de transformação urbana, social e política da Serra. Com história rica, moradores engajados e papel estratégico, o bairro é um verdadeiro coração da cidade.

Fontes e referências: Esta matéria foi escrita originalmente pelo jornalista Yuri Scardini, com base no acervo histórico do Jornal Tempo Novo, além de dissertações e pesquisas acadêmicas da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). Entre as obras consultadas estão estudos de Alexandre Fiorotti, Pedro Ivo Barbosa, Thalismar Gonçalves e Daniel Muniz.

A versão publicada na coluna “Curiosidades” foi editada para facilitar a leitura e destacar os principais marcos da história de Laranjeiras. O texto completo, com dados ainda mais detalhados, continua disponível para leitura no portal.

Foto de Yuri Scardini

Yuri Scardini

Yuri Scardini é diretor de jornalismo do Jornal Tempo Novo e colunista do portal. À frente da coluna Mestre Álvaro, aborda temas relevantes para quem vive na Serra, com análises aprofundadas sobre política, economia e outros assuntos que impactam diretamente a vida da população local. Seu trabalho se destaca pela leitura crítica dos fatos e pelo uso de dados para embasar reflexões sobre o município e o Espírito Santo.

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