Casal morreu na Serra após consumir produto com 130x mais solvente do que permitido

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Produto vendia beneficio de envelhecimento precoce, mas na verdade continha solvente em grande quantidade. Foto divulgação PC
Produto vendia beneficio de envelhecimento precoce, mas na verdade continha solvente em grande quantidade. Foto divulgação PC

A Polícia Civil (PCES), por meio do 12º Distrito Policial, no município da Serra, concluiu o inquérito que investigou a morte do casal Rosineide Dorneles Mendes Oliveira, de 52 anos, e Willis Penna de Oliveira, de 51 anos de idade. A mulher morreu no dia 15 de fevereiro e o companheiro veio a óbito um mês depois, após consumirem o produto denominado “óleo de semente de abóbora”, vendido para todo o Brasil pela internet.

A perícia constatou que no conteúdo do frasco havia alto teor de dietilenoglicol, um produto altamente tóxico, usado como solvente em diversos processos industriais. O laudo cadavérico indicou que o casal foi intoxicado. Foram cumpridas buscas na empresa em São Bernardo do Campo, em São Paulo, que vendia o produto, e o proprietário foi preso em flagrante. Os detalhes das investigações foram apresentados em coletiva de imprensa realizada, na manhã dessa terça-feira (06), no auditório da Chefatura de Polícia Civil, em Vitória.

De acordo com o titular do 12ª Distrito Policial, delegado Rodrigo Rosa, após as investigações, foi pedido um mandado de busca e apreensão na empresa suspeita, que foi cumprido pela Polícia Civil de São Paulo (PCSP) e pela agência de Vigilância Sanitária.

“No local, eles se deparam com um ambiente totalmente improvisado, com o material sendo armazenado, inclusive, ao lado de um vaso sanitário. O proprietário do local, de 34 anos, ficará preso preventivamente, pelos crimes de estelionato, crime contra as relações de consumo e a falsificação de produtos terapêuticos, e será indiciado pelo duplo homicídio culposo, por conta da morte do casal”, explicou o delegado Rodrigo Rosa.

De acordo com a delegada-geral adjunta da Polícia Civil, Denise Carvalho, as investigações acerca do caso tiveram início em janeiro deste ano, quando o filho do casal foi até a delegacia alegando que o pai e a mãe estavam internados e que teriam  ingerido esse suposto “óleo de semente de abóbora”, comprado pela internet. A partir desse relato, o produto foi enviado para a análise.

“Enviamos o produto para a análise do laboratório, que detectou que o produto não era de abóbora. A partir disso, tivemos um indício do que realmente poderia ter sido aquele produto que fez o casal ser internado e pedimos ao judiciário a busca e apreensão no endereço da empresa”, relatou a delegada.

Segundo o responsável pelo caso, o delegado Rodrigo Rosa, o homem não tinha qualificação para fabricação dos produtos, e acredita que houve uma confusão na hora de etiquetar o frasco. “Em seu depoimento, ele confessou que adquiriu o óleo de semente de abóbora, adicionando anilina e aromatizante, imprimia os rótulos em uma impressora improvisada para comercializar na internet. Ele achou que não iria fazer mal a ninguém e que estava precisando de dinheiro”, completou.

Dietilenoglicol

A Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) contribuiu na investigação capixaba fornecendo substâncias químicas para a comparação dos elementos tóxicos. De acordo com o laudo pericial, o conteúdo do frasco tinha glicerina e dietilenoglicol, produtos altamente tóxicos para consumo, utilizados como solventes em diversos procedimentos industriais. São as mesmas substâncias que contaminaram as cervejas Belorizontina, da Backer, no início de 2020, e que levaram dez pessoas à morte.

“Nesse suposto ‘óleo’ foram encontrados glicerina e dietilenoglicol. A partir daí, foram desenvolvidas técnicas para determinar a quantidade da substância no frasco. O permitido é a quantidade de 0,10% de dietilenoglicol nos produtos, mas, durante a análise, foi possível identificar a presença de 13%, 130 vezes maior do que é permitido pela Farmacopeia”, explicou a perita Oficial Criminal, Daniela de Paula.

Segundo o médico legista Leandro Amorim, a intoxicação por dietilenoglicol é caracterizada por náuseas, vômitos e diarreia. “Se o consumidor parar de ingerir o produto, ele não terá complicações maiores, mas se tomar continuamente as substâncias vão se acumulado nos rins, que vão perdendo a capacidade de eliminar o produto tóxico. É nesse momento que o paciente fica mais grave, quando começam os sintomas, como a tontura, confusão mental e a paralisia facial. O casal já estava em estado grave e os médicos usaram técnicas para fazerem a função dos rins, para eliminar as substâncias tóxicas do organismo, mas infelizmente não conseguiram”, explicou o médico.

A delegada-geral adjunta, Denise Carvalho, ressaltou que esse caso serviu de alerta para que as pessoas não comprem produtos pela internet sem a orientação médica e sem conhecer a origem para não correrem o risco de sofrer uma intoxicação.

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Gabriel Almeida

Jornalista há 11 anos, Gabriel Almeida é editor-chefe do Portal Tempo Novo. Atua diretamente na produção e curadoria do conteúdo, além de assinar reportagens sobre os principais acontecimentos da cidade da Serra e temas de interesse público estadual.

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