Arnaldinho é o cacique de um partido sem índio

Compartilhe:
Arnaldinho fechou um acordo em Brasília, articulado junto a Aécio Neves, que resultou em sua filiação ao PSDB. Crédito: divulgação.

Ao que parece, o prefeito de Vila Velha, Arnaldinho Borgo, não terá vida fácil na montagem do PSDB capixaba, ainda mais considerando as características verticais da tomada partidária, marcada por um movimento em Brasília, sem qualquer diálogo em nível estadual. Até o momento, ele é apenas o cacique de um partido esvaziado, que tende a continuar em ritmo de debandada.

O caso eclodiu na semana passada, quando Arnaldinho fechou um acordo em Brasília, articulado junto a Aécio Neves, que resultou em sua filiação ao PSDB e na consequente destituição do deputado Vandinho Leite da presidência do diretório capixaba. A ação, evidentemente, caiu em desgosto entre as lideranças locais dada a ausência absoluta de qualquer participação local na articulação.

Arnaldinho pretende ser candidato ao governo do Estado, enquanto o PSDB capixaba estava alinhado ao vice-governador Ricardo Ferraço (MDB), que tem todas as chances de disputar o cargo, cenário que deixou os tucanos locais em posição desconfortável.

Após a tomada do partido, um esvaziamento em bloco de prefeitos e vice-prefeitos promovido por Vandinho ganhou força. E, nesta última quarta-feira (10), em uma ação com sintomas de desespero, o partido emitiu uma nota oficial aos vereadores filiados, ameaçando-os com a perda do mandato caso saiam ou peçam desfiliação. Movimento que gerou ainda mais descontentamento e deve acelerar as desfiliações.

Os próximos capítulos dessa história vão delimitar o tamanho político do prefeito de Vila Velha. E, se nada mudar no ritmo e direção das coisas, é capaz até de ele sair menor. Política partidária é construção de médio e longo prazo e, ao que parece, Arnaldinho tentou ser comandante sem nunca ter sido soldado, sem contribuição alguma na formação de um partido coletivo e alicerçado em bases sólidas de apoio, sem aprofundar suas relações políticas.

Inclusive, esse movimento pode ter produzido o efeito inverso: gerar desconfiança e perda de credibilidade junto ao meio político capixaba, que historicamente não aprecia movimentos obtusos como esse, que ignorou consequências óbvias.

Ainda mais para alguém que almeja ser candidato ao governo, missão no Espírito Santo que exige aglutinação de forças, e não divisão, como ensinou a era Hartung/Casagrande.

Aliás, o efeito PSDB pode inclusive antecipar a declaração pública do governador Renato Casagrande em apoio à pré-candidatura de Ricardo Ferraço, para encerrar de uma vez essa falsa ideia de “corrida interna” no amplo grupo governista pela sucessão de Casagrande. Ideia que desconsidera o fato central: tudo leva a crer que o governador vá renunciar ao cargo em abril para estar apto a disputar uma vaga no Senado. Consequentemente, Ricardo será o governador de fato, eliminando a tese de uma sucessão casagrandista.

E como se o movimento de Arnaldinho não fosse errante o suficiente, o grupo que deixou o PSDB tem tudo para migrar justamente para o MDB, partido de Ricardo Ferraço, fortalecendo ainda mais as bases partidárias do vice-governador. Ferraço só não será candidato se não quiser, enquanto Arnaldinho precisará agir para mitigar o que parece ter sido uma “lambança” mal calculada.

Quer receber notícias diretamente no seu email? Preencha abaixo!

Sua inscrição não pôde ser concluída. Tente novamente.
Enviamos um e-mail para você. Se não aparecer na caixa de entrada, dá uma olhadinha no spam.

Notícias da Serra/ES no seu email

Resumo diário, gratuito e direto no seu e-mail:

Foto de Yuri Scardini

Yuri Scardini

Yuri Scardini é diretor de jornalismo do Jornal Tempo Novo e colunista do portal. À frente da coluna Mestre Álvaro, aborda temas relevantes para quem vive na Serra, com análises aprofundadas sobre política, economia e outros assuntos que impactam diretamente a vida da população local. Seu trabalho se destaca pela leitura crítica dos fatos e pelo uso de dados para embasar reflexões sobre o município e o Espírito Santo.

Leia também