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A ruindade banalizada

Por Eci Scardini

Nos últimos meses o Brasil habituou-se a acordar e logo pela manhã assistir/ler/ouvir notícias de prisões, de buscas e apreensões e de conduções coercitivas, feitas pela Polícia Federal, atendendo a pedidos do Ministério Público e determinadas pela Justiça. Prisões essas de pessoas acusadas de participar do maior desvio de recursos públicos já registrados na história do país.

Esses fatos se tornaram tão corriqueiros que nem causam mais surpresas nas pessoas. As cifras desviadas, o modo sofisticado com que os malfeitores praticavam as falcatruas, o número de pessoas e empresas envolvidas e os seus nomes já não nos deixam mais perplexos.

Tais fatos estão se tornando rotina e como rotina, passam a serem vistos como normais. Tão normais quanto assistirmos reportagens sobre pacientes serem tratados em macas distribuídas por corredores de hospitais; tão normais quanto vermos imagens de presídios superlotados e de escolas caindo aos pedaços por esse Brasil afora.

No início da operação Lava Jato ficávamos atônitos com a divulgação das descobertas de desvio de recursos públicos para partidos políticos, pessoas, empresas, dinheiro descoberto em contas no exterior. Perplexos com o envolvimento de senadores, deputados federais, ministros, ex-presidente e tudo mais.

Mas hoje isso não importa mais, é como se estivéssemos assistindo mais uma notícia de troca de tiros entre quadrilhas rivais no Rio de Janeiro. É como se estivéssemos assistindo notícias de arrastões nas praias cariocas, fechamento por bandidos de vias expressas, assassinatos seguidos de mortes.

Assistir uma nova fase da operação Lava Jato é como se estivéssemos assistindo uma reportagem sobre as cracolândias e as chacinas que comumente acontecem em São Paulo. Não nos estarrece mais.

Era para comemorarmos as prisões, as condenações, as apreensões de obras de arte, de carros de luxo, o bloqueio de bens imóveis, a indisponibilidade de recursos financeiros em contas correntes e a extradição de dinheiro em contas no exterior. Mas isso nem faz mais cosquinha no povo brasileiro.

Do colarinho branco a chefão da comunidade

O temor é que todas essas descobertas, todo esse trabalho caia na vala comum dos crimes praticados por organizações criminosas como o PCC em São Paulo e Comando Vermelho no Rio. Sejam vistos pela população da mesma forma que veem as notícias do avanço do tráfico de drogas, de armas e de toda a violência que impera Brasil afora, bem como a impunidade, as penas leves e o relaxamento das prisões.

Os crimes tidos como do ‘colarinho branco’ desceu das altas esferas do poder e se igualou ao submundo do crime. Já não tem mais diferença entre um e outro, e ambos saqueiam o povo. Não será surpresa se em breve vermos os chefes das facções que tomam conta dos morros cariocas e da periferia de São Paulo sentados lado a lado com senadores, deputados, ex-ministros, empresários e quem sabe, até ex-presidentes da república, tomando bons whiskies, e caros vinhos, fumando charutos cubanos e quem sabe até cheirando uma carreirinha de pó?

Em outubro teremos eleições municipais. Quantos vereadores e prefeitos corruptos o Brasil elegerá? Quantos criminosos, do colarinho branco ao chefão do morro passando pelos maus funcionários públicos, não estarão caminhando lado a lado com os novos (ou velhos) inquilinos do poder nos municípios do país?

Enquanto o dinheiro público segue escorrendo pelo ralo da corrupção, o Brasil não consegue fazer as suas reformas fiscais, de marco regulatório, na educação e na previdência, pré-requisitos para que o país volte a crescer e possa sonhar com a redução das desigualdades sociais e uma inserção à altura de seu tamanho e importância no mundo.

Ana Paula Bonelli

Moradora da Serra, Ana Paula Bonelli é repórter do Tempo Novo há 25 anos. Atualmente, a jornalista escreve para diversas editorias do portal.

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