Por Yuri Scardini
A sonhada cadeira de presidente da Câmara volta a ser fruto de intensa disputa política na Serra. Não é para menos, o vereador escolhido para a função de presidente, vai gerir um orçamento anual de quase R$ 35 milhões; também vai poder nomear uma horda de aliados para fortalecer suas bases políticas, além de uma penca de outros privilégios. É o segundo “trono” da cidade, que fica só atrás do “trono” do prefeito.
Este é o pano de fundo da disputa política que em menos de uma semana, fez a vereadora Neidia Pimentel (PSD) cair da presidência da Casa e retornar dias após. Essa dança da cadeira, muito divulgada ao longo da semana, reflete a importância do cargo.
Diante de toda essa balbúrdia, alguns fatos vêm sendo ignorados. Junto com os privilégios vêm inúmeras responsabilidades. Além do vereador-presidente se tornar altamente visado pela prefeitura, pela Justiça, pelos outros parlamentares, pela mídia e pela opinião pública. Ainda têm os desafetos que se multiplicam, pessoas sedentas por cargos que recebem a recusa, entre várias outras formas.
Leia também
Se lançar uma análise sobre os últimos cinco vereadores que ocuparam a presidência da Câmara da Serra, veremos que talvez, haja uma maldição escondida. De 2005 a 2006, o ex-vereador Adir Paiva era o presidente. Um parlamentar desenvolto, mas que sofreu muito desgaste, em especial em um caso que envolveu uma compra de cadeiras massageadoras. Adir não conseguiu se eleger vereador na eleição que se sucedeu e nunca mais retornou à Câmara.
De 2007 a 2008, assumiu o habilidoso Aloísio Santana. Aloísio teve problemas com a prestação de contas, aliado a um desgaste junto à opinião pública envolvendo aumento de subsídios aos vereadores. Aloísio também não se elegeu, ficou um tempo na planície política, e hoje atua nos bastidores.
De 2009 a 2012, César Nunes ocupou a presidência. Um vereador com trânsito fácil entre os parlamentares e muito jeitoso para lidar com a prefeitura. Cesar teve problemas com o Tribunal de Contas, teve que se defender na Justiça, ficou ameaçado de virar ficha suja, e não conseguiu se eleger vereador em 2016, entrou para a planície.
Em 2013, entrou o atual Secretário de Serviços, Guto Lorenzoni (ainda no PP). Guto não conseguiu dominar os vereadores, teve dificuldades para lidar com um grupo que se insurgiu contra ele, e foi rifado da presidência. Talvez uma exceção da maldição ou um mal que veio para o bem, pois Guto se manteve na tropa de choque do prefeito Audifax, se reelegeu bem em 2016 e este ano virou secretário municipal, e vem forte para a eleição de 2018, onde pode ser candidato a estadual ou federal.
Vade retro de mim praga ruim
De 2015 em diante, Neidia assumiu a presidência. A vereadora contraiu muitos desafetos para isso. Em 2017, migrou da oposição para a base de Audifax, mas sem pertencer organicamente a este grupo. Mesmo com muitas forças contrárias, Neidia se mantém na presidência.
Por outro lado, pelo menos desde o início dos anos 90, o número de vereadores da Serra que subiram na escalada política e se tornaram deputados, guardam uma similaridade. Nenhum deles foi presidente da Câmara. Sérgio Vidigal, Givaldo Viera, Sargento Valter, Wanildo Sarnáglia, Roberto Carlos, Vandinho Leite, Bruno Lamas, Jamir Malini. Todos eram vereadores, e se tornaram estaduais, mas, nenhum foi presidente da Câmara.
Tiveram outros que na época, nem vereadores foram, mas mesmo assim se tornaram deputados, é o caso de Gilson Gomes, Luiz Carlos Moreira e Edson Vargas.
Tem que se questionar, se a requisitada cadeira da presidência da Câmara é de fato um bom negócio, visto o longo prazo na carreira política. E resta a dúvida, Neidia vai ser mais uma vítima da maldição, ou irá quebrá-la, subindo na escalada política? Cenas para os próximos capítulos.

