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‘Xuxa Preta’ está viva e feliz: conheça a surpreendente história de Terezinha

Terezinha de Jesus Nascimento, aos 50 anos, é religiosa e vive numa Casa Lar, com uma vida sossegada e rodeada de cuidados. Foto: Yuri Scardini

Órfã duas vezes, moradora de rua aos 11 anos, queimada viva, espancada e estuprada. Parece história de terror, mas neste caso é uma narrativa real, de superação e tem um final feliz. ‘Xuxa Preta’, como era popularmente conhecida nos anos de 1990, morava nas ruas da Serra. Hoje, Terezinha de Jesus Nascimento, aos 50 anos, é religiosa e vive numa Casa Lar com uma vida sossegada e rodeada de cuidados.

Mas nem sempre a vida de Terezinha foi assim. Nascida na Ilha das Caieiras, em Vitória, no dia 4 de julho de 1969, a ex-moradora de rua perdeu a mãe biológica, vítima da meningite, quando ainda tinha poucos anos de vida.  Em seguida, foi criada por uma mãe adotiva e se mudou para a Serra, precisamente para o bairro Jardim Limoeiro.

No entanto, a vida pregaria uma nova peça a Terezinha: por volta de 1980, sua mãe de criação veio a óbito por conta de um câncer, fazendo com que a menina de apenas 11 anos, sozinha, fosse parar nas ruas do Parque Residencial Laranjeiras.

Terezinha viveu nessa situação por mais de vinte anos e este período foi o mais difícil de sua vida, segundo ela. Emocionada, ela contou ao TEMPO NOVO, entre um lapso de memória e outro, que sofreu todos os tipos de violência possíveis. “Passei fome, as pessoas me maltratavam muito. Os homens abusavam sexualmente de mim, cheguei a ser queimada uma vez, quando não quis ter relação com um rapaz e ele jogou álcool em meu corpo e ateou fogo”, conta Terezinha.

Ela também disse que sofreu com espancamentos, xingamentos e deboches. “Fui morar na rua porque não tive alternativa. Fui sozinha, eu e Deus andando; senti muita fome, tive medo e sobrevivi graças à ajuda de algumas pessoas e, principalmente, do restaurante Cozita, que me ajudou muito naquela época, me dando o que comer”.

Cozita era um restaurante que existia entre as décadas de 1980 e 90 próximo ao Terminal de Laranjeiras, onde Terezinha costumava dormir nas calçadas, inclusive embaixo da marquise do estabelecimento comercial.

A vida de Terezinha começou a mudar quando uma moradora do bairro Eldorado, citada por ela como Adelma, a levou para o abrigo Arco Iris, em Jacaraípe. Mas, de lá, Terezinha fugiu, voltando para as ruas; desta vez, vivendo nas vias públicas de Jacaraípe. “Eu fugi porque tinha uma mulher que queria abusar de mim sexualmente, e eu sou mulher, não queria ter relações com ela”.

Depois de um tempo, Terezinha, com a ajuda da mesma amiga, foi para outro abrigo em Jardim Tropical. Por lá, ficou pouco tempo até chegar à Casa Lar Morada 2, em Mata da Serra, onde está sob cuidados desde 2008.

Para quem viveu na região de Laranjeiras na década de 1990, conheceu Terezinha pelo apelido ‘Xuxa Preta’. Ela conta que nunca gostou do nome, mas deu autorização para a reportagem citá-la dessa maneira.

Terezinha disse que possui um pai vivo e também um irmão, mas que não tem contato e nem sabe o paradeiro deles.

Responsável pela Casa Lar, Priscila Ribeiro Lima conta que a ex-moradora de rua é portadora de transtorno mental causado por traumas e também de diabetes, doença que provocou redução auditiva e perda total da visão do olho direito.

Terezinha foi muito simpática e recebeu a reportagem do TEMPO NOVO com um sorriso no rosto. “Hoje vivo feliz aqui, sou muito bem cuidada e frequento a igreja Maranata regularmente”, disse, frisando que vive a melhor fase da sua vida.

Foto: Divulgação

Esta é a história de uma mulher negra, abandonada e que, graças a ajuda de algumas pessoas, conseguiu superar as dificuldades impostas pela vida de pobreza e violência.

 

Sobre a Casa Lar Morada 2

Casa Lar em Mata da Serra. Na foto profissionais e moradores do local. Foto: Yuri Scardini

A Casa Lar Morada 2, em Mata da Serra, existe desde 2008 e atende a dez mulheres: funciona como modalidade de residência. A coordenação do espaço fica por conta de Priscila Ribeiro Lima, que tem a ajuda de cuidadoras diariamente, além de psicóloga e assistente social.

Segundo Priscila, o espaço é mantido pela Prefeitura da Serra, por meio da Secretaria de Assistência Social, e as atendidas recebem tratamento médico e participam de diversas atividades no Centro de Atenção Psicossocial (Caps) Mestre Álvaro.

“Elas têm uma vida normal, fazem atividades culturais, físicas, vão à igreja, à praia e recebem todos os cuidados necessários para que tenham qualidade de vida”, conta Priscila.

Na Serra, existem duas casas lares: a de Mata da Serra, que atende mulheres; e a de Barcelona, que atende homens. “As pessoas que são atendidas nestes espaços possuem transtorno mental comprovado e não têm família. Todos que estão aqui também já passaram por atendimento em toda a rede municipal e vieram para cá porque foi comprovado que realmente não tinham para onde ir”.

Ana Paula Bonelli

Moradora da Serra, Ana Paula Bonelli é repórter do Tempo Novo há 25 anos. Atualmente, a jornalista escreve para diversas editorias do portal.

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